Vinte e oito ✈︎

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- Alô? - Uma voz feminina distante me trouxe de volta à vida.

Só mais um pouquinho, implorei em silêncio lutando para voltar ao torpor. Só mais um momento.

- Aqui é a Becky.

Becky?

Com os olhos fechados e os pensamentos insistentes e pesados, tentei sem muita vontade entender o que estava acontecendo. Por que a voz de Becky parecia tão perto? Eu queria voltar a dormir.

Reconheci vagamente a vibração de um motor. Estou em um carro? Um ônibus?

Mas não estávamos avançando.

Um sonho. É, um sonho faria sentido, certo?

Confusa e exausta, me enterrei mais fundo no calor da cama e decidi que não me importaria se estivesse sonhando com Becky.

Não seria a primeira vez, de toda forma.

- Sim, essa Becky. - disse a voz, não mais distante.

- Sim, infelizmente. - continuou. - Ela está dormindo agora.

Eu já estava despertando e senti uma carícia muito leve nas costas da mão. Senti o corpo todo retornar, real demais para que aquilo fosse um sonho.

- Não, está tudo bem.

A voz de Becky reverberou em meus ouvidos, e senti um conforto esquisito ao reconhecê-la.

- Tudo bem, eu peço a ela para retornar a ligação. - disse ela, rindo. - Não, não sou dessas. Adoro carne. Principalmente cordeiro assado.

Carne. É. Eu também adorava. A gente devia comer uma carne juntas, Becky e eu. Minha mente vagou por um instante, pensando em um cordeiro suculento e crocante e em Becky também.

- Tá bom. Obrigada. Pra você também, Nam. Tchau.

Espera. Espera.

Nam?

Minha irmã, Nam?

Minha mente ainda nebulosa ficou ainda mais confusa. Senti um dos meus olhos abrir. Eu não estava na cama. Estava em um carro, impecável. Obsessivamente impecável.

O carro de Becky.

Eu estava ali. Não era um sonho.
E... Nam. Ela tinha me ligado mais cedo, não tinha? E mandado mensagem. E eu tinha ignorado tudo.

Os acontecimentos da última hora invadiram minha mente de uma só vez, como uma bola de neve sobrecarregando meu cérebro parcialmente funcional. Não. Abri os olhos totalmente e dei um pulo.

- Estou acordada. - anunciei.

Virando a cabeça de um lado para o outro, dei de cara com a dona do carro em que eu estava cochilando. Ela passou as mãos no cabelo, com a expressão mais exausta que um ser humano pode ter.

- Bem-vinda de volta. - disse ela, me olhando de um jeito estranho. - De novo.

Meu coração apertou. E eu não fazia a menor ideia do porquê.

- Oi. - respondi, conseguindo fazer meu cérebro disperso funcionar.

- Sua irmã ligou. - disse Becky, fazendo meu corpo todo ficar tenso. - Cinco vezes seguidas. - acrescentou ela.

Abri a boca, minha língua incapaz de formar palavras. Qualquer uma.

- Está tudo bem. Ela queria falar sobre uma mensagem estranha que você mandou. - explicou ela, e devolveu meu celular.

Peguei o aparelho, tocando de leve os dedos de Becky. Sentindo o olhar dela em mim, conferi a mensagem. Meu Deus, era ininteligível. Quase preocupante.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora