Quarenta e seis ✈︎

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Qualquer um que testemunhasse minhas tentativas ridículas de chegar até o quarto acharia óbvio que eu estava prestes a cair de cara no chão. E não estaria enganado. Eu estava me arrastando, os pés mal levantavam do chão.

Ironicamente, e ao contrário do que meu corpo dizia, eu nunca tinha me sentido mais desperta do que quando passei por aquela porta.

Minha cabeça estava a mil por hora.

Digerindo tudo o que Becky tinha me contado sobre seu passado. Revirei cada pedacinho de informação até ter a certeza absoluta de que estavam guardadas em segurança em um lugar da memória de onde nunca escapariam.

Não importava que minhas pernas cambaleassem a cada passo e a exaustão pulsasse por todo o meu corpo.

A confissão de Becky - porque de fato pareceu que ela estava revelando algo que vinha mantendo guardado a sete chaves - tinha criado um pequeno turbilhão na minha cabeça.

E no peito. Definitivamente no peito também. Com o coração apertado, eu ainda tentava aceitar o fato de que não devia estar sentindo aquilo. Ou querendo fazer alguma coisa.

Parte de mim sentia falta de estar bêbada ou alegrinha o bastante a ponto de não me importar, mas depois de toda a água que Becky insistiu que eu bebesse - e como não bebi mais nada depois que voltamos para dentro do bar -, eu não podia mais me dar ao luxo dessa desculpa.

Já passava das cinco da manhã, e o efeito do álcool tornara-se apenas um zumbido baixinho que indicava que o dia seguinte não seria muito agradável.

Não percebi que estava parada no meio do quarto, olhando para o nada, até que Becky fechou a porta ao entrar. Quando me virei, meu olhar foi imediatamente para o copo de água em suas mãos.

Vi Becky caminhar até a mesinha de cabeceira, onde eu tinha colocado algumas das minhas coisas, e deixar o copo ali.

- É para mim?

Eu sabia a resposta, mas aquele pequeno gesto me fez derreter. Como todas as vezes em que ela cuidou de mim naquela noite. Eu... não me sentia mais tão pequena.

- Se continuar cuidando de mim assim, vai ser muito difícil voltar à vida real.

Talvez eu não devesse ter dito aquilo, talvez não devesse ter colocado naqueles termos, mas, depois de tudo o que tinha acontecido, a cautela que eu tentava manter perto de Becky parecia estar se dissipando.

Becky assentiu, parecendo mais séria, mas não comentou o que eu tinha acabado de dizer. Em vez disso, levou as mãos a barra da blusa levantando um pouquinho, pra em seguida mudar de ideia e começar a mexer na pulseira do relógio.

Sentindo as pernas bambas - pelos motivos errados -, fui até a beirada da cama e sentei em cima do edredom simples e sedoso.

Impedindo que meu corpo afundasse nele imediatamente, soltei um suspiro de cansaço, liberando um pouco da tensão dos ombros.

Mas, antes que eu pudesse relaxar totalmente, retomei a postura quando me dei conta de uma coisa.

A cama.

Dormiríamos juntas naquela cama.

De algum jeito, aquele fato tinha desaparecido da minha cabeça até aquele instante. Relembrá-lo causou uma coisa estranha em minha barriga. Não estranha de um jeito engraçado, mas de um jeito excitante, que me deixou com calor.

Bom, se eu estava me sentindo assim e ainda nem tínhamos deitado, eu não podia nem imaginar o que aconteceria quando estivesse embaixo das cobertas com Becky. Nossos corpos preenchendo o colchão de tamanho modesto.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora