Quarenta e cinco ✈︎

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Quando a música acabou e começou o hit seguinte de dez anos antes, o que quer que estivesse acontecendo entre mim e Becky revirou meu estômago. Imediatamente. Tanto que me deixou tonta, agitada e prestes a sair do corpo.

Lembrei dos nossos corpos bem próximos, apenas alguns minutos antes.

Tentei me recompor, controlar a respiração. O suor escorria pelas minhas costas e pelos braços, uma sensação avassaladora percorrendo meu corpo todo.

Eu precisava de ar fresco. Isso sempre ajudava.

- Vou sair um pouquinho. - falei para Nam, envolvendo-a em um abraço rápido.

Minha irmã assentiu, distraída pela música, que calhava de ser sua música favorita no mundo todo também. Virei em direção à porta, sem ousar olhar para Becky.

Eu não podia. Eu simplesmente... não podia. Precisava organizar meus pensamentos.

Após abrir caminho em meio ao mar de corpos, saí para a noite quente e úmida e agradeci pela brisa do mar. O alívio foi instantâneo, mas breve. Minhas pernas pareciam pesar cem quilos cada uma.

O que ainda era preferível ao que eu sentira lá dentro.

Eu estava arrependida de cada drinque tomado. Com a mente mais afiada, talvez eu fosse capaz de entender o que quer que estivesse acontecendo.

Principalmente por que meu coração parecia armar um complô contra mim.

Sentei no meio-fio para descansar as pernas. Estávamos em uma área de pedestres, e apenas carros de moradores podiam circular.

Dada a hora, quase três da manhã, a probabilidade de eu ser atropelada era baixa. Então, me permiti um tempinho, tentando acalmar o que quer que estivesse deixando o meu corpo arrepiado e formigando.

Com os olhos fechados e os cotovelos apoiados nos joelhos, me concentrei na música abafada que vinha do bar.

A porta atrás de mim abriu e fechou.

Eu soube que Becky estava ali antes mesmo que ela dissesse qualquer coisa.
Ao que parecia, estávamos sintonizadas. Aquela mulher quieta cuja presença sempre falava muito mais alto que as palavras.

Sem virar para trás, ouvi seus passos se aproximando de onde eu estava, sentada na calçada morna. Becky sentou bem ao meu lado e esticou as pernas.

Uma garrafa de água caiu suavemente em meu colo.

- Talvez você queira um pouco disso. - disse ela.

A sensação avassaladora que tinha me levado até ali ainda não tinha se dissipado e atrapalhava meu raciocínio.

Ela cutucou minha perna com o joelho, me incentivando.

Olhei para a garrafa no meu colo e de repente me senti exausta, meus braços pesados demais para abri-la. Meu corpo inteiro parecia pesado, na verdade. Ali, tão perto, o corpo quente de Becky me convidava a encostar a cabeça em seu braço e fechar os olhos por um minutinho. Só um cochilinho rápido.

- Sem dormir, linda. Por favor. - disse ela, que pegou a garrafa, abriu e enfiou na minha mão. - Beba. - pediu com a voz suave.

Mais um cutucão da perna.

E que bela perna era aquela. Levando a garrafa aos lábios, bebi um gole considerável enquanto continuava minha análise cuidadosa.

É uma coxa direita muito bonita, pensei pousando a garrafa ao colo.

Uma risadinha me fez olhar para a mulher responsável por ela. Seus lábios se curvaram em um sorrisinho torto, me distraindo.

- Obrigada. - disse ela, o sorriso ficando mais largo. - Ninguém nunca elogiou essa parte específica da minha perna.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora