Sessenta e cinco ✈︎

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– Não que vocês tenham tentado esconder. – disse Gerald, rindo como se aquilo tudo fosse uma piada para ele. – Paul disse que viu vocês ontem, mas, ei, eu entendo. Não tem nada de mais, cara.

Todos estavam olhando, envolvidos pelo drama que se desenrolava. E, meu Deus, eu estava tão… cansada. Tão esgotada. Eu queria que a vida voltasse a qualquer ponto antes daquilo.

– Um conselho? Onde se ganha o pão não se come a carne, Armstrong. As coisas se espalham. Principalmente quando você sai por aí dormindo com as funcionárias. Mas que bom para você. – disse ele e, então, se virando para mim. – Ei, não culpo você, viu? Sei o apelo que pode ser ir para a cama com a chefe.

Fomos engolidos por um silêncio denso e carregado. Então, a voz de Becky rompeu o silêncio. Afiada como uma navalha.

– Você quer manter seu emprego?

Ah, não.

Becky se dirigiu a Gerald, mas as palavras acertaram meu peito em cheio.

– Becky, não.

Dei um passo à frente, segurando seu braço.

– Ah, poxa, me desculpe, Armstrong. – disse Gerald, dando um tapinha na própria cabeça. – Mas saiba, futura chefe, que você ainda não ocupou o cargo, então, acho que o privilégio de demitir alguém ainda não está ao seu alcance.

Becky se desvencilhou da minha mão, dando um passo na direção de Gerald.

– Eu fiz uma pergunta.

Mais um passo lento, pesado, e ela estava cara a cara com o sujeito.

– Você quer manter seu emprego, Gerald? Porque posso acabar com você. Seus amigos do golfe não vão poder fazer nada, nem seus lacaios do RH.

Gerald ficou quieto, e a zombaria desapareceu de seu rosto.

A frustração de ser tão impotente, tão indefesa diante daquele cenário em que as coisas tinham saído do controle, causou uma pressão familiar no fundo de meus olhos.

Odeio isso. Odeio com todas as minhas forças. Por que as pessoas têm prazer em destruir os outros? Por que nós? Por que tão cedo?

O sorriso desdenhoso de Becky, seu corpo tão rígido e extremamente tenso, me diziam que ela estava prestes a surtar.

– Becky, para.

Minha voz vacilou. Eu não podia chorar. Não ia fazer isso. Não ali, com metade das pessoas da empresa olhando.

Mas ela não recuou. Permaneceu uma estátua de mármore, esperando a resposta de Gerald como se tivesse a vida inteira para fazer isso.

– Becky, por favor. – falei, agora mais ríspida.

Mas ela ficou paralisada. Imóvel.

– Você está piorando as coisas.

Aquilo era verdade? Eu não tinha certeza, mas foi o que saiu da minha boca. Foi o que pareceu entrar em seus ouvidos e atingi-la como um golpe físico, fazendo-a estremecer.

Vi Becky – a mulher que eu queria e de quem eu precisava em minha vida – se virar lentamente e me encarar com mágoa nos olhos.

Partiu meu coração dizer aquilo, mas qual era a alternativa?

Eu não deveria ter feito aquilo. Eu me detestei por ter nos colocado naquela situação, sendo que sabia o que poderia acontecer. E estava acontecendo.
Incapaz de aguentar mais um segundo daquilo – eu, a mágoa nos olhos de Becky, tudo –, virei e saí andando, pisando firme pelo longo corredor.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora