Vislumbrar uma vida perfeita sempre foi um desafio árduo, especialmente quando aqueles em quem confiamos para nos sustentar falham em nos manter de pé quando mais precisamos. O erro talvez resida em depositar nossas esperanças nos ombros alheios, pois no final das contas, somos nós mesmos quem carregamos todo o peso da nossa jornada. E foi assim que Helena sentiu-se.
― Eu vou deixá-la descansar um pouco. A senhora terá alta ainda hoje. ― disse o médico antes de sair do quarto.
O silêncio tomou conta do ambiente. Simone sentia pena de Helena, mas a dor de saber que nunca poderia ser mãe a consumia.
― Eu não sei o que fazer, Simone. ― disse Helena, tentando conter as lágrimas.
Simone suspirou e sentou-se na borda da cama.
― Apesar de tudo, você será mãe outra vez. E tem bênção melhor que essa? ― falou em tom sussurrante.
― Você acha que isso é uma bênção, Simone? ― perguntou Helena, ríspida. ― O Rogério me abandonou.
― E o que essa criança tem a ver com isso? Ela deve pagar pelos erros do pai?
― Não foi isso que eu disse.
― Então o que foi? ― perguntou Simone, incrédula.
― Essa criança veio no pior momento da minha vida. ― Helena pausou, deixando as lágrimas caírem. ― Eu não sei se serei capaz de levar essa gestação adiante.
Simone, espantada, aproximou-se e pegou nas mãos de Helena, olhando-a fixamente.
― Você não pode fazer isso. ― suplicou, com a voz embargada.
― Você tem noção de quantas vezes me anulei por causa do Rogério e do nosso casamento? E, no fim, ele me abandona para fugir com minha prima Ísis. Ele me avisou, indiretamente, mas eu preferi viver na ilusão, na zona de conforto de um casamento fracassado com um marido alcoólatra.
― E você acha que eu não anulei meus sonhos por uma carreira que, no fim, serão apenas memórias e homenagens que nem eu verei?
― Ser atriz não é o maior sonho da sua vida? ― perguntou Helena, atônita. ― Pelo menos foi isso que você mostrou para todo mundo.
― Não. Ninguém sabe o que acontece dentro de quatro paredes, ninguém mostra o que não quer. A vida não é um teto de vidro. ― Simone pausou para deixar as lágrimas caírem. ― Ser atriz faz parte de um leque de realizações, mas meu verdadeiro sonho sempre foi ser mãe. E sabe o que me dói, Helena? Ser estéril e nunca poder gerar uma criança como você pode agora.
As palavras sumiram da boca de Helena. Em momentos como esse, temos tanto a dizer, mas não podemos. Helena não pensou em nada além de puxar Simone para um abraço apertado e carinhoso.
Se alguém abrisse a porta do quarto de hospital naquele instante, pararia ao ver aquelas duas mulheres abraçadas, com rostos marcados pelas lágrimas e pelas dificuldades que a vida lhes impôs.
֍
Aníbal desceu do seu carro em frente a delegacia de polícia de Manhattan, estando extremamente apressado e apreensivo pela situação de Cesar.
Nesse percurso acabou esbarrando em alguém que o fez deixar cair sua pasta preta de documentos ao chão. De imediato Aníbal agachou-se para pegá-la, onde encontrou sues dedos nas mãos de Joseph.
Aquela altura, Aníbal tomou a atenção do mesmo, onde olhou fixamente.
― Me desculpe. ― Disse Joseph se colocando em pé com a pasta nas mãos.
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DOCE ILUSÃO
RomanceEm Nova York, Cesar é um advogado renomado, conhecido por suas causas sociais, e sócio de seu amigo Aníbal Bittencourt em um prestigioso escritório de advocacia. Sua vida parece perfeita ao lado de Heitor, com quem compartilha um casamento de 18 ano...