Depois do almoço, passamos a tarde toda deitadas nas cadeiras de praia, tomando sol e conversando sobre a vida. O céu estava azul e o sol brilhava, mas aos poucos ele foi se pondo, dando lugar a um vento frio e a algumas nuvens carregadas que começaram a se juntar no horizonte. O mar começou a ficar agitado, com ondas altas e espumantes, anunciando uma possível tempestade. Minha amiga e eu recolhemos as cadeiras e entramos na casa, antes que a chuva caísse. Fomos para a cozinha preparar tudo para a nossa noite, com direito a vinho e salgadinhos.
Logo que trancamos a casa, vestimos roupas confortáveis para relaxar. Minha amiga vestia uma camisola de seda branca, com babados delicados nas bordas e um decote discreto, era uma peça que acentuava a sua maturidade. Eu preferi um conjunto de baby doll, com um shortinho justo que realçava as minhas curvas e uma blusinha de alcinha que deixava os meus ombros à mostra. Fomos até a sala e ligamos o rádio, selecionando uma playlist de musicais pop com as nossas músicas favoritas. Em seguida, pedimos uma pizza de quatro queijos, bem quentinha e saborosa, e pegamos taças para saborearmos o vinho que havíamos comprado.
Nos acomodamos no tapete da sala, como duas adolescentes que bebiam às escondidas pela primeira vez, e começamos a conversar sobre coisas divertidas e sem importância. O tempo voou e nem nos demos conta. Depois de algumas taças, já tínhamos bebido metade da garrafa de vinho e eu me sentia mais solta e emotiva.
— Sabe, Barbie, eu quero que a minha primeira vez seja sob a luz da lua, em um lugar aberto ao som dos grilos, mas eu acho que isso não vai ser possível, porque aquele idiota do Sebastian deve estar comendo a secretária dele — eu disse quando começou a tocar a música "Just The Way You Are" do Bruno Mars. Virei a taça de vinho na boca. Eu sentia o álcool subir à minha cabeça, me deixando zonza e desanimada. Uma tristeza e uma melancolia tomaram conta de mim. Eu estava ficando bêbada e frustrada.
— ... Mas, eu não me importo, porque ele é um babaca e não me merece! Se ele não quer esse corpinho lindo aqui, tenho certeza de que outro vai querer!
Comecei a rir sem motivo, sentindo uma alegria falsa e passageira. O álcool me fazia esquecer dos meus problemas, mas também me deixava vulnerável. De repente, sem aviso, comecei a chorar. As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu não conseguia controlar o meu choro, era como se toda a dor que eu guardava dentro de mim saísse de uma vez. Eu me sentia sozinha, triste e perdida. Sebastian era o meu primeiro namorado, pelo menos oficialmente. E eu tinha feito tantos planos para quando encontrasse a minha cara metade, e agora eu via tudo resumido em uma palavra: Sacanagem!
— Amiga, é melhor você ir dormir, já está ficando bêbada — Bárbara disse, me olhando com preocupação.
— Mas está cedo! — eu resmunguei fazendo biquinho feito uma criança fazendo pirraça.
— Nem tão cedo assim, além de que estamos cansadas da viagem amanhã, vamos poder aproveitar melhor o dia.
— Mas eu preciso disso, para resolver meus problemas! — Disse pegando a garrafa de vinho e abraçando-a.
— Não! Você precisa resolver seus problemas de forma saudável e não bebendo — ela disse, tomando a garrafa de mim e depositando-a em cima da mesinha de centro.
Ela era tão serena, tão sóbria, tão equilibrada, que senti inveja. Como ela conseguia se controlar tão bem, enquanto eu me entregava aos excessos?
— Um dia! — eu disse, virando todo o conteúdo da taça na boca. — Eu vou ser como você! Capaz de beber uma taça cheia de vinho e não ficar bêbada.
Minha amiga riu, colocou sua taça em cima da mesinha, pegou o controle do som e desligou a música. Ela se levantou e caminhou até mim, me oferecendo a mão.
— Vamos, Ayara, eu vou te levar para o quarto — disse, me ajudando a levantar.
— Tá certo, Bárbara, acho que vou mesmo dar um tempo. Quem sabe amanhã o dia esteja melhor — comentei, aceitando a mão que ela me oferecia.
Eu estava tonta e enjoada. Entre pernas cambaleantes, ela me ajudou a subir os degraus para o segundo andar e seguimos até a suíte principal onde eu estava instalada. Minha amiga escolheu um quarto ao lado do meu, era pequeno, mas confortável.
Com um pouco de dificuldade, ela me colocou na cama e me deitei de barriga para cima, vendo tudo girar e o estômago enjoar ainda mais. Mantive a cabeça parada no travesseiro, para não vomitar.
— Descansa um pouco, Ayara. Amanhã é um novo dia, e quem sabe o Sebastian não some da sua cabeça, pelo menos por um tempo — sugeriu Bárbara, arrumando o cobertor sobre mim.
— Espero que sim. Obrigada, Bárbara, por estar aqui comigo — agradeci, sentindo o cansaço e a embriaguez me envolverem.
— Sempre, amiga. Durma bem. — Bárbara apagou a luz e saiu do quarto.
Eu agradeci em silêncio, sabendo que ela era a melhor amiga que alguém poderia ter. Tentei me concentrar e dormir, mas não consegui. Voltei a me sentar na cama, sentindo uma ânsia terrível no estômago. O vinho que eu tinha bebido parecia querer sair pela minha boca. Corri para o banheiro da suíte e coloquei a cabeça na privada, vomitando tudo. Lavei a boca e, com um pouco de dificuldade, caminhei de volta até a cama. Me deitei nela, em posição fetal, e olhei diretamente para as janelas, que tremiam com o forte vento marítimo que vinha do mar. Pude notar clarões rasgando o céu, e o som da chuva começando a cair, tornando a penumbra do quarto vazia e melancólica. Eu não sei explicar, mas senti uma solidão tão intensa, que meus olhos se encheram de lágrimas, e meu peito apertou ao lembrar de Sebastian junto da secretária. Como ele pôde me trair assim? Como eu pude ser tão ingênua? Será que a Barbie tinha razão, será que tudo aquilo era real, ou ele estava apenas brincando comigo, me usando para esquecer a ex noiva? Meus olhos foram ficando pesados e cansados com tantos pensamentos.
Já era tarde da noite quando acordei com o som das trovoadas estourando no céu. O barulho era ensurdecedor, e eu podia ver os relâmpagos iluminando a janela do quarto. Estava chovendo forte, e eu me sentia melhor, ainda estava tonta, mas um pouco mais sóbria. A minha boca estava seca e eu precisava de água, sentia uma sede insaciável. Fui até o mini Freezer que havia no quarto, mas não havia água. Só havia algumas garrafas de cerveja, vinho e refrigerante. Nada que me ajudasse a matar a sede. Resolvi sair do quarto para ir até a cozinha.
Saí do quarto, um pouco cambaleante, e notei que a porta do quarto da minha amiga estava fechada e ela havia apagado todas as luzes da casa, deixando acesas apenas as luzes foscas do corredor. Caminhei até o pé das escadas e quando ia descer, um clarão no céu revelou uma figura imponente passar por trás das paredes de vidro, era um vulto alto e forte, que não parecia nada amigável. Tinha a certeza de que não era o caseiro, porque ele era um senhor baixo e de coluna curvada. A chuva forte me impedia de ver melhor, mas eu senti um arrepio na espinha. Fiquei paralisada olhando para o mesmo lugar, pensando ser fruto da minha imaginação causada pelo sono, mas novamente eu vi o vulto passar, e de repente a maçaneta da porta começou a ser forçada. Meu coração deu um salto no peito, e eu fiquei ainda mais angustiada, quando outro clarão revelou outro vulto, tão alto e tão forte quanto o primeiro. Eles eram dois, e pareciam querer entrar na casa a qualquer custo.
Sem pensar duas vezes, corri para o quarto da minha amiga, batendo na porta com força. A casa estava sendo invadida, e eu não sabia o que eles queriam. Será que era um assalto? Será que eles nos fariam algum mal? Eu só esperava que a minha amiga estivesse acordada e pudesse me ouvir. Eu precisava dela, mais do que nunca.
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Entre Segredos e Paixões 1 - Raízes do Destino
RomanceAyara Arantes, herdeira de um vasto império, é obrigada a deixar seu país para viver sob a tutela de Miguel, um homem fechado e austero devido ao luto que carrega. A convivência entre eles é tensa até que Ayara começa a receber aulas particulares de...