Sessenta e um ✈︎

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Com essa ideia em mente – não, com essa esperança em mente, porque foi exatamente isso que senti quando li a mensagem, uma esperança boba –, saí do meu esconderijo chique e azulejado.

Encontrei Becky em pé na sala, olhando pelas janelas de estilo industrial com vista para o rio.

O apartamento dela ficava em Dumbo, uma parte do Brooklyn que eu não conhecia tão bem, mas pela qual me apaixonava cada vez mais. O lugar era incrível. Espaçoso e objetivo, elegante, mas simples.

Fui até ela e também olhei pelas janelas enormes.

– Essa vista do East River é de tirar o fôlego.

– É, tenho muita sorte de poder bancar isso. – disse ela, parecendo grata, o que não era comum.

Virando e inclinando o corpo em sua direção, apoiei as costas nas janelas e fiquei de frente para ela. Como eu poderia dizer que aquela vista – ela, no caso – era tão linda quanto a do rio? A gente simplesmente não diz esse tipo de coisa. Então me limitei a observar e absorver.

Becky manteve o olhar distante, a luz do sol entrando pelo vidro das janelas e beijando sua pele. Os olhos castanhos brilhando.

Mas pude notar que estava pensativa.

– Está tudo bem? – perguntei, acariciando seu braço.

Só então ela olhou para mim.

– Vem cá.

Em um movimento rápido, ela me encaixou em seu peito. E me abraçou, nos balançando.

– Bem melhor. Agora ficou tudo bem melhor.

Eu não podia discordar. Tudo o que envolvia estar nos braços de Becky era muito melhor que qualquer outra coisa. Deixei que ela arrancasse de mim um suspiro de felicidade e me deliciei com o “humm” que ela soltou quando a abracei também.

Quando ela finalmente me soltou, seu olhar voltou a vagar através da janela, mas dessa vez com um sorriso discreto.

Vamos com calma.

De algum jeito, meus olhos repousaram no balcão que complementava perfeitamente o estilo das janelas e do restante do apartamento. Os únicos itens ali eram um porta-retratos e o que parecia ser um livro técnico. Curiosa para ver quem estava na foto, fui até o móvel e peguei o porta-retratos. Uma mulher linda de olhos escuros e cabelos pretos e com um sorriso que reconheci imediatamente. Meu coração se aqueceu.

Senti o braço de Becky cobrir meus ombros e um beijo em meu cabelo.
Deixando meu corpo se encaixar no dela, perguntei:

– Qual era o nome da sua mãe?

– Dorothea.

Senti a voz de Becky reverberar em seu peito, nas minhas costas.

– Ela reclamava do nome o tempo todo. Obrigava todo mundo a chamá-la de Thea.

– Fala um pouco mais sobre ela, sobre a sua família.

Ela soltou um suspiro, que atingiu meu cabelo com um pff.

– Dorothea era o nome da avó dela. “Um nome de velha pretensiosa”, ela dizia. A família dela era muito rica, mas nunca teve sorte no que dizia respeito à saúde. Eles falavam que era uma maldição.

Becky fez uma pausa, parecendo perdida em lembranças.

– Quando eu era criança, minha mãe era a única ainda viva, então não conheci meus avós. E, quando minha mãe morreu, eu me tornei a última dos Armstrongs. Então herdei tudo. Por isso posso pagar por um apartamento assim.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora