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A aula já estava quase no fim, e eu pensava em conversar com a Ayara para esclarecer as coisas. Ela passou a aula inteira com a cabeça baixa, rabiscando alguma coisa em seu iPad, como se estivesse perdida em seus próprios pensamentos. E quando me olhava, era sem interesse, quase com desprezo. Embora eu estivesse tentando me manter calmo e sóbrio para lidar com a situação entre nós, sabia que algo estava errado, e não era apenas com relação ao beijo.

Assim que a aula terminou, alguns alunos vieram até a minha mesa para tirar algumas dúvidas, e enquanto eu falava com eles, notei que ela rapidamente juntou seu material e colocou a bolsa no ombro, como se quisesse sair da sala o mais depressa possível. Estava belíssima usando uma calça jeans que acentuava suas curvas, que eram bonitas demais para ignorar, sapatilhas e um casaco fino branco. Seus cabelos estavam soltos, caindo sobre seus ombros, e seu rosto estava levemente corado. Sua amiga Bárbara fez o mesmo, pegou seu material e cochichou alguma coisa em seu ouvido, me lançando um olhar rápido e curioso. Eu senti um certo incômodo, porque sabia que as duas eram melhores amigas e provavelmente estavam falando de mim.

Elas caminharam em direção à porta e sumiram do meu campo de visão. Eu sentia que não podia deixar aquela situação fugir do meu controle, precisava dar um jeito de falar com ela, já que desde o dia em que nos beijamos e ela sumiu da minha cobertura sem deixar rastros, ela não entendia as minhas ligações ou respondia às minhas mensagens, estava me ignorando completamente. E eu não podia conversar com ela dentro da sala de aula sobre assuntos pessoais, ainda tinham alguns alunos que se preparavam para ir embora, e outros que queriam ajuda. Eu não podia simplesmente expulsar todo mundo para ficar a sós com ela. Merda! Eu estava enlouquecendo e já começando a imaginar uma fofoca monstruosa naquela faculdade, capaz de destruir a minha reputação.

Quando finalmente o último aluno saiu da sala de aula, peguei meu material com a intenção de ir para a sala dos professores, mas no meio do caminho a vi na entrada do pátio, rodeada de amigos, conversando animadamente. Ela ria de alguma coisa que Marcos dizia, e ele por sua vez carregava a bolsa dela e seus livros, como um cavalheiro. Enquanto isso, Cadu brincava com o cabelo de Bárbara, que vez ou outra dava um tapa em sua mão, como se estivesse irritada com a brincadeira. Ayara parecia feliz e despreocupada, diferente da forma como estava na sala de aula, quando me evitava com o olhar.

Eu senti uma pontada de ciúme e de raiva, porque ela era jovem, bonita, e eu tinha a certeza de que vários outros caras eram a fim dela, e talvez ela também fosse a fim deles, não sei... E mesmo que eu confessasse que gostava de estar na companhia dela, havia um abismo entre nós, que eu não podia transpor.

Finalmente o grupinho se desfez. Marcos devolveu para ela os livros e a bolsa, com um sorriso simpático. Eles se despediram com um aceno, e ele seguiu na direção da cantina da faculdade, junto com Cadu. Ayara e a amiga caminharam na direção do estacionamento, onde aquela coisa rosa horrível, que Bárbara chamava de carro, estava estacionada. Era um Mini Cooper, todo pintado de rosa, com adesivos de flores e borboletas. Pensei que ela fosse pegar uma carona com a amiga, mas não, elas se abraçaram, e Bárbara entrou no carro, ligando o motor e retirando-se. Ayara ficou em pé, olhando para o celular, provavelmente esperando pelo motorista. E aquela era a minha chance.

Com passos longos e largos, caminhei entre os estudantes que se aglomeravam no pátio da faculdade. Meu olhar buscava por ela, a garota que me tirava o sono desde que a beijei na minha casa. Eu precisava falar com ela, saber o que estava acontecendo. Por que ela me evitava? Por que ela não respondia às minhas mensagens? Eu estava preocupado, e também confuso.

Finalmente, consegui me aproximar. Ela estava encostada em um dos muros, mexendo no celular. Seu cabelo castanho escuro caía sobre seus ombros, e seus olhos amendoados pareciam concentrados na tela do aparelho. Ela era linda, e eu não conseguia tirar os olhos dela.

Cheguei até onde ela estava e toquei em seu braço, chamando sua atenção.

— Ayara? — Eu disse, tentando soar casual.

Ela me olhou, parecendo assustada. Mas logo desviou o olhar para a tela do celular novamente.

— O que o senhor quer? — Murmurou seca, usando o tratamento formal que me irritava.

— Você foi embora da minha casa naquele dia, sem mais nem menos, e não responde mais às minhas mensagens. Eu fiquei preocupado — falei, olhando em volta, para ver se alguém prestava atenção em nós. E voltei a olhar para ela, esperando uma resposta.

— Talvez eu tivesse motivos para isso — ela resmungou, ainda sem me encarar.

Olhei novamente ao nosso redor, me certificando de que ninguém nos observava. Eu não queria que ninguém desconfiasse de que entre nós a relação aluno e professor estava comprometida.

— Você contou para alguém? Sobre... sobre o beijo — Perguntei, baixando a voz.

Finalmente, ela me olhou nos olhos. Jogou o celular dentro da bolsa e apertou seus livros contra o peito, mostrando sua irritação.

— Fica tranquilo, a sua noiva não vai ficar sabendo que o senhor me beijou às vésperas do seu casamento — resmungou, com um tom de desprezo.

O que? Eu não estava entendendo bem.

— Do que você está falando? — Perguntei, confuso.

— É isso mesmo, se queria alguém para se divertir antes de assumir um compromisso por toda a vida, escolheu a pessoa errada, porque eu não vou ficar fazendo papel de amante para você. Talvez agora eu entenda o porquê do senhor me oferecer essas aulas — ela disse, com raiva e ressentimento.

Notei que seus olhos se encheram de lágrimas e ela fazia um esforço muito grande para não chorar.

Eu realmente ainda não estava entendendo sobre o que ela dizia.

— Seja mais clara, Ayara — respondi, também ficando impaciente.

Ela me olhou, seus olhos transbordando raiva.

— Eu achei os convites e a aliança do seu casamento — disse. — Por que fez isso? Por que me beijou se já tinha uma noiva? Está querendo brincar comigo? — Perguntou, seu tom soando choroso.

Ah, então era isso!

— Você entrou no meu quarto? 

— Sim. Eu só fiquei curiosa, e acabei encontrando tudo — ela admitiu, sem se desculpar.

Assenti com a cabeça, percebendo que a conversa que teríamos seria mais profunda do que eu pensei.

— Está esperando o motorista? — Perguntei, mudando de assunto.

Ela confirmou com a cabeça e olhou para o outro lado da rua, onde o carro que a levava e buscava todos os dias deveria estar.

Enfiei a mão no bolso da calça e peguei a chave do meu carro. Estiquei na sua direção.

— Toma, me espera no meu carro, e eu prometo que vou explicar tudo, mas eu acho que aqui não é o local mais apropriado, só se certifique que ninguém te veja entrando no meu carro, é um Audi branco. Eu preciso ir à sala dos professores e já te encontro no estacionamento — disse, esperando que ela aceitasse.

Ela me olhou por um tempo, hesitante em pegar a chave do carro. Eu sabia que ela estava magoada, e que estava pensando o pior de mim. Mas eu precisava de uma chance para me explicar. Para dizer a ela que eu não a usei. Que eu não tinha uma noiva e que aquele beijo não passou de uma tolice.

Depois de alguns segundos, ela esticou a mão e pegou a chave do carro.

— Tudo bem — ela disse, com uma voz baixa. — Mas não demore.

— Eu já volto.

Ela assentiu e se afastou de mim. Eu a vi caminhar em direção ao estacionamento, onde o meu carro estava. Eu a segui com o olhar até ela sumir de vista.

Respirei fundo e me dirigi para a sala dos professores. Eu tinha que resolver algumas pendências antes de ir atrás dela. Antes de dizer a ela a verdade por trás dos convites de casamento e das alianças.

Entre Segredos e Paixões 1 - Raízes do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora