Cinquenta ✈︎

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Surpreendentemente, tudo estava indo bem. Até então, nenhum momento estranho ou constrangedor fizera eu me arrepender de todas as minhas escolhas de vida, e ninguém tinha feito nenhuma pergunta imprópria que me fizesse querer abrir um buraco no chão e me enfiar lá dentro.

Com um pouco de sorte, quem sabe até passasse ilesa por aquele jantar.
Acreditei nessa possibilidade.

Torci para que essa sensação de satisfação que fazia meu corpo zumbir não fosse mera consequência da comida que eu tinha devorado. Porque um banquete tailandês era capaz de afetar nosso discernimento.

Estávamos todos sentados a uma mesa redonda no terraço de um restaurante à beira-mar. No horizonte, o sol que se punha já quase desaparecia sobre a linha tênue onde oceano e céu se encontram. O único som além de nossa conversa baixa era o bater das ondas contra as rochas que margeavam a costa.

Traduzindo em uma frase simples, um momento perfeito.

O toque suave de uma mão em meu braço causou uma onda de arrepios que percorreram minha espinha.

A voz que eu aprendera a antecipar falou pertinho do meu ouvido, fazendo minha respiração vacilar.

- Frio?

Balançando a cabeça, olhei para ela. Apenas alguns centímetros nos separavam. Separavam nossos lábios.

- Não, estou bem.

Eu não estava. Tinha descoberto que, quando Becky chegava tão pertinho assim, eu ficava bem longe de estar bem.

- Só um pouco cheia. Talvez eu tenha exagerado.

- Não vai ter lugar para a sobremesa?

Franzi a testa diante da audácia.

- Não seja ridícula, meu amor. Sempre tem lugar para a sobremesa. Sempre.

Os lábios de Becky se curvaram, e aquele sorriso alcançou os cantos de seus olhos, transformando todo o seu rosto.

Poxa vidinha. Eu não estava preparada para aquilo, conforme demonstrava o frio em minha barriga.

- Freen, Becky, mais vinho? - perguntou meu pai, do outro lado da mesa.

Meus pais insistiram que pedíssemos vinho embora o casamento fosse no dia seguinte - quando certamente haveria rios de sidra, vinho, cava e muito mais.

Ninguém tentou se opor. Nem mesmo Nam ou Heng, que estampavam na face as consequências da noite anterior. Mas, na terra do vinho, era quase impossível sair para jantar e não pedir uma garrafa.

- Não, obrigada. Acho que vou me resguardar para amanhã. - respondi, tirando a taça do alcance da garrafa que meu pai já segurava no ar.

Ao contrário de mim, Becky foi lenta demais e, antes que pudesse elaborar uma resposta, meu pai já estava enchendo a dela.

- Dormiu no ponto. - cochichei para ela.

Aquele sorriso largo que tinha dominado seu rosto voltou, tirando minha presença de espírito em um piscar de olhos. Então o braço que estava estendido atrás da minha cadeira se esticou um pouco mais e me beliscou, brincalhona.

Pulei na cadeira, quase virando algumas taças no processo.

Com a mão livre, Becky pegou a taça e bebeu.

- Nem banque a engraçadinha.

Por cima da taça, ela me lançou um olhar que fez com que eu me revirasse na cadeira. Então, inclinou a cabeça e continuou baixinho:

- Da próxima vez não vou só beliscar.

Seus lábios finalmente tocaram a taça, bebendo um gole. Sem tirar os olhos de seus lábios durante alguns segundos intensos, tive a certeza de que algo se remexera na região do meu baixo ventre.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora