Quarenta e dois ✈︎

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Não rastejar para baixo da mesa revelava-se uma tarefa muito difícil.

Se Nam não parasse imediatamente o interrogatório Freenbecky, eu não teria escolha e seria obrigada a fazer exatamente isso.

Ou, então, meu último recurso seria nocautear a noiva com uma das bandejas metálicas que continham a variedade de espetinhos que beliscávamos. Seria um desperdício de comida e estragaria a despedida de solteiro-barra-solteira dela, mas nada iria me impedir.

Nam era uma mulher forte, se recuperaria a tempo para o casamento.

Estávamos em um dos bares - Casa das sidras - mais frequentados da minha cidade, rodeados pela conversa alta característica e pelo cheiro azedo de sidra - a típica da região, de maçã - derramada.

Por todo o norte da Tailândia era possível encontrar esse tipo de estabelecimento em cada esquina de cada cidade. As pessoas se reuniam em grupos de todos os tamanhos e idades. Algumas em volta de mesas altas, como nós - noiva, noivo, padrinho, Becky e eu. Outras estavam sentadas para jantar e havia ainda algumas junto ao balcão, conversando animadamente com os garçons.

Respirei lenta e profundamente, tentando me acalmar e organizar os pensamentos a fim de driblar a pergunta derradeira de Nam.

- Ah, qual é? Deve ter mais alguma coisa nessa história de como vocês se conheceram.

Os olhos de Nam brilhavam de curiosidade, saltando de mim para minha namorada de mentirinha, que por sua vez estava perto o bastante de mim para roubar boa parte da minha atenção.

- Vocês estão se fazendo de difíceis, Freen.

- Essa é a história toda, eu juro. - Soltando um suspiro, me concentrei em minhas mãos, que brincavam com um copo vazio. - Becky foi contratada pela InTech e foi assim que nos conhecemos. O que mais você quer saber?

- Quero os detalhes que você não me contou.

Percebi que minha irmã ia começar a choramingar, daquele jeito irritante e insistente que sempre conseguia convencer as pessoas a dar a ela o que quer que fosse. Eu mesma tinha sido vítima disso, muitas vezes.

Ela inclinou a cabeça.

- Olha, se rolou um tesão à primeira vista e aí vocês começaram a se pegar e depois a namorar, tudo bem. Não precisa ficar com vergonha. Isso explicaria os boatos que estão circulando sobre uma certa cama quebrada...

Arregalei os olhos, boquiaberta.

- Charo é mais rápida do que eu pensava. - resmunguei.

Senti Becky se mexer ao meu lado, diminuindo a já pouca distância entre nossos braços, mas não virei para olhar para ela, e minha irmã continuou:

- Não sou a mamãe, Freen. Pode me contar.

Minha irmã deu várias piscadinhas tentando me convencer, e ouvi Heng pigarrear.

- Ou compartilhar com o grupo... tanto faz - disse ela, revirando os olhos para o noivo. - Vamos. Estamos ouvindo. Vocês se pegaram primeiro? Quantas vezes antes de começarem a sair oficialmente?

Billy, que estava quieto demais para alguém que deveria estar se divertindo, soltou um suspiro alto.

- Nam, acho que não tem necessidade nenhuma de Freen compartilhar isso com o grupo.

Meu olhar virou na direção dele, que estava inexpressivo.

- Obrigada, Billy. - respondeu Nam entredentes. - Mas vou deixar que a minha irmã decida se quer ou não compartilhar suas escapadinhas sexuais com a mesa.

Meu Deus, Nam tinha mesmo usado o termo escapadinhas sexuais?

Ao ouvir a mudança no tom de Nam, Heng colocou o braço sobre seus ombros e a puxou para perto. Reparei que ela relaxou imediatamente, deixando de lado o que eu sabia serem anos de animosidade contida contra o irmão do noivo.

Soltando um suspiro leve, senti uma pontada de culpa.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora