Trinta e um ✈︎

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Becky nunca se atrasava. Ela não estava programada para esse tipo de comportamento descuidado.

Eu sabia disso porque, havia quase dois anos, eu vinha tentando chegar dolorosamente mais cedo do que ela a todos os compromissos que nossos calendários tinham em comum.

O que só poderia significar uma coisa: ela não viria.

Tinha voltado a si e percebido o quanto nosso plano era ridículo.

Meu plano, com o qual ela tinha concordado.

Ou tinha sido o contrário?

Àquela altura eu já não sabia mais.

Não que importasse se ela não viesse.
Porque essa era a única explicação razoável para o fato de eu estar no meio do terminal de embarque, embaixo do painel enorme que informava o status e o horário de todos os voos, sentindo um suor frio escorrer pelas costas e sem ninguém ao meu lado.

Com certeza não a ranzinza de olhos castanhos que deveria estar ali naquele momento. Olhando ao meu redor, tentei me acostumar com a ideia.

Estou sozinha.

Fui varrida por uma onda de pânico. E de outra coisa também.

Uma que parecia muito a mágoa que a gente sente diante de uma traição. O que na verdade não fazia sentido. No que dizia respeito a Becky, eu não tinha o direito de me sentir traída, ou abandonada. Também não queria essas emoções deixando minha cabeça ainda mais ferrada. Ou meu coração. Até porque eu entendia perfeitamente por que ela teria dado para trás.

Aquilo tudo era uma loucura. Não fazia sentido nenhum. Então, por que dar cabo de um plano que só me beneficiava?

Meus olhos pousaram na mala grande e na de mão aos meus pés enquanto eu tentava afastar o que estava sentindo.

Você está bem. Ignore essa sensação idiota e péssima que você nem deveria estar sentindo e vá despachar as malas.

A última coisa que eu queria fazer era embarcar sozinha, mas teria que ser. Eu teria que encarar minha família - e Billy e a noiva dele e o passado que eu tinha deixado para trás - e as consequências da minha mentira de cabeça erguida. E faria isso sozinha, por mais que eu tivesse me permitido, nas últimas quarenta e oito horas, acreditar que teria alguém ao meu lado.

Como eu deixei isso acontecer?
Como Becky tinha conseguido se tornar indispensável na minha vida?

Apoiando as mãos no quadril, prometi a mim mesma esperar só mais um minuto. E, para completar, jurei a mim mesma que ficaria bem.

A pressão acumulada nos olhos? Nervosismo.

Ir para casa sempre me deixava igualmente feliz e com remorso. Sempre me fazia sentir toda a nostalgia e a dor que vinham com as lembranças. Era por isso que eu não ia à Tailândia com frequência.

Mas não importava. Eu era uma mulher adulta e, antes de Becky, o plano era fazer aquilo sozinha. E era isso o que eu ia fazer.

Trêmula, soltei o ar, esvaziando a cabeça e o peito de qualquer pensamento e emoção passageira, tirei as mãos do quadril e peguei as malas.

Tudo bem. Hora de ir. O inferno não espera...

- Sarocha.

De trás de mim veio a voz que eu achei que jamais ficaria feliz de ouvir. Não só feliz, mas também aliviada, alegre, exultante.

Fechei os olhos e me permiti um momento para sentir o turbilhão inadequado de alegria que, sem sucesso, eu tentava afastar.

Becky está aqui. Ela veio.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora