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Me levantei da carteira devagar, sentindo o peso dos risos infantis das minhas colegas de turma ecoarem em meus ouvidos

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Me levantei da carteira devagar, sentindo o peso dos risos infantis das minhas colegas de turma ecoarem em meus ouvidos. Era sempre assim, todos viviam rindo de alguma coisa boba que eu dizia, como se fosse motivo suficiente para debocharem de mim.

O professor Sebastian Miller saiu à minha frente, caminhando pelos corredores com passos rápidos e firmes. Ele era um gato, alto e forte, com os cabelos castanhos penteados para trás e a barba bem-feita. Vestia um conjunto social de calça e sapato pretos e uma camisa social branca que estava dobrada até os cotovelos, deixando à mostra os seus braços musculosos, apesar de tudo isso, não era muito amigável com os alunos, e mantinha uma postura séria e distante.

Eu e metade da turma tínhamos uma pequena queda por ele, mas era certo que ele nunca nos notaria. Não que eu fosse feia ou coisa do tipo, muito pelo contrário, me achava bonita, tinha uma pele dourada quase da cor do chocolate que ganhei com minhas idas frequentes à praia, que contrastava com os meus cabelos lisos na tonalidade âmbar, que caíam até quase a bunda, com um franjão caindo nos meus olhos amendoados castanhos escuros expressivos. Meu nariz era pequeno e arrebitado e meus lábios eram carnudos e rosados. Meu corpo era bem... era em forma, cintura fina, quadris largos e seios grandes, mas todos esses atributos pareciam insignificantes para o nosso querido professor, que nunca fugia da ética profissional e nos olhava apenas o necessário com a expressão austera e fechada, sem demonstrar nenhum interesse ou emoção.

Atravessamos o corredor de salas e entramos na biblioteca era uma sala enorme, repleta de estantes preenchidas com livros acadêmicos, e mesas redondas cercadas por cadeiras estrategicamente espalhadas. Naquele momento, estava completamente deserta, intensificando a tensão no ar. Ele apontou para uma mesa, puxou uma cadeira, convidando-me com gestos a me sentar. Obedeci, unindo as mãos no colo como uma criança prestes a ser repreendida, enquanto o encarava em silêncio.

Ele se acomodou na cadeira, inclinando-se para a frente e unindo os punhos sobre a mesa. Molhou os lábios e me encarou com seus deslumbrantes olhos verde esmeralda, cílios longos e escuros, quase hipnotizantes.

— Olha, menina... eu preciso ser franco com você — começou ele, com a voz levemente rouca e pouco autoritária. — Suas notas estão péssimas, se continuar assim, vou reprová-la.

Curvei os ombros e suspirei cansada. Por que minha vida tinha que ser tão difícil? Eu não poderia simplesmente ser como o restante das pessoas que fazem faculdade? Entender tudo o que estava sendo falado em aula, tirar boas notas, me destacar na turma, receber elogios e uma nota sublinhada com caneta azul?

— Tenho ciência disso, professor — respondi abaixando o olhar, enquanto ele ainda me encarava.

— Ótimo! Mas não a trouxe aqui apenas para te dizer o óbvio. Suas notas tiveram quedas significativas, e como seu mentor, me vejo na obrigação de saber se você está com algum problema que queira me contar. Talvez eu possa ajudar de alguma maneira — ele cruzou os braços sobre a mesa inclinando-se para frente esperando que eu desabafasse.

Ah!!! Ele queria saber mais sobre mim? Talvez seria um bom momento para desabafar e... quem sabe nós criaríamos um vínculo, nos tornaríamos bons e admiráveis amigos, e... de uma grande amizade, bah! Um romance de livros, e...

— Hum-Rum — ele pigarreou, me fazendo voltar do devaneio. Caramba, comecei a imaginar coisa e acabei me esquecendo da realidade. — Você tem alguma coisa para me dizer?

— É que eu sou forçada a estudar economia. Detesto essa droga desse curso! — Confessei, irritada.

Ele confirmou com a cabeça, ficou reflexivo por um tempo e começou a falar deixando o semblante mais amigável.

— Entendo. Mas você não é maior de idade, não pode decidir qual curso fazer? — Ele perguntou, curioso.

— Sim, mas a minha maior idade não serve de nada enquanto eu estiver sob a tutela daquele cretino... — estiquei as palmas na mesa e olhei para elas, com os olhos começando a ficar marejados eu podia até ouvir uma música triste saindo de algum lugar da biblioteca. — Meu tutor é quem controla a minha vida, ele acha que fazer esse curso é o melhor para que eu aprenda a administrar a minha herança, mas eu não tenho cabeça para isso!

— Veja bem, Ayara — ele suspirou, começando um sermão. — É compreensível que por não gostar desse curso você se sinta mal e não tenha interesse, mas se você se esforçasse um pouco, poderia ver que a economia não é tão ruim assim. Você quase sempre chega atrasada, e não presta atenção no mínimo do que eu estou ensinando, vez ou outra te pego dando mais atenção às suas redes sociais no momento da aula, ou em algum assunto aleatório com outra colega. Assim fica difícil aprender, não acha? — Ele questionou, com um tom de reprovação.

— Mas o senhor não entende, professor! — Exclamei, com lágrimas nos olhos. — Eu odeio esse curso, eu odeio o meu tutor, eu odeio a minha vida! Eu só queria fazer o que eu gosto! It's so unfair. (É tão injusto).

Enxuguei as lágrimas com as costas das mãos, e ao levantar o olhar, encontrei os olhos dele sobre mim, transbordando uma empatia que beirava a pena. Que cena patética eu havia protagonizado! Uma onda de constrangimento me invadiu por ter me deixado levar pelas emoções na frente dele. Era a última coisa que eu queria - que ele testemunhasse minha fragilidade e vulnerabilidade, que sempre lutei tanto para esconder sob a capa da menina mimada e inabalável.

— Desculpe, Teacher — pedi, com a voz embargada, enquanto ele me olhava com uma expressão mista de compreensão e frustração.

Ele esticou a mão e gentilmente pegou a minha mão, que estava trêmula sobre a mesa. Sua mão era grande e macia, e eu pude sentir o calor que emanava dela. Ele me olhou nos olhos, com um olhar compreensivo, que me fez sentir um arrepio na espinha.

— Eu entendo que você não goste do curso, Ayara, mas se já chegou até aqui, só precisa se esforçar mais um pouco; prestar mais atenção nas aulas; deixar de lado as distrações e se dedicar aos estudos — advertiu, com um tom firme, mas gentil.

— Mas é injusto! — Exclamei, soluçando. — Por que eu tenho que estudar algo que eu detesto só porque meu tutor acha que é o melhor para mim? Eu mereço ter o direito de escolher o que eu quero estudar e o que quero fazer da minha vida! Mas aquele idiota parece não entender isso!

O professor voltou a me olhar com compaixão.

— Eu entendo como você se sente, Ayara. A vida nem sempre é justa, e às vezes temos que fazer coisas que não gostamos por causa das circunstâncias. Mas isso não significa que você não possa lutar por aquilo que você quer — levantou a sobrancelha de forma encorajadora. — Agora se recomponha, volte para a sala de aula e pense na nossa conversa.

Concordando com suas palavras, eu me ergui da cadeira e retornei à sala. Enquanto caminhava, refleti sobre o que foi dito e percebi que, apesar dos desafios, precisava encontrar uma maneira de lidar com a situação. Talvez não pudesse mudar o fato de ter que estudar economia, mas certamente poderia me dedicar para melhorar minhas notas e, finalmente, me ver livre do meu tutor.

Entre Segredos e Paixões 1 - Raízes do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora