Sessenta e nove ✈︎

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Superaríamos aquilo. Eu ajudaria Becky a superar aquilo.

Nossos olhares se encontraram.

– Becky? Estou ao seu lado agora. Vou cuidar de você.

Ela soltou um suspiro profundo e lento, como se alguém tivesse tirado o peso do mundo inteiro de cima de seus ombros.

– Mas saiba que, se eu soubesse que seu pai estava doente, eu jamais teria deixado que você fosse para a Tailândia comigo. Por que você não me contou quando falou sobre ele, Becky? Sei que você não me deve explicações, mas me explica? Quero entender melhor.

– Porque tudo… mudou.

Ela engoliu em seco, e seu olhar pareceu perdido.

– Faz um ano que ele está lutando contra o câncer. Que ironia, hein? Primeiro minha mãe, e agora… Bem, o fato é que até alguns dias atrás, eu pretendia ficar longe. Deixar as coisas como estavam entre a gente. Até quando voltei para cá há algumas semanas.

– Você voltou?

– Sim, depois que minha promoção foi anunciada. Foi por isso que não tive tempo de conversar com você sobre o nosso trato.

Não percebi que Becky tinha tirado uns dias na época, mas o trabalho estava uma loucura, então acho que eu estava distraída.

Agora tudo fazia sentido.

– Eu ia conversar com você em algum momento. Eu ia dar um jeito.

– Isso não importa agora, amor. – falei, com toda a sinceridade.

Ela soltou um suspiro profundo.

– Vim até Seattle, mas não consegui conversar com ele. Não consegui admitir para mim mesma, nem mostrar a ele que eu ainda me importava, não depois de ele ter se afastado de mim anos atrás. Quando ele foi o pai que eu já tinha perdido.

Meus dedos traçavam círculos logo acima do coração.

– O que mudou então?

Ela soltou o ar, de um jeito trêmulo e doloroso.

– Tudo. Eu… De algum jeito acreditei que você fosse minha, e de repente não era mais. E por mais que eu estivesse decidida a não deixar você desistir, eu vi em seus olhos. Você já tinha desistido de nós. Você acreditava na sua decisão.

Uma sombra encobriu seu rosto, e como por instinto me aproximei e beijei o canto de seus lábios, fazendo aquela escuridão temporária se dissipar.

– A possiblidade de perder você começou a se concretizar na minha cabeça. E eu… Ah, Freen… Eu sei que não é a mesma coisa, eu sei. Mas naquele momento finalmente entendi o quanto foi difícil para ele perder minha mãe. O quanto ele devia estar perdido diante da realidade de que ela não voltaria. Quantas decisões impensadas ele deve ter tomado. Isso não justifica o fato de ele ter se afastado de mim, mas eu também tenho minha parcela de culpa. Eu estava tão perdida na minha própria cabeça que deixei ele agir como agiu. E deixei que a gente levasse isso adiante durante anos.

– Não é culpa de nenhum de vocês dois, Becky. Não somos programados para perder as pessoas que amamos; não tem jeito certo ou errado de viver um luto.

Minha mão acariciou seu peito, se acomodando em sua clavícula.

– A gente dá nosso melhor, mesmo quando, com alguma frequência, nosso melhor não é o bastante. Se culpar agora não vai mudar o passado, sabe? Só vai te roubar a energia que você deveria estar gastando no presente. E olha só onde você está agora. Aqui. Não é tarde demais.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora