Vinte e dois ✈︎

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- Por último, mas não menos importante, Rebecca Armstrong. Senhoras e senhores, vamos começar com mil e quinhentos, e lembrem-se - disse Angela, de olhos arregalados e rindo. - Ah, acho que nem preciso estimular vocês a dar lances dizendo que esta é a última solteira da noite, certo?

Olhando ao redor, descobri por quê. Mais de dez pessoas já estavam com o braço no ar.

- Estou amando a dedicação de vocês. - continuou Angela com um sorriso malicioso. - Mil e quinhentos para a dama de vermelho.

Virando, localizei a dama de vermelho envolvida-com-a-causa.

Ela estava na primeira fila e parecia uns vinte anos mais velha do que eu. E, embora eu não quisesse ser preconceituosa ou superficial, só de olhar para ela consegui imaginar o quanto suas doações seriam generosas.

Meu olhar cruzou com o de Becky muito rapidamente. O sorriso tinha desaparecido, sua expressão estava rígida e vazia outra vez. Senti uma pontada de decepção que eu não tinha tempo para analisar.

Eu tinha uma missão e estava fracassando. Pela segunda vez.

Me preparando, soltei todo o ar. Eu não podia me distrair com algo tão maravilhosamente surpreendente, mas inútil, como Becky ser capaz de rir e sorrir.

- Mil e setecentos? - anunciou Angela, e levantei a mão para dar um lance tarde demais. - Para a dama de vermelho.

A Dama de Vermelho - junto com outras cinco ou seis mãos - foi mais rápida que eu.

Uma olhada rápida para os ombros tensos de Becky me mostrou que ela estava tão infeliz quanto eu novamente.

Endireitei os ombros, me concentrando em Angela e em suas próximas palavras.

- Maravilha. - disse ela no microfone. - Vamos aumentar isso, senhoras e senhores. A Sra. Armstrong é, afinal, muito popular. Que tal mil e novecen...

Minha mão disparou no ar, de olho na Dama de Vermelho, que foi mais rápida do que eu. De novo. Angela riu e apontou mais uma vez para a mulher, reconhecendo seu lance. Para meu choque e surpresa, a Dama de Vermelho virou na minha direção com um sorriso presunçoso no rosto.

Meus olhos se estreitaram. Ah, não. Não se tratava mais de caridade, a coisa tinha ido para o pessoal.

Angela anunciou a próxima quantia, e disparei a mão para o alto com uma velocidade impressionante, a ponto de quase distender um músculo, mas as palavras de Angela compensaram possíveis lesões.

- Para a adorável dama de preto. - disse ela, sorrindo atrás do pedestal.

Retribuí o sorriso, sentindo uma queimação estranha no estômago, acompanhando a do ombro. O próximo lance foi chamado, e foi meu mais uma vez.

Rá! Toma essa, Dama de Vermelho.

Como se tivesse me ouvido, a mulher virou a cabeça. Os olhos muito estreitos, os lábios formando um biquinho. A mulher jogou o cabelo loiro, em sinal de desprezo. Naquele momento eu soube que estava certa ao imaginar que a coisa tinha ido para o pessoal.

Aquela mulher queria vencer, mas eu não ia deixar que ela ficasse com a minha Becky... Minha não, me corrigi. Só Becky. Eu não ia deixar que ela ficasse com Becky.

A chamada para o lance seguinte veio, e antes mesmo que as palavras de Angela saíssem, já era meu.

A Dama de Vermelho me lançou um olhar que poderia ter congelado o sol em um dia quente de verão nova-iorquino, e fiquei tentada a mostrar a língua. Percebendo que isso seria absolutamente inadequado, me limitei a um sorriso malicioso.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora