Trinta ✈︎

513 86 26
                                    

Horas restantes para embarcar no voo com destino ao maldito casamento: vinte e quatro.

Nível de ansiedade: alcançando grau de emergência.

Plano de contingência: brownies de chocolate triplo. Um caminhão deles.

O dia anterior havia deixado claro que eu tinha sido uma idiota em relação à minha saúde. E embora eu soubesse que me encher de chocolate era o extremo oposto… bem, eu era uma mulher de extremos.

E foi exatamente isso que me levou à Madison Avenue. Mais especificamente, ao único lugar em Nova York que tinha o poder de acalmar a besta furiosa que era minha ansiedade naquele momento.

– Pra viagem, Freen? – perguntou Sally de trás do balcão. – Aliás, como está a Rosé? Ela não vem?

– Queria que ela tivesse vindo, mas hoje sou só eu.

Na noite anterior, eu havia passado quase duas horas ao telefone com ela.
Não tinha sido fácil explicar a situação na qual eu estava prestes a embarcar, e talvez ela tenha soltado gritinhos – desnecessários – e me irritado com aquela coisa dos olhares entre mim e Becky, algo que ela obviamente tinha imaginado.

Em todo caso, era bom ter minha melhor amiga no meu time de novo. Ainda que o meu time fosse o Time Decepção. Seria muito importante ter Rosé me esperando com um sorriso cheio de compreensão e meio litro de sorvete, de que eu obviamente precisaria, quando eu voltasse dessa porcaria de casamento.

– E, não, obrigada. Vou comer o brownie aqui mesmo.

Fiz uma pausa, reconsiderando a escolha.

– Os brownies… quero dois, por favor, Sally. Acho que posso me dar esse direito hoje. Tirei folga, tenho o dia todo para descansar e relaxar.

Ela pesou os grãos de café com muita precisão.

– Nossa, você deve estar com muita saudade de mim então, se decidiu vir aqui mesmo no dia de folga. – comentou ela, sorrindo para mim por cima do ombro. – Não que eu culpe você por isso. Quem não sentiria saudade de mim, não é mesmo?

Eu ri.

– É claro que senti saudade. Você é minha barista favorita no mundo inteiro.

Meus olhos rastreavam seus movimentos; eu já estava salivando.

– Hum, está dizendo isso só porque estou em posse do seu pedido, né? Mas continue, por favor.

Eu estava pronta para não só admitir isso, como também para pedir Sally em casamento se isso significasse suprimento infinito de café grátis.

Então, vi seu olhar desviar para um ponto atrás de mim enquanto ela apertava os botões que faziam a magia cafeinada acontecer.

Vi os olhos de Sally brilharem.

– Bom dia. – disse ela a quem quer que estivesse atrás de mim.

Sally então me lançou um olhar malicioso antes de voltar a se concentrar no cliente novo.

– O de sempre? Expresso duplo, sem açúcar?

Ela fez uma pausa, e senti o recém-chegado  parar bem atrás de mim. Franzi a testa porque algo naquele pedido parecia muito familiar. Preto, amargo, sem alma, exatamente como…

– Saindo, Becky.

De olhos arregalados, continuei olhando para a frente, mas senti a coluna enrijecer na hora.

– Obrigada, Sally.

Aquela voz. Pertencia a mulher que embarcaria em um avião comigo no dia seguinte. A mulher que eu apresentaria à família como minha querida namorada de mentirinha.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora