Cinquenta e um ✈︎

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Depois disso, não pude deixar de olhar para ela, de buscar seu belo rosto. E isso não deveria ter me deixado tão surpresa, eu já sabia que Becky tinha esse poder sobre mim. Quando me permiti virar para ela, seus olhos já estavam em mim.

Será que ela também sente essa atração? Esse desejo de procurar em meu rosto as respostas que acha que pode encontrar?

Tentando controlar meu coração, espreitei aqueles olhos com apreensão. Com ansiedade também. E encontrei algo absolutamente assustador.

Algo que não devia - não podia - estar ali, considerando que aquilo tudo era para ser uma farsa e que, portanto, o que Becky dissera não era verdade.

Mas era bem difícil negar o que estava à minha frente, as emoções estavam mesmo ali, irradiando de seu olhar. Sinceridade pura. Convicção. Fé. Confiança. Um juramento. Tudo isso exigindo ser reconhecido.

Como se ela estivesse prometendo para mim e não para minha mãe. Como se o que ela tinha acabado de dizer não fosse parte de uma farsa.

Mas eu não podia aceitar.

Por mais que meu corpo tremesse com o tanto de esforço para me conter e não agarrar o pescoço dela e implorar por respostas; ou para que me dissesse exatamente em que ponto da zona cinzenta estávamos, eu não me permitiria fazer aquelas perguntas que giravam em minha cabeça e formavam um grande nó dentro de mim.

Porque talvez eu não quisesse ouvir as respostas para perguntas como: A gente passou de colegas de trabalho a parceiras no crime e depois amigas? Nós éramos amigas que juravam apoiar uma a outra? Amigas que quase se beijavam?

Aquela promessa era mesmo verdadeira, como seus olhos imploravam que eu acreditasse? Ou era apenas um enfeite? E, se era, por que ela diria algo assim? Ela não tinha consideração com meu pobre coração?

Será que ela não enxergava que eu não conseguia mais discernir uma coisa da outra? Mas, se aquilo não era um mero embelezamento da verdade, o que Becky estava fazendo? O que nós estávamos fazendo?

Incapaz de suportar tudo o que havia no olhar de Becky ou de assimilar todas as perguntas na minha cabeça, endireitei as pernas com um movimento rápido, e minha mão soltou a dela. A cadeira embaixo de mim rangeu ao ser arrastada.

- Preciso ir ao banheiro. - deixei escapar, desviando o olhar de Becky.

Então, me afastei o mais rápido possível, sem olhar para trás. Nem uma vez. Nem quando ouvi minha irmã dizer:

- Agora que ela saiu, podemos falar sobre mim? Eu sou a noiva, eu devia ser o centro das atenções. Estou me sentindo negligenciada.

Se minha cabeça não estivesse uma confusão, eu teria rido.

Provavelmente teria voltado e puxado o cabelo dela por ser uma criança egocêntrica, mas eu estava ocupada demais fugindo.

Sendo uma covarde mais uma vez, arte que, naquele ritmo, eu dominaria antes que o fim de semana acabasse.

Lavei as mãos e joguei água no rosto enquanto pensava em nada e em tudo, me sentindo totalmente dominada pela minha própria estupidez. Deve ter sido por isso que, ao sair do banheiro, só percebi que alguém estava no caminho quando bati contra um peito masculino.

- Merda. - resmunguei baixinho, voltando alguns passos para trás. - Sinto muito. - acrescentei antes de perceber quem estava à minha frente. - Ah, Billy.

Tirando o cabelo do rosto, me encolhi internamente. Meu ex não demonstrou se sentir constrangido como eu.

- Você está bem? - perguntou ele, em Tailandês.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora