Alguma coisa dentro das minhas costelas parecia uma bomba-relógio.
– Estou ouvindo as engrenagens da sua cabeça girando. – disse Becky.
Ela veio andando pelo quarto naquela calça de pijama que estava causando coisas loucas na minha barriga outra vez. O mesmo valia para a camiseta, a mesma da noite anterior.
– Eu estou bem. – menti.
Minha cabeça latejava a cada repetição da conversa com Billy, que repassava em looping infinito desde então.
– Só estou repassando tudo o que preciso fazer antes do grande dia amanhã.
Que era o que eu deveria estar fazendo.
Também já de pijama, alinhei os dois pares de sapatos – o par que eu usaria e o par reserva – no chão. Bem juntinho da parede.Deixando o mesmo espaço entre eles, meticulosa. Dei um passo para trás, admirando meu trabalho. Não.
Sem me convencer, ajoelhei para arrumá-los de novo.
Quando eu ficava com alguma coisa martelando na cabeça, eu tinha apenas duas reações: comer ou organizar compulsivamente.
Considerando que tínhamos acabado de jantar e a julgar pela pilha de roupas bem empilhadas e os itens perfeitamente alinhados em cima da cômoda, pelo jeito dessa vez seria a segunda opção.
De esguelha, percebi Becky se jogar na cama com toda calma e elegância.
– Tem fumaça saindo das suas orelhas.
Ela apoiou as costas na cabeceira.
Peguei os sapatos mais uma vez, deslocando-os um centímetro para a direita.
– Acho que não. – respondi, seca.
Então, desloquei os dois pares meio centímetro para a esquerda.
– Para isso, eu teria de estar pensando demais em alguma coisa. O que não é o caso.
– Ah, mas é sim. – disse ela, sem mudar de posição na cama. – Fala comigo.
Não me dei ao trabalho de responder. Ouvindo-a suspirar, me mantive concentrada no que estava fazendo.
Talvez se eles ficarem de frente para a parede…
– Sarocha…
O jeito como ela disse meu nome me fez virar para ela.
– Vem cá. – disse Becky, dando batidinhas na cama com a mão.
Com as sobrancelhas franzidas, fiquei olhando para ela.
– Senta aqui um pouquinho, depois você volta a torturar os sapatos até que fiquem na posição perfeita. – disse ela, com um suspiro. – Rapidinho.
E ela colocou a mão sobre o edredom mais uma vez. Como eu não disse nada nem me mexi, ela acrescentou com a voz bem suave, como se eu fosse partir seu coração se não aceitasse aquele único pedido:
– Por favor.
Aquele por favor, aquele maldito por favor e o jeito como ela disse fizeram minhas pernas se mexerem.
Antes mesmo que eu me desse conta do que estava fazendo, minha bunda estava na cama, bem ao lado do quadril dela. Eu sabia sobre o que Becky queria falar.
Aquele mix de emoções e lembranças e perguntas que estava se formando aos poucos na minha cabeça. Que eu tinha trazido comigo para o apartamento e que eu sabia que, assim que eu abrisse a boca, despejaria com força total.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma Farsa de Amor na Tailândia
RomanceUma viagem à Tailândia, a Mulher mais irritante do mundo e três dias para convencer todo mundo de que vocês estão realmente apaixonadas. Em outras palavras, um plano que nunca vai dar certo... ⚠Essa História não me pertence. Apenas uma Adaptação⚠ To...