PRÓLOGO 1

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As malas já haviam sido levadas para o carro, e eu permanecia sentada na beirada da minha cama, segurando o porta-retrato do meu pai

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As malas já haviam sido levadas para o carro, e eu permanecia sentada na beirada da minha cama, segurando o porta-retrato do meu pai. A imagem dele, sorrindo com os olhos cheios de ternura, parecia congelada no tempo. Há algumas semanas, ele nos deixara, vítima de uma grave infecção respiratória causada por um cancer no esôfago. E, eu apenas uma garota de quinze anos, me via novamente sozinha no mundo.

Carlos Arantes, foi o meu pai adotivo, era um homem respeitável e conhecido como o maior investidor da Europa. Quando eu tinha apenas quatro anos, ele me adotou no Brasil e me trouxe para morar na Inglaterra. Sob seus cuidados, recebi todo o carinho e mimo que o dinheiro podia proporcionar, além de todo amor e respeito que um ser humano merece. Ele me tratava como uma princesa, e eu era muito feliz tendo ele como pai. No entanto, tudo mudou quando após uma ida ao médico para uma consulta de rotina, ele voltou para casa abatido, tentou disfarçar nos dando aquele sorriso confortável e dizendo que tinha uma saúde de ferro, mas eu percebi que ele estava preocupado. E desde então, começou a fazer reuniões secretas com advogados no escritório da casa, e quando eu o perguntava sobre isso, ele acariciava meu rosto com um sorriso gentil e reconfortante e dizia que estava deixando tudo em ordem para mim, e mencionou sobre o seu testamento.

A rapidez com que tudo aconteceu foi assustadora. Um dia ele acordou se sentindo muito mal, foi levado às pressas ao hospital e então, a notícia de seu falecimento chegou, me deixando devastada, seguida pelo enterro e pela leitura do testamento.

O advogado responsável por cuidar dos interesses de meu pai revelou que todos os seus bens seriam meus, mas com uma condição: eu deveria estar sob a tutela de uma pessoa desconhecida, alguém que papai destacou em seu testamento como um "bom homem". Medo e incerteza me dominaram, pois também ficou claro que eu teria que voltar para o Brasil e viver na casa desse estranho. Eu não entendia o que estava acontecendo e nem tinha maturidade para lidar com tudo isso, mas precisava confiar que papai nunca me deixaria desamparada. Se ele havia decidido isso, era porque sabia o que estava fazendo. Eu só precisava confiar. Infelizmente, o dia em que eu teria que deixar meu lar e mergulhar no desconhecido finalmente chegou.

Na entrada da casa, Oliver, o fiel motorista da Família Arantes, aguardava com o carro preparado para minha partida. Meu coração apertado e as lágrimas à beira de cair, eu precisava me despedir daquele lugar que um dia chamei de lar. Minha alma parecia rasgada em pedaços enquanto deixava para trás todas as memórias de um homem que me acolheu e proporcionou um lar feliz.

Desci as enormes escadas da mansão, encontrando Emily, a governanta, próxima à porta. Seu rosto pálido estava agora tingido de vermelho, as lágrimas sendo delicadamente enxugadas com um lencinho branco. A tristeza pairava no ar, transformando a casa em um espaço vazio e frio. A ausência do meu pai, que costumava espalhar alegria por onde passava, era gigante. Cada canto daquela imensa mansão carregava a dor da sua falta, pois o meu pai era um homem querido, amado por todos que o conheciam. Tratava a todos com igualdade e respeito, fossem amigos, colegas de trabalho ou empregados.

— I'm leaving, Emmy (Eu já vou indo, Emmy) — falei enquanto me aproximava. Ela me lançou um olhar carregado de tristeza, mas tentou abrir um sorriso para me motivar. 

— Go with God, dear, obey your guardian and have a great trip. We'll miss you. (Vá com Deus, querida, obedeça ao seu tutor e tenha uma ótima viagem. Sentiremos sua falta.) 

Imaginei que fosse difícil para ela também; perder meu pai, e naquele momento me ver partir de casa de uma forma tão inesperada. 

— I'll miss you too, and I'll try to be nice to him, but I can't promise. (Eu também vou sentir a falta de vocês, mas não posso prometer se boa com ele.) — Comentei, abrindo um sorriso triste.

— Come here, dear (Venha aqui, querida) — ela segurou minhas mãos. — You and your father will always be missed in this home. (Você e seu pai sempre farão falta neste lar).

Sorri com tristeza enquanto a mulher me puxava para um abraço apertado, afundando minha cabeça em seu peito robusto e sentindo que estava deixando parte de mim para trás, deixando minha família e minha história na Inglaterra.

Emily suspirou com um lamento notável em seu gesto, como se soubesse que eu não queria ir, mas não havia escolha. Quando ela abriu a grande porta de madeira da entrada para que eu pudesse passar, percebi que a temperatura negativa permitia que uma neve sutil caísse do céu, cobrindo as árvores secas, deixando tudo mais bonito, mas também mais triste e melancólico.

A simples ideia de deixar tudo o que eu conhecia e adentrar em um mundo completamente novo e desconhecido era aterrorizante. Eu não fazia ideia do que esperar, não sabia como seria a minha vida em um novo país — mesmo sendo o meu país de origem —, e em uma casa que não era a minha, sem a presença do meu querido pai.

Segurei meu cachecol com força e respirei fundo, tentando conter as lágrimas que insistiam em escapar dos meus olhos. Eu sabia que não tinha escolha, que precisava confiar nesse homem que o papai designou para cuidar de mim, mas a incerteza me consumia. E assim, com o coração partido, eu me despedi de Emily, que me deu um último abraço e me desejou boa sorte. Entrei no carro, que já estava com o motor ligado, e olhei pela janela vendo o motorista tomar as ruas e a mansão se afastar, até desaparecer de vista.


Entre Segredos e Paixões 1 - Raízes do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora