Sessenta e oito ✈︎

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Não foi o fato de ela ter me chamado de Freen, e não Sarocha.

Foi a angústia em sua voz – representada pelo aspecto derrotado, o cabelo desgrenhado, as olheiras, a roupa amarrotada que denunciava que não era trocada havia dias – que me fez avançar.

Minhas pernas correram como nunca pelo corredor que nos separava. Na direção dela, de seus braços. Como ela tinha pedido que eu fizesse. E, quando a alcancei, me joguei neles. Entrelacei meu corpo no dela.

Não era adequado. Não era a hora nem o lugar, e ela já tinha tanto peso nos ombros. Tínhamos muito o que conversar, mas tudo ficaria bem. Tive certeza disso assim que ela me abraçou. Ela me levantou do chão, me apertou em seu peito, me segurou em seus braços.

Enterrei o rosto em seu pescoço, murmurando:

– Estou aqui. Estou aqui. Vim correndo assim que eu soube. Eu confio em você. Eu te amo.

Eu esperava que não fosse tarde demais. E ela não parava de repetir meu nome.

– Freen… Amor… Você está mesmo aqui?

Becky falou com uma voz baixa e fraca, como quem não acreditava que era eu em seus braços. Que eu finalmente tinha corrido para ela como devia ter feito dias antes. Não. Como devia ter feito há uma eternidade.

Becky deu alguns passos para trás, voltando a sentar comigo ainda nos braços, meu corpo aninhado em seu colo, e sua mão em minha nuca.

– Sinto muito, Becky. – sussurrei com o rosto entre seu ombro e sua mandíbula. – Por tudo. Pelo seu pai e por não estar aqui, ao seu lado, antes. Como ele está? Você esteve com ele?

Senti Becky engolir em seco.

– Ele está…

Ela balançou a cabeça.

– Eu o vi, mas ele ficou desacordado todo esse tempo. Eu…

Ela fez uma pausa, parecia exausta.

– Você está mesmo aqui, amor? – repetiu, me abraçando mais forte. – Ou é minha imaginação brincando comigo? Eu não durmo há… nem sei quantos dias. Dois? Três?

– Estou aqui. Juro que estou.

Levantei a cabeça e me virei, para segurar seu rosto, para olhar bem para aquele rosto que tentei tanto desprezar e que agora eu amava tanto.

– Vou cuidar de você.

Ela fechou os olhos, e ouvi um som sufocado sair de sua garganta.

– Eu te amo, Becky. Você não deve ficar sozinha… nunca. E sou eu quem deve estar ao seu lado. Aqui. Segurando sua mão.

Ela ficou de olhos fechados, a mandíbula contraída.

– Me deixa fazer isso. Me deixa provar que confio em você e que posso reconquistar sua confiança. Que sou aquela que deve estar ao seu lado neste momento e durante o tempo que você permitir.

– Você quer fazer isso?

– Quero. – respondi rápido. – Quero, quero muito. É claro que sim. – repeti. – Eu preciso – sussurrei; não confiava na minha voz. – Me deixa ficar ao seu lado. Cuidar de você.

Ela abriu os olhos e nossos olhares se cruzaram. Depois de um bom tempo, um sorriso doloroso surgiu em seus lábios.

– Você me deixa louca, Freen. Acho que você não entende ainda até que ponto.

Uma de suas mãos agarrou meu pulso enquanto eu ainda segurava seu rosto desesperadamente. Eu estava preparada para lutar. Estava preparada para implorar se fosse necessário.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora