Trinta e três ✈︎

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– Padrinho?

Eu me remexia no assento, a inquietação substituindo o calor de antes. Talvez porque aquele tópico não despertava os melhores sentimentos em mim, ou quem sabe eu só estivesse agitada pelo que tinha acabado de acontecer. Qualquer que fosse o motivo, prendi a respiração enquanto esperava pela resposta.

– Billy. – respondeu Becky, mantendo os olhos nos meus. – Seu ex e irmão do noivo.

Assenti uma vez, incapaz de fazer mais que isso.

– Você não contou muito mais do que isso. Tem mais alguma coisa que eu deva saber?

Ela ficou me observando em silêncio, quase com expectativa, e daria mesmo para dizer que eu tinha sua atenção total. Exatamente como ela afirmara, só que dessa vez não parecia conversinha mole. Senti muita necessidade de me abrir e contar tudo, mas hesitei.

– Não. É só isso. Ele é meu ex e irmão mais velho do Heng. Nam e Heng se conheceram por nossa causa, quando começamos a namorar. E… Isso é tudo.

Como ultimamente eu parecia ter adquirido o dom de tomar decisões burras, não contei a história inteira.

Em minha defesa, encarar o catalisador da minha atual situação já parecia difícil o bastante. Eu não queria perder tempo falando de Billy porque isso significaria relembrar um monte de coisas que envolviam escolhas ruins e muita mágoa.

Então, não, não dava para conversar casualmente sobre aquilo por mais que fosse crucial para a cena que estávamos prestes a representar.

Parte de mim se recusava a reconhecer o quanto eu me sentiria minúscula ao mostrar aquela parte de mim. Mesmo sabendo que eu estava mentindo para ela. Mais uma vez. Uma mentira por omissão, é claro, mas que tinha o potencial de se voltar contra mim mais tarde. Como qualquer mentira.

– Você pode confiar em mim. – disse ela com a voz suave.

Talvez eu pudesse mesmo. Mas isso não tornava aquilo mais fácil. Aquela parte da minha vida tinha ficado trancada à chave por muito tempo; tanto tempo que é provável que o cadeado tenha enferrujado e não seja mais possível abri-lo. Isso explicaria como eu tinha chegado àquele lugar.

Em algum ponto sobre o Atlântico, sentada ao lado de uma mulher com quem eu tinha dificuldade de compartilhar até o mesmo ar sem querer atirar alguma coisa naquela cabeça dura, mas que de alguma forma acabou sendo a única em Nova York capaz de encenar o papel de namorada inventada.

Mantive o olhar baixo, em qualquer ponto que não fosse o rosto dela. Eu não queria nenhuma pista do que Becky pudesse estar pensando naquele momento. Achava que não me faria bem.

– Qual é o nome da minha avó?

– Sarocha.

Becky disse meu nome em um tom que soou muito como pena. Odiei aquilo.

– Errado. – rebati. – O nome da minha vó não é Sarocha, Becky. Você precisa saber o nome da minha única avó que ainda está viva.

Eu estava desviando do assunto principal, mas isso não mudava os fatos. Ela precisava mesmo saber o nome da minha avó.

– Qual é o nome da minha avó? – pressionei.

Becky apoiou a cabeça no encosto de pelúcia, fechando os olhos por um segundo.

– O nome da sua vó é Malee, e ela não fala uma palavra de inglês, mas nem por isso devo acreditar que seja inofensiva. Se ela por acaso empurrar alguma comida na minha direção, devo ficar quieta e comer.

As palavras rolavam da língua de Becky como se ela tivesse passado meses praticando aquele discurso.

– Impressionante.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora