Quatro ✈︎

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Pisquei várias vezes, me recostando na cadeira.

- Ele quer que eu organize? Tudo isso?

- Isso.

Meu colega sorriu para mim, como se estivesse me dando uma notícia boa.

- E que você apresente também. De nós cinco, você é a opção mais atraente.

Piscando bem devagar, vi seus lábios se voltarem para baixo, provavelmente em reação à expressão em meu rosto.
Atraente. Respirando fundo, tentei me manter firme.

- Bem, fico lisonjeada de ser considerada a opção mais atraente - menti, tentando não me concentrar em meu sangue que fervia. - Mas não tenho tempo nem experiência para organizar algo assim.

- Mas o Jeff insistiu - rebateu Kabir. - E é importante para a InTech ter alguém como você representando a empresa.

Eu devia ter perguntado o que alguém como eu queria dizer, mas imaginei que não gostaria de ouvir a resposta. Minha garganta ficou seca na hora.

- Mas qualquer um de nós não alcançaria o mesmo objetivo? Será que não é melhor que alguém com experiência em tarefas de relações públicas organize um evento tão importante?

Kabir desviou o olhar, sem responder a minha pergunta.

- Jeff disse que você daria conta da organização. Que não precisamos gastar verba extra contratando alguém. Além do mais, você é...

Dando a impressão de que preferiria estar em qualquer outro lugar, Kabir fez uma pausa antes de acrescentar:

- Sociável. Desenvolta.

Era o sonho de qualquer pessoa ser chamada pelo chefe de desenvolta.
Cerrando o punho sob a mesa, tentei ao máximo esconder o turbilhão interno.

- Claro - falei, entredentes. - Mas eu também tenho coisas a fazer. Também tenho projetos em andamento. Por que esse... evento é mais importante que meus próprios clientes e minhas demandas atuais?

Fiquei em silêncio por um bom tempo, esperando o apoio dos colegas.
Qualquer tipo de apoio.
E... nada, apenas o silêncio carregado que sempre acontecia nesse tipo de situação.

Eu me ajeitei na cadeira, sentindo o rosto quente de frustração.

- Kabir - falei, com a maior calma que consegui -, sei que Jeff pode ter sugerido que eu ficasse responsável por isso, mas vocês entendem que não faz sentido, certo? Eu... nem saberia por onde começar.

Não foi para isso que me contrataram, nem era para isso que me pagavam.
Mas ninguém admitiria, mesmo que esse apoio fosse fazer a diferença para mim. Porque ficar ao meu lado traria à tona o real motivo pelo qual eu tinha sido incumbida da tarefa.

- Já estou cobrindo duas das melhores pessoas da minha equipe, a Linda e a Patricia. Já não tenho horas suficientes na semana.

Eu odiava estar ali reclamando e pedindo por - qualquer - compreensão, mas o que mais eu poderia fazer?
Gerald bufou, o que fez com que minha cabeça virasse em sua direção.

- Bem, essa é a desvantagem de contratar mulheres na casa dos trinta anos.

Eu ri, sem querer acreditar que ele tinha acabado de dizer isso.
Mas ele tinha. Abri a boca, mas Héctor me impediu de dizer qualquer coisa.

- Certo, e que tal se nós ajudarmos? - sugeriu Héctor, com uma expressão conformada. - Talvez todo mundo possa contribuir com alguma coisa.

Eu amava aquele homem, mas seu coração mole e sua falta de combatividade não estavam ajudando muito. Ele estava apenas evitando o verdadeiro problema.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora