Cinquenta e três ✈︎

483 86 18
                                    

Meu corpo queria se virar, gritava para que minha cabeça deixasse. Mas eu sabia que, se fizesse isso, o que Becky veria em meu rosto - sabe-se lá o quê - mudaria tudo, absolutamente tudo entre nós.

Eu... droga. Essa mulher. Ela ficava demonstrando o quanto era perfeita. Revelando tantas partes bonitas de si que me deixavam tonta e querendo mais.

Mas eu ainda me sentia como se estivesse à beira de um penhasco, olhando para um oceano. Eu teria coragem de pular?

- Eu me apaixonei pelo Billy no segundo ano de faculdade. - falei sem me virar.

Não arriscaria uma queda livre. Não totalmente.

- Eu tinha dezenove anos. Ele era meu professor de física. Era mais jovem que os outros professores, então chamava atenção. Era popular entre os alunos... principalmente entre as alunas. No início foi só uma paixãozinha boba. Eu ficava ansiosa pelas aulas dele. Talvez me dedicasse mais ao escolher uma roupa e sentava na primeira fileira. Mas eu não era a única. Quase todas as garotas, e também alguns caras, se encantaram com a covinha em seu rosto e a confiança com que ele andava pela sala, mesmo que a disciplina dele fosse uma das mais difíceis.

Becky continuou se dedicando à tensão nos músculos que se estendiam por meu pescoço e meus ombros. Permaneceu em silêncio, e era quase como se - à exceção de seus dedos - também estivesse imóvel.

- Então imagina a surpresa quando comecei a perceber que ele me observava um pouquinho mais do que aos outros alunos. Ou que a covinha aparecia um pouco mais quando era para mim que ele olhava.

Meus olhos se fecharam quando as mãos de Becky desceram, viajando pelas minhas costas.

- No decorrer daquele ano, a coisa foi se desenvolvendo até o ponto de trocarmos alguns toques inocentes entre as aulas ou quando eu ia tirar dúvidas na sala dele. Era muito... muito excitante, aquilo tudo. Era quase como uma injeção de ânimo, sabe? Ele fazia com que eu me sentisse especial, como se não fosse só mais uma aluna atrás dele.

Ouvi minha voz ficando cada vez mais baixa, perdida naquela lembrança, então tentei recuperar o tom.

- Enfim, nós só começamos a namorar depois que terminei os dois semestres da disciplina dele. A namorar oficialmente, publicamente. Não dentro do campus ou nada assim, mas fora dele nós saíamos juntos como qualquer outro casal. Ele apresentou o Heng à Nam, e os dois se apaixonaram loucamente com apenas um olhar.

Um sorriso verdadeiro apareceu em meus lábios ao pensar no instante em que Nam e Heng se olharam; parecia que os dois estavam esperando por aquele momento. Como se um estivesse esperando conscientemente pelo outro.

As pernas de Becky se moveram, me aninhando ainda mais em seu colo. Ou talvez eu é que estivesse me curvando cada vez mais. Eu não sabia, mas não reclamaria nem me afastaria.

- E eu estava apaixonada. Depois de um ano sonhando com uma coisa que eu não podia ter, esperando, acabei ficando cega pela alegria de finalmente poder ficar com ele. Chamá-lo de meu.

Seus dedos pararam por um instante, como se estivessem hesitando antes do próximo movimento, mas logo retomaram a ação.

- Durou alguns meses. Então, ouvi o primeiro sussurro, o primeiro rumor feio e venenoso que obscureceu toda aquela felicidade. E, um após o outro, muitos rumores foram surgindo. Sussurros viraram comentários em voz alta e aquilo foi se espalhando pelos corredores do campus. Depois vieram as postagens no Facebook, as threads no Twitter. Nunca direcionados a mim, mas sempre sobre mim. Pelo menos no início.

Levei os joelhos ao peito e abracei-os.

- "A piranha que dorme com os professores. É claro que ela vai se formar com nota máxima. Foi assim que ela passou em física quando mais da metade dos alunos reprovou. Ela trepou com ele e vai trepar com todos os outros até conseguir o diploma."

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora