Quinze ✈︎

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Eu não ia entrar em pânico. Não.

Meu apartamento estava uma zona de guerra, mas eu estava tranquila. A explosão de roupas? Problema nenhum.

Observei meu reflexo no espelho enorme que ficava em uma das paredes do meu loft, o vestido que prometi que seria o último que eu experimentaria. Não que eu não tivesse nada para vestir. Meu problema era muito mais simples.

A raiz do dilema – naquele momento a maior dor de cabeça do mês, e considerando tudo o que estava acontecendo isso queria dizer muita coisa – era que eu não sabia para que ocasião eu estava me vestindo.

“Esteja pronta às sete. Em ponto. Vestido longo formal de preferência.”

Por que eu não pressionara Becky para dar mais detalhes?

Não fazia ideia.

A não ser pelo fato de que, infelizmente, aquele era um erro muito comum. Era assim que eu fazia as coisas, sem pensar. Era esse o motivo pelo qual, de alguma forma, eu tinha dado um nó na minha vida que eu não sabia como desatar.

Prova número um: a mentira.
Prova número dois: o ponto a que a mentira tinha me levado.

Em outras palavras, o trato que eu tinha feito com alguém de quem eu jamais, nem em meus sonhos mais loucos – sonhos não, pesadelos – imaginei precisar. Ou que precisasse de mim. Becky Armstrong.

– Louca – murmurei baixinho.

Abri o zíper de mais um vestido que eu nem sequer sabia dizer se era mesmo formal.

– Eu fiquei louca. Eu perdi a porra da cabeça.

Joguei o vestido em cima da cama com o restante das opções descartadas e fui atrás de um roupão. Eu precisava de todo o conforto naquele momento, então teria que ser o rosa fofinho. Não tinha outro jeito. Era isso ou me encher de biscoito.

Observando o estado em que meu apartamento se encontrava, massageei as têmporas. O fato de não haver paredes separando a sala do quarto e da cozinha era algo que eu amava. Algo que via como uma vantagem de morar em um loft, mesmo sendo pequeno, já que eu morava no Brooklyn.

Mas, analisando a bagunça que eu tinha feito, quase odiei não morar em um lugar mais espaçoso. Algum com paredes que me impedissem de destruir o apartamento inteiro.

Havia roupas, sapatos e bolsas por toda parte, na cama, no sofá, nas cadeiras, no chão, na mesinha de centro. Nada tinha sido poupado.

O ambiente geralmente arrumado, decorado com tanta dedicação em tons de branco e creme com alguns toques hippie-chics aqui e ali – como o tapete maravilhoso que tinha custado mais do que eu jamais seria capaz de admitir – lembrava mais um campo de batalha fashion do que um lar.

Tive vontade de gritar.
Apertando ainda mais o cordão do roupão, peguei o celular em cima da cômoda.

Eram cinco horas, portanto duas horas antes do horário marcado em ponto, e eu estava perdida. Sem roupa. Porque eu não tinha nenhum vestido que parecesse formal. Porque eu era burra. Porque eu não sabia para que estava me vestindo e não tinha perguntado.

Eu nem sequer tinha o número de Becky para mandar uma mensagem de emergência e uns emojis hostis que deixassem bem clara a minha frustração.

Como nunca senti prazer em confraternizar com o inimigo, não tinha precisado do número dela.
Até aquele momento, aparentemente.

Joguei o celular em cima da pilha de vestidos descartados e fui até o espaço confortável que era a sala de estar. Meu notebook repousava em cima da mesinha de centro que eu tinha comprado no brechó semanas antes.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora