— Bárbara, acorda! Bárbara, acorda! Bárbara, acorda! — Abri os olhos vendo o rosto de Ayara sobre mim e suas mãos me sacudindo.
— O que foi? — perguntei, sonolenta e assustada.
— Estão invadindo a casa — ela disse, desesperada.
— O quê? — perguntei, tentando assimilar o que ela dizia.
— Amiga! Tem dois homens altos e fortes lá embaixo tentando abrir a porta — ela explicou.
Ela saiu de cima de mim e começou a andar de um lado para outro no quarto.
Ah, soltei um suspiro frustrado.
— Amiga, você deve estar bêbada ainda, vendo coisas!
— Não, amiga, eu não estou — ela disse, segurando os cabelos. Eu acordei querendo beber água e quando cheguei no pé da escada vi dois homens. Eles estão tentando invadir a casa... Barbie, acredita em mim, por favor — suplicou.
Me levantei da cama, acendi a luz e fui até a janela. Quando a abri, uma enxurrada de chuva entrou no quarto, molhando minha camisola de seda branca. Então, notei dois homens em pé em frente à porta, mexendo nos vasinhos de plantas da varanda. Usavam uma capa de chuva preta que nos impedia de ver quem eram. Meu coração deu um salto no peito. Então era verdade.
Fechei a janela rapidamente e, quando olhei para Ayara, ela mantinha seus olhos arregalados fixos em mim.
— A gente precisa ligar para a polícia — eu disse, procurando meu celular no meio do edredom.
— Os nossos celulares ficaram na sala, lembra? Não podemos descer até lá senão vamos dar de cara com eles — ela disse. — Aí, meu Deus, Barbie, será que são estupradores? Ladrões? Assassinos psicopatas? — ela disse, meio desesperada, chorando e fazendo cena.
— Ayara, se acalma! — eu disse também, começando a ficar nervosa. — Ficar desesperada não vai ajudar em nada, nós precisamos pensar no que fazer.
— Já sei? — Ela disse, pegando a minha mão. — O armário de vassouras, lembra? O Miguel sempre dizia que podíamos nos esconder ali, caso acontecesse alguma coisa ruim. Podemos descer pelas escadas dos fundos.
Assenti, vendo-a me puxar. Corremos para o final do corredor, onde havia uma escada que dava acesso aos fundos da casa. Descemos os degraus com cuidado, tentando não fazer barulho. Chegamos ao armário de vassouras, que ficava ao lado da cozinha. Entramos nele, no meio de coisas antigas e empoeiradas, e trancamos a porta. Minha amiga estava com tanto medo que pegou uma vassoura, alegando que se os invasores tentassem algo, ela iria bater neles.
Ficamos em silêncio, ouvindo o som da chuva caindo junto dos relâmpagos. O clima estava tenso, e eu sentia o meu coração batendo forte. E de repente ouvimos vozes roucas masculinas, vindas da sala. Eles tinham entrado na casa, e estavam procurando por nós.
— Elas andaram bebendo — um deles disse.
— Será que foram dormir? Os celulares estão aqui — o outro respondeu.
Minha amiga pegou a minha mão e sussurrou no meu ouvido.
— Se eles vierem para cá, eu vou acertar um deles com a vassoura e a gente sai correndo.
E como ela havia previsto, ouvimos passos na cozinha e a luz se acendeu. Não dava para ver nada, porque o armário era todo fechado, sem nenhuma fresta de luz. Ficamos imóveis, ouvindo a nossa respiração ofegante. Ouvimos uma das vozes dizer:
— Provavelmente fizeram farra a noite toda e foram dormir.
A luz voltou a apagar e os passos foram se afastando. Minha amiga aproveitou a deixa, abriu a porta do armário e avançou para cima de um deles com o cabo de vassoura, acertando bem em cheio na cabeça. Tentei correr, mas um deles me segurou pela cintura e me pressionou contra a parede segurando meu braço, enquanto minha amiga assustada gritava socorro, enquanto tinha seu cabelo puxado pelo outro!
Foi aí que um deles acendeu as luzes e conseguimos enxergar com clareza.
— Miguel? — eu disse, vendo-o me segurar.
— Bárbara? O que vocês estão fazendo? — ele disse, me soltando finalmente.
— Ayara, para com isso! — Miguel disse, olhando para ela segurando o cabo de vassoura como uma espada, enquanto Sebastian com uma mão segurava o local da pancada e com a outra segurava o cabelo dela que permanecia paralisada com os olhos arregalados, com as pernas abertas como se estivesse se preparando para correr.
— Sebastian? — Ela disse, olhando para ele com os olhos arregalados.
— Ai! — ele gemeu em resposta.
Tapei a boca com a mão.
— Desculpa, Sebastian, eu achei que você fosse um ladrão, estuprador. Sei lá! Pensamos que a casa estava sendo invadida! — Ayara disse, soltando o cabo de vassoura.
— E você achou que ia matar um ladrão assim? — Sebastian apontou para a vassoura.
— Gente, o que está acontecendo aqui? — eu perguntei, confusa.
— Nós viemos fazer uma surpresa para vocês, mas parece que vocês não gostaram muito — Miguel resmungou, irritado.
— Uma surpresa? Vocês quase nos mataram de susto! — eu retruquei, indignada.
— Foi mal, a gente não conseguiu avisar antes porque vocês não atendem o telefone! — Sebastian resmungou também.
— E precisavam entrar na casa desse jeito? Era só bater na porta, vocês sequer pensaram em usar a campainha? — retruquei.
Sebastian trocou um olhar com Miguel e ficaram em silêncio. Como pensei. Homens!
— Minha amiga está repleta de razão! Vocês viram como está chovendo lá fora? E esses relâmpagos? E esses barulhos? Parecia que a casa ia cair! E vocês ainda chegam desse jeito! — Ayara reclamou também, com um pouco de exagero.
— Calma, Ayara, não foi para tanto — Miguel rebateu, tentando acalmá-la. — Eu quem deu a ideia de usar a chave reserva, porque tinha medo de vocês não abrirem a porta, por pirraça, e nos deixarem tomando chuva lá fora.
— Não foi para tanto? Você não viu como ela me atacou com a vassoura? Ela quase me deixou careca! — Sebastian entrou na conversa mostrando o seu cabelo bagunçado.
— Ah, para de drama, Sebastian, e bem que você mereceu para deixar de ser um cafajeste! Afinal, o que você está fazendo aqui? — Ayara perguntou, colocando as mãos na cintura e encarando ele. — Não me diz que você vai voltar a me perseguir, Miguel?
— Foi eu quem deu a ideia de vir — Sebastian assumiu a responsabilidade. — Ayara, eu vim, porque precisamos conversar, você sabe!
— Quer saber de uma coisa? Eu não quero falar com você! — Ela disse, dando as costas e correu em direção às escadas.
Sebastian a viu se afastar, mas ao invés de ir atrás dela imediatamente, se sentou na banqueta da ilha da cozinha e abaixou a cabeça pressionando o local da pancada, provavelmente sentindo dor.
— Você precisa colocar gelo nisso, professor — eu disse, indo até a geladeira a fim de pegar gelo.
— Sem formalidade, Bárbara, pode me chamar de Sebastian.
Depois de colocar o gelo em um pano de prato, dei para ele colocar em cima da pancada que havia se transformado em um galo enorme. Quando se sentiu melhor, se levantou da ilha e foi atrás da Ayara, me deixando a sós com Miguel.
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Entre Segredos e Paixões 1 - Raízes do Destino
RomanceAyara Arantes, herdeira de um vasto império, é obrigada a deixar seu país para viver sob a tutela de Miguel, um homem fechado e austero devido ao luto que carrega. A convivência entre eles é tensa até que Ayara começa a receber aulas particulares de...