Vinte e sete ✈︎

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– Você quer deitar? – perguntou ela, em um tom áspero.

– Não, estou bem.

Eu queria que minha voz transmitisse a força que eu não estava sentindo. Becky franziu as sobrancelhas.

– Você parece tão irritada.

Era um comentário que eu provavelmente deveria ter guardado para mim, mas considerei que, dadas as circunstâncias, eu não podia ser exigente demais com o que saía da minha boca.

– Por que você está irritada?

A cara feia se intensificou, e ela mudou de posição, endireitando as costas. Vi quando tirou alguma coisa do bolso.

– Quando foi a última vez que você comeu, Sarocha?

– No almoço? Eu acho. – respondi, com uma careta. – Talvez estivesse mais para um brunch, porque não tive tempo de tomar café da manhã, então comi alguma coisa às onze.

A mão dela congelou no ar à minha frente, me permitido ver o que ela estava segurando. Alguma coisa embrulhada em papel-manteiga.

– Meu Deus, Sarocha.

Ela me lançou um olhar que faria qualquer outra pessoa se encolher. Um olhar que definitivamente seria útil no novo cargo.

Mas, mesmo que meu tanque estivesse totalmente vazio, eu ainda era uma Chankimha

– Eu estou bem, Sra. Robô!

– Não está, não. – respondeu ela, irritada.

Então, com muito cuidado, colocou em meu colo o que eu já sabia ser uma barrinha de granola caseira deliciosa de Becky Armstrong.

– Você desmaiou, Sarocha. Está bem longe de estar bem. Coma.

– Obrigada. Mas já estou melhor.

Olhei para baixo, reencontrando o lanchinho que começava a ficar familiar. Com mãos trêmulas, peguei a barrinha e desembrulhei meio sem jeito. Hesitei. Por algum motivo meu estômago estava reclamando.

– Você sempre carrega essas barrinhas?

– Coma, por favor.

Era muito estranho o modo como aquele pedido soava ameaçador.

– Meu Deus! - Dei uma mordida. Em seguida, falei com a boca cheia, porque quem se importa? Ela tinha acabado de me pegar literalmente do chão, de lábios brancos, suando e quase desmaiada. – Eu já disse que estou bem.

– Não – vociferou ela. – Você está tonta, isso sim.

Franzi a testa, querendo ficar chateada, mas tive que concordar. Embora ela não precisasse saber disso.

– Mulher teimosa. – resmungou baixinho.

Parei de mastigar, tentando levantar e sair da sala. Ela me impediu, colocando as mãos em meus ombros com muita delicadeza.

– Acho melhor você não testar a minha paciência.

A maldita cara amarrada estava de volta para se vingar. Desisti ao sentir o aperto suave e deixei meu corpo cair de volta no sofá.

– Coma a barrinha, Sarocha. Não é nem de longe suficiente, mas vai ajudar por enquanto.

Sentindo o fantasma de suas mãos em meus ombros, estremeci.

– Estou comendo. Não precisa ficar mandando.

Desviei o olhar e voltei a mastigar, tentando não pensar no quanto eu queria aquelas mãos tocando minha pele de novo. Ou naqueles braços compridos e grandes me abraçando. Eu precisava do consolo. Meu corpo parecia estar retesado havia muito tempo, todo meu ser gelado, os músculos sobrecarregados.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora