Dez✈︎

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– CALMA AÍ! CALMA AÍ, CALMA AÍ, CALMA AÍ…

Rosé levantou a mão, fazendo o sinal universal de “calma aí”.

– Você disse o quê pra sua mãe?

Devorando o resto do meu sanduíche de pastrami, olhei para ela.

– Fofê oufiu o que eu dife – falei, nem aí com o fato de estar de boca cheia.

– Só quero ouvir aquela última parte mais uma vez.

Rosé recostou no assento da cadeira, os olhos cor de esmeralda arregalados de choque.

– Quer saber? Que tal me contar tudo de novo? Eu devo ter perdido alguma coisa porque essa história está parecendo maluquice demais, até para você.

De olhos semicerrados, dei um sorriso falso que certamente mostrou o conteúdo do meu sanduíche.

Estávamos almoçando no décimo quinto andar e eu não ligava para a possibilidade de ser vista por alguém. Àquela hora, o andar já estava meio vazio. Era mesmo a cara de Nova York uma empresa dedicar aquele espaço todo – e dinheiro, porque a decoração era diretamente saída da hipsterlândia – em um coworking para um bando de workaholics que só ia ali no horário de almoço.

Algumas poucas mesas à minha direita estavam ocupadas. As mais próximas do vidro impressionante que ia do chão ao teto, claro.

– Não me olhe assim. – disse Rosé, com um biquinho. – E, por favor, eu te amo, Freen, mas isso aí não está bonito. Tem um pedaço de… de alface saindo da sua boca.

Revirei os olhos, mastigando e finalmente engolindo.

Ao contrário do que eu esperava, a comida não melhorou nem um pouco meu humor. Aquela bola de ansiedade quicando ainda pedia para ser alimentada.

– Eu deveria ter pedido mais um sanduíche.

Em qualquer outro dia, eu teria feito exatamente isso. Mas o casamento estava chegando, e eu estava tentando manter a linha.

– Sim, e sabe o que mais você deveria ter feito? Me contado tudo isso antes.

Sua voz era gentil, assim como tudo o que dizia respeito a Rosé, mas o peso por trás das palavras me deixou arrepiada assim mesmo.

– Desde o instante em que você decidiu inventar um namoro, sabe. Eu merecia isso.

Sabia que Rosé ia – com todo o carinho – me dar uma bronca assim que descobrisse que eu não tinha contado a respeito de todo aquele lance de mentir para minha família sobre estar em um relacionamento.

– Me desculpe. – pedi, estendendo a mão por cima da mesa para alcançar a dela. – Me desculpe, Roseanne Park. Eu não deveria ter escondido isso de você.

– Não, não mesmo – retrucou ela, fazendo biquinho de novo.

– Em minha defesa, eu ia contar na segunda-feira, mas fomos interrompidas por você sabe quem.

Eu não queria dizer o nome em voz alta, pois ela surgia do nada quando eu fazia isso.

Apertei a mão dela.

– Para me redimir, vou pedir à vovó para acender umas velas para Buda, para que você seja recompensada com muitos filhos.

Rosé soltou um suspiro, fingindo pensar por um instante.

– Tudo bem, desculpas aceitas. – disse Rosé, apertando minha mão. – Mas, em vez de filho, prefiro ser apresentada a um dos seus primos, talvez.

Recuei, meu rosto em choque.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora