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Pulei da cama assim que o dia clareou, com uma mistura de ansiedade e esperança. Queria aproveitar que Bárbara vinha à minha casa para tentar falar com ela. Há dias eu mandava mensagens e ligava, mas ela só respondia com o silêncio. Sua foto no aplicativo de mensagem havia sido removida, sinal de que ela tinha me bloqueado, sem nem mesmo me dar a chance de me explicar.

Fui até o banheiro da minha suíte e fiz a minha higiene. No closet, coloquei um short tactel e uma regata, pretendia malhar assim que resolvesse todas as pendências, e depois lavar o meu carro. Coisas que homens fazem quando estão de folga e querem se distrair.

Saí do quarto em passos lentos e notei que a porta do quarto da Ayara permanecia fechada. Aquela preguiçosa ainda estava dormindo, depois de passar a noite toda no celular, aposto! Ela estava estranha, e aquela ideia de ir para a casa de praia sozinha não me soou muito bem. Algo estava acontecendo, eu pressentia.

Espiei o quarto de Ana Clara, e ela também estava dormindo como um anjinho.

Desci as escadas e fui até a cozinha, onde montei a mesa para o café da manhã, já que aos finais de semana Marta não trabalhava. Coloquei pães, queijos, frutas, sucos e passei um café bem forte na cafeteira. Me servi de uma xícara e caminhei até a varanda da casa, onde fiquei por alguns minutos apreciando a vista do jardim.

O sol começava a nascer fraco, mas brilhante, iluminando as gotas de orvalho da grama. O ar estava fresco e uma brisa suave soprava. Os pássaros cantavam e as flores exalavam o seu perfume. Tudo em harmonia, tudo em paz. Beberiquei a xícara do meu café, pensando na minha esposa, que adorava tomar café da manhã na varanda só para ter a vista do sol nascendo. Ela era linda, alegre, divertida, tudo o que um homem poderia desejar. Ela era o meu primeiro amor, e eu nunca a esqueceria. Ainda sentia tanta falta dela; na verdade, sentia que nunca seria capaz de esquecê-la.

Demorei alguns minutos olhando aquela vista até ouvir o som da campainha tocar. Abri um sorriso, era ela, só podia ser a Bárbara. Eu não ia deixá-la ir embora sem antes tentar me explicar. Queria pedir perdão, abraçá-la, beijá-la e, quem sabe, reconquistá-la. Queria fazê-la entender que só queria proteger sua imagem quando a deixei sozinha no banheiro do meu escritório e levei Patrícia para almoçar. Queria que ela entendesse que eu sentia sua falta mais do que tudo e que Patrícia era apenas uma amiga.

Caminhei apressado pelos corredores até atravessar a sala. Não queria que o som da campainha tocando acordasse as meninas. Com um pouco de sorte, Ayara estaria dormindo e eu poderia ter um pouco mais de privacidade para conversar com a Bárbara sem que ela visse.

Cheguei até a porta e a abri, ansioso para ver o rosto da Bárbara e me desculpar com ela. Mas, para minha surpresa e decepção, o sorriso que se revelava não era o de Bárbara, era o de Patrícia.

Ela estava de pé, com os cabelos soltos, que caíam sobre os ombros com ondas douradas nas pontas. Seu corpo estava envolvido em um vestido longo azul, que tinha um decote generoso e uma fenda lateral. Ela carregava uma bolsa de alça longa feita de palha, com alguns pompons coloridos.

— Bom dia, Miguel. Desculpe vir assim sem avisar, é que estava passando por aqui e me lembrei de você. Na verdade, queria falar com você, é algo importante — ela disse, com uma voz doce e nervosa.

Abri um sorriso sem graça, disfarçando a decepção por não ser Bárbara.

— Claro. Entre — gesticulei para que ela entrasse.

Eu não podia ser rude com ela; ela era da família e tinha me ajudado muito com Ana Clara quando fiquei viúvo, e sentia que tinha com ela uma dívida de gratidão.

Caminhamos juntos até o sofá e eu coloquei a xícara de café que estava segurando em cima da mesinha de centro. Me sentei ao lado dela e tentei parecer interessado no que ela tinha para me dizer.

— Então, do que precisa falar comigo de tão importante? — perguntei, com um toque de humor, tentando quebrar o gelo.

Vi ela abrir um sorriso meigo e senti um frio na barriga. Ela estava com um brilho nos olhos que me deixou preocupado e uma cara de quem ia se declarar. Eu não queria ouvir isso, nem agora, nem nunca!

— Então... — ela começou, hesitante. — Já tem um tempo que queria te falar isso, mas... — Ela mordeu o lábio e baixou a cabeça.

Ela parecia tímida e nervosa.

Fixei meus olhos nos dela, e ela desviou o olhar. Ela não conseguia me encarar, e eu não conseguia adivinhar o que ela ia dizer. Mas eu tinha uma ideia, e não era boa.

— Eu sei que a Elisabeth era minha amiga, mas você sabe que eu sempre nutri sentimentos por você, muito além da nossa amizade, ou do fato de eu ser a madrinha da sua filha... não sabe? — ela disse, meio hesitante, meio esperançosa, levantando o olhar e me fitando com intensidade.

— Sim — confirmei, sem graça, coçando a cabeça.

Eu não sabia o que dizer, nem como reagir a isso. Só queria que ela mudasse de assunto e fosse embora.

— Miguel, é que... eu, eu sempre... — ela tentava dizer, mas não conseguia.

Definitivamente, não queria tocar naquele assunto, não naquele momento, em que a Bárbara poderia chegar a qualquer hora. Mas algo aconteceu. Enquanto eu buscava palavras para dizer a ela que não podia corresponder aos seus sentimentos, ela avançou e me beijou. Senti seus lábios tocarem nos meus levemente; eram macios e doces, mas não senti o que sentia ao beijar os lábios da Bárbara. Não senti paixão, nem desejo.

Foi aí que vi uma movimentação na porta, e quando olhei, Bárbara estava de pé, me olhando fixamente. Ela usava um vestido listrado colorido que combinava com o seu tom de pele e um chapéu de praia na cabeça. Ela usava um óculos escuro que tirou lentamente enquanto nos olhava com surpresa e choque, como se não estivesse acreditando no que via. Bárbara parecia magoada, e eu senti um aperto no peito enorme ao vê-la me olhar daquela forma, com decepção. Eu queria correr até ela e me explicar ali mesmo, mas como eu podia se Patrícia estava ali e ninguém podia saber sobre nós?

Patrícia pareceu perceber a presença de outra pessoa, olhou para trás com um sorriso sem graça no rosto.

— Olá, Bárbara — ela disse, tentando agir como se nada tivesse acontecido.

— Oi — Bárbara respondeu, nos olhando com um olhar frio e magoado, e fechou sua expressão quando me encarou.

Comecei a sentir o desespero tomar conta de mim. Como eu ia explicar a Bárbara aquela cena que ela acabara de ver? Pensei em me levantar, mas Ayara passou por mim, como se nada tivesse acontecido. Ela estava usando um short jeans rasgado, só com a parte de cima de um biquíni rosa choque e óculos escuros espelhados, carregando uma mala enorme, como se fosse passar um mês de férias em Acapulco. Ela era tão exagerada!

— Oi, Paty. Bom dia! Miguel, até logo! Já estamos indo. O que precisar falar com a minha amiga, você pode falar por telefone, porque queremos ir logo para aproveitar o pouco trânsito da manhã — disse, e saiu porta afora, junto com a amiga.

Ah, merda! Pensei. Agora mesmo é que Bárbara nunca vai me perdoar!

Entre Segredos e Paixões 1 - Raízes do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora