Becky se recostou e colocou a mão no descanso da cadeira.
Sua camisa se esticou com esse movimento, a mudança na tensão do tecido atraente demais para que meus olhos não notassem por reflexo.
Buda. Meus olhos se fecharam por um segundo. Eu estava com fome, cansada de ter que lidar com tudo aquilo, traída por meus próprios olhos e, para falar a verdade, simplesmente confusa àquela altura.
– Pare de ser teimosa – disse ela.
Teimosa. Por quê? Porque não pedi sua ajuda e deveria aceitá-la quando você decidiu oferecer?
E, aí sim, fiquei irritada. Provavelmente por isso abri a boca sem pensar.
– Foi por isso que você não disse nada durante a reunião em que tudo isso e mais um pouco foi despejado em cima de mim? Porque eu não pedi ajuda? Porque sou teimosa demais para aceitar ajuda?
Becky recuou um pouco a cabeça, provavelmente chocada com minha admissão.
Na mesma hora me arrependi de ter dito aquilo. De verdade. Mas escapou, como se as palavras tivessem sido arrancadas de mim.
Alguma coisa passou rapidamente por sua expressão séria.
– Eu não percebi que você queria que eu interviesse.
É claro que não. Ninguém percebeu. Nem Héctor, que eu considerava quase minha família. Mas eu já não devia saber?
Porque, sim, eu estava mais do que acostumada com o fato de que, em situações como aquela, existem dois grupos de pessoas.
As que acreditam que o silêncio é um terreno neutro e as que se posicionam. E, com frequência, se posicionam do lado errado.
Claro, nem sempre se tratava de algo relativamente inofensivo como os comentários condescendentes e desrespeitosos de Gerald. Às vezes eram coisas muito, muito piores. Eu sabia. Tinha vivido isso na pele muito tempo antes.
Balancei a cabeça, afastando a lembrança.
– Teria feito alguma diferença se eu tivesse pedido, Becky? – perguntei, como se ela tivesse a solução, quando não tinha.
Fiquei olhando para ela, o coração disparado de ansiedade.
– Ou se eu dissesse que estou exausta de precisar pedir, você teria interferido?
Becky me analisou em silêncio, observando meu rosto quase com cautela. Sob escrutínio, fui ficando vermelha e me arrependendo cada vez mais de ter falado.
– Esqueça o que eu disse, ok?
Desviei o olhar, decepcionada e com raiva de mim mesma por colocar Becky, justo ela, na reta quando ela não me devia nada.
Absolutamente nada.– De qualquer jeito, vou ter que fazer isso. Não importa como ou por quê.
Também não importa que essa não seria a última vez.
Becky se endireitou, inclinou ligeiramente o corpo na minha direção e respirou fundo. Prendi a respiração, esperando que ela dissesse o que quer que estivesse se formando em sua mente.
– Você nunca precisou que alguém lutasse suas batalhas, Sarocha. É uma das coisas que mais respeito em você.
Essas palavras causaram um impacto no meu peito, uma espécie de pressão com a qual eu não me sentia confortável. Becky nunca dizia esse tipo de coisa. Para ninguém, principalmente para mim.
Abri a boca para dizer que não tinha importância, que eu não ligava, que podíamos deixar isso para lá, mas ela levantou a mão, me interrompendo.
– Por outro lado, nunca imaginei você como alguém que se acovardaria e deixaria de dar seu melhor diante de um desafio, ainda que tenha sido por uma imposição injusta. – disse ela, e virou para o notebook. – E aí, o que você vai fazer?
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Uma Farsa de Amor na Tailândia
RomantikUma viagem à Tailândia, a Mulher mais irritante do mundo e três dias para convencer todo mundo de que vocês estão realmente apaixonadas. Em outras palavras, um plano que nunca vai dar certo... ⚠Essa História não me pertence. Apenas uma Adaptação⚠ To...