O processo de desembarcar, cruzar a alfândega e pegar as malas foi meio como aqueles sonhos estranhos em que tudo em volta parece confuso e irreal, mas parte de nós, lá no fundinho da mente, sabe que não é de verdade.
Só que, daquela vez, era.
O tum, tum, tum da pulsação martelando alto em meus ouvidos era a prova cabal disso.
E ainda assim, por mais que uma parte de mim repetisse que eu logo acordaria e que meu coração gritasse que eu já estava acordada e que a situação estava mesmo acontecendo, no instante em que avistei a porta do desembarque, meu corpo inteiro paralisou.
As rodinhas da minha mala derraparam no chão quando estaquei no lugar. Com a respiração presa na garganta, vi a porta automática abrir e fechar, deixando as pessoas à nossa frente saírem.
Olhei para Becky, que andava alguns passos à frente, não mais ao meu lado. Minha mala cheia demais pendurada em seu ombro de novo.
- Becky. - resmunguei, o tum, tum, tum ficando cada vez mais alto. - Não vou conseguir.
Com a sensação de estar com os pulmões cheios de cimento, levei a mão ao peito e suspirei.
- Aí, Deus. Ai, meu Deus.
Como eu havia deixado aquilo chegar tão longe? O que eu faria se a coisa toda fosse por água abaixo? E se eu piorasse ainda mais a situação?
Eu estava louca. Não: eu estava sendo burra mesmo. Quis socar minha própria cara. Talvez isso me fizesse cair na real.
Vasculhei o saguão em desespero, provavelmente em busca de uma rota de fuga. Não dava para ver nada além das portas que nos separavam dos meus pais e engoliam um passageiro após o outro.
- Não posso... - resmunguei, sem reconhecer minha própria voz.- Não
consigo fazer isso, Becky. Simplesmente não consigo sair e mentir para a minha família inteira. Eu... Isso não vai dar certo. Eles vão descobrir e eu vou fazer papel de idiota. O papel da idiota que eu sou porque...Becky tocou meu queixo, levantando meu rosto para encontrar seu olhar. O castanho em seus olhos brilhou sob a luz fluorescente que iluminava o terminal, atraindo toda a minha atenção.
- Ei... Calma.
Incapaz de pronunciar absolutamente nada sem perder as estribeiras, assenti devagar. Becky continuou segurando meu queixo.
- Você não é uma idiota. - disse, olhando em meus olhos.
Fechei os olhos por um instante, sem querer enxergar qualquer que fosse o sentimento nos olhos dela porque sabia que aquilo me faria perder o controle de vez.
- Não consigo. - sussurrei.
- Sarocha, deixa de ser ridícula. - disse ela, soando mais firme.
Ao contrário do toque suave, o comando saiu brusco. Insensível, considerando que Becky se dirigia a uma mulher prestes a surtar.
Alguma coisa em suas palavras, no entanto, me obrigaram - me permitiram, na verdade - respirar fundo pela primeira vez nos últimos minutos. Inspirei, soltei o ar.
O tempo todo, Becky ficou olhando nos meus olhos com algo que deveria ter me deixado muito ansiosa, mas que aos poucos foi me trazendo de volta.
- Nós vamos conseguir. - disse ela, confiante.
Nós.
Aquela palavrinha simples de três letras de algum jeito soou um pouco mais alta que as demais. E então, como se ela já esperasse que eu estivesse preparada para ouvir, Becky soltou o golpe mortal.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma Farsa de Amor na Tailândia
RomanceUma viagem à Tailândia, a Mulher mais irritante do mundo e três dias para convencer todo mundo de que vocês estão realmente apaixonadas. Em outras palavras, um plano que nunca vai dar certo... ⚠Essa História não me pertence. Apenas uma Adaptação⚠ To...