Seis ✈︎

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Xingando baixinho – porque, é claro, se tinha alguém para me ouvir reclamando de mim mesma, esse alguém era ela. Obriguei meu rosto a assumir uma expressão neutra e ergui a cabeça.

– Estranho? Acho que é cativante.

– Não – respondeu ela muito rápido, até demais. – É um pouco preocupante quando você diz mais que duas palavras. Você estava em franca conversa consigo mesma.

Peguei a primeira coisa que achei em cima da minha mesa – um marca-texto. Inspirei e expirei.

– Sinto muito, Armstrong. Mas não tenho tempo para analisar minhas peculiaridades no momento – falei, segurando o marca-texto no ar. – Precisa de alguma coisa?

Observei-a parado à porta da minha sala, o laptop embaixo do braço, uma das sobrancelhas escuras levantadas.

– O que é esse tal Na Esquina? – perguntou ela, olhando na minha direção.

Expirando devagar, ignorei a pergunta e fiquei olhando suas pernas longas percorrerem a distância até minha mesa. Então, fui obrigada a vê-la dar a volta na mesa e parar em algum lugar à minha esquerda.

Girei a cadeira, ficando de frente para ela.

– Desculpe, posso ajudar com alguma coisa?

Ela olhou atrás de mim, para a tela do meu laptop, ao perceber como seu corpo estava perto do meu rosto, recostei na cadeira.

– Olá? – perguntei, em um tom mais hesitante do que eu gostaria. – O que você está fazendo?

Ela colocou a mão esquerda na minha mesa e soltou um “hum”, o barulho suave tão próximo quanto ela em si. Bem na minha cara.

– Armstrong – falei bem lentamente.

Os olhos dela percorriam o slide na tela, o rascunho do cronograma que eu estava montando para o Open Day.
Eu sabia o que ela estava fazendo. Mas não sabia por quê. Nem o motivo de estar me ignorando.

Além do fato de tentar me irritar profundamente.

– Armstrong, estou falando com você.

Perdida em pensamentos, ela soltou mais um “hum”, aquele maldito barulho abafado e viciante.
Irritante, lembrei a mim mesma.

Engoli o nó que magicamente tinha acabado de se formar na minha garganta.

Então, ela finalmente abriu a boca:

– Só isso?

Como quem não quer nada, Becky colocou o notebook dela em cima da mesa. Bem ao lado do meu.
Estreitei os olhos.

– Oito da manhã. Recepção.

Um braço pairou em frente ao meu rosto, apontando para a tela.

Voltei a colar o corpo no encosto da cadeira e notei a flexão da pele dela sob o tecido da camisa lisa.

Becky seguiu lendo as informações da minha tela em voz alta, apontando com o dedo para cada item.

– Nove da manhã. Uma introdução às estratégias de negócios da InTech.

Meus olhos viajaram até seus ombros.

– Dez da manhã. Coffee break… até as onze. Vai exigir uma quantidade grande de café. Onze da manhã. Atividades pré-almoço. Não especificadas.

Fiquei surpresa ao perceber que o braço preenchia a manga perfeita e completamente, o corpo feminino e delicado aconchegado no tecido fino sem deixar muito espaço para a imaginação.

Uma Farsa de Amor na TailândiaOnde histórias criam vida. Descubra agora