Quarenta ✈︎

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Embora parecesse impossível, a partida estava quase acabando, e os times estavam empatados.

Era de se imaginar que jogar contra um grupo de descamisados seria uma distração, mas grande parte era da família e eu já tinha visto tudo o que podia ver de um deles, Billy. Restavam apenas dois, o que reduzia  consideravelmente minha distração.

Um estava prestes a se casar com a minha irmã.

Só sobrava a outra.

A mulher que em geral eu conseguia ignorar quando estávamos cumprindo nossos papéis no mundo real. Mas o papel de namorada que eu cumpria ali me dava o direito de ficar boquiaberta. E Becky, como namorada, pelo jeito tinha o direito de parecer uma modelo em um ensaio sobre esportes para alguma revista.

Porque era exatamente isso que Becky estava parecendo ali suada, de top esportivo e correndo pelo gramado atrás da bola.

E foi exatamente onde meus olhos muito superficiais e idiotas se mantiveram o tempo todo, seguindo Becky como dois insetos burros atraídos por uma luz irresistível.

E, como insetos, meus olhos não tinham qualquer instinto de autopreservação.

No fim do dia, as imagens estariam gravadas a fogo nas retinas e nunca mais eu conseguiria me livrar delas.
Dane-se, eu já me sentia mesmo um inseto carbonizado.

O suor escorria pelas minhas costas e eu estava pegando fogo embaixo daquele sol. A fome parecia ter se transformado em inanição, e, por mais que eu tentasse me concentrar no jogo, minha atenção sempre se voltava para as pernas longas de Becky correndo para lá e para cá. Meu sangue borbulhava sempre que nossos olhares se encontravam.

Então, sim, eu estava me sentindo nojenta, incomodada e com calor. Não necessariamente nessa ordem.

Mas, ainda assim, sabe-se lá como, o Time da Noiva tinha conseguido fazer tantos gols quanto o do Noivo.

Surpreendente, mas como saber o que tinha rolado se eu tinha estado ocupada demais cobiçando minha namorada de mentirinha perfeita e reluzente?

A voz de Heng ressoou pelo campo, até onde eu estava.

– Vamos! Temos que ganhar! – disse ele, cada palavra acompanhada por uma palma agressiva. – Cinco minutos! Só temos cinco minutos, gente! Precisamos ganhar essa merda!

Quando a equipe se reuniu do outro lado do campo, percebi que Billy se aproximou de Heng e Becky, fazendo um gesto e apontando para o nosso gol.

– Socorro. – disse Nam de onde estava, no gol, alguns metros atrás de mim. – Acho que estão mudando de estratégia. Isso não parece nem um pouco bom, irmãzinha.

Quando observei a movimentação e a troca de posições, as suspeitas dela se confirmaram.

– Estamos ferradas, Nam. – falei, sem me virar. – Eles estão colocando Becky na frente. Vão usar ela como atacante.

Minha irmã veio até o meu lado e estreitou os olhos, observando nossos oponentes.

– Merda. Ela vai atacar? – perguntou. – Rápido, tire a camisa também. Isso vai distraí-la.

Eu ri.

– O quê? Não.

– Mas, Freen, a gen…

– Não vou tirar a blusa, Nam. Que loucura é essa?

– Seus peitos vão distrair ela!

– Não vão, acredite.

Percebendo que aquilo não era exatamente o que uma namorada diria, expliquei:

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora