Trinta e seis ✈︎

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Fiquei com as mãos na cintura, um pouco perdida na paleta de azuis e verdes que pintavam o cenário à minha frente.

Dando uma olhada nas pessoas reunidas para a Copa do Casamento, uma pequena parte de mim se perguntou o que se passava na cabeça de Becky. Qual tinha sido sua primeira impressão do lugar em que cresci? Da minha gente?

As apresentações tinham saído melhores que o esperado. Se os tailandeses eram famosos por alguma coisa, essa coisa era a hospitalidade. Ninguém pareceu desconfiar que ela era minha namorada de mentirinha. Nada mais se deu além da estranheza de ter uma farang – como chamamos os turistas – entre eles, obrigando todos a usar seu inglês enferrujado.

Apenas a geração mais jovem das famílias da noiva e do noivo, seus parceiros e alguns amigos mais íntimos estavam presentes, exceto nosso primo bárbaro e de espírito livre, Lucas, que ninguém sabia por onde andava.

E o padrinho – também conhecido como Billy, meu ex, meu primeiro e único relacionamento, o homem que minha família achava que eu nunca tinha esquecido. Ele também não tinha chegado.

– Aqui está minha irmã favorita.

A voz da minha irmã soou um segundo antes de eu ser atacada pelas costas.

– Sou sua única irmã, besta. É claro que sou a favorita.

Coloquei as mãos em seus braços, que estavam apoiados em meus ombros.

– Esqueça esse detalhe técnico. Você continua sendo a minha favorita.

Mostrar a língua foi a minha resposta.

Se não fosse pela cor dos cabelos não teríamos qualquer semelhança. Enquanto  minha irmã era uma peça curinga, sempre se encaixando de primeira em qualquer ambiente, para mim sempre foi mais difícil encontrar meu lugar.

De alguma forma, sempre me faltava ou sobrava algum detalhezinho, o que me obrigava a continuar procurando um espaço no qual eu pudesse me encaixar melhor. Sendo assim, passei a vida em busca de um lugar para chamar de lar.

A Tailândia não cumpria esse papel, mas Nova York também não, por mais que eu tivesse Rosé e uma carreira da qual me orgulhava. A cidade sempre me pareceu um pouco… solitária. Incompleta.

– O-oi? Terra chamando a Freen. – disse ela, se aproximando para me puxar pelo braço. – O que deu em você hoje? Por que está se escondendo aqui?

Mas eu de fato estava me escondendo, não estava? Ainda que só por uns minutinhos.

Minha irmã me conhecia bem demais, então eu estava sendo ainda mais cuidadosa com ela quando estava perto de Becky. Se existia alguém capaz de desvendar aquela farsa, esse alguém era Nam.

– Não estou me escondendo. – respondi, dando de ombros. – Só queria um minutinho  de paz longe da noiva neurótica.  Ouvi dizer que ela quase arrancou a cabeça do noivo porque ele comprou o sapato errado.

Dei um passo para trás e me virei, ficando de frente para ela.

– Ouviu certo.

Minha irmã e a noiva do momento colocou a mão no peito, fingindo consternação.

– Eu deixei ele escolher uma coisa, Freen. Uma. E aí Heng me chega em casa todo feliz e orgulhoso com um sapato que me fez questionar meu gosto por homens, juro pra você.

Nam balançou a cabeça.

– Quase tive que desconvidar o noivo do meu casamento.

– Nosso casamento, você quer dizer. – corrigi, rindo.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora