Culpa

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      A chuva caía suavemente sobre o cemitério, misturando-se às lágrimas dos presentes. A família de Iza havia organizado um velório simples, um caixão vazio simbolizando a perda irreparável. Jão e Pedro estavam lado a lado, a dor da perda refletida em seus rostos. Ambos sentiam um peso insuportável no coração, uma culpa que parecia esmagá-los a cada segundo que passava.

      Lucas também estava presente, observando a cena com um misto de tristeza e incredulidade. Ele ainda não conseguia acreditar que Geovana havia ido tão longe em sua vingança. Cada lágrima derramada, cada olhar vazio, intensificava o peso em sua consciência.

      Após o funeral, os amigos se reuniram sob uma árvore grande, tentando encontrar algum consolo na companhia um do outro. Lucas, sentindo a necessidade de compartilhar a verdade que sabia, aproximou-se de Jão e Pedro.

      — Jão, Pedro, preciso falar com vocês — disse Lucas, sua voz vacilante.

      — O que foi, Lucas? — perguntou Jão, ainda com os olhos vermelhos de tanto chorar.

      Lucas respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas. — Antes de morrer, Iza estava esperando um filho.

       Pedro e Jão olharam para Lucas com expressões de choque e descrença.

        — Como assim? — perguntou Pedro, a voz embargada.

        — Sim, ela estava grávida... e o pai do bebê é o pai de Pedro.

        O silêncio que seguiu foi pesado, quase palpável. Jão e Pedro se entreolharam, tentando processar a revelação. A dor e a culpa que já sentiam pareciam se multiplicar.

         — Por que ela não nos contou? — perguntou Jão, a voz cheia de amargura.

         — Ela não teve a chance — respondeu Lucas, sentindo-se cada vez mais culpado por não revelar a verdade completa.

         Pedro, agora mais abalado do que nunca, murmurou: — Isso é demais... eu não sei o que fazer.

         — A única coisa que podemos fazer agora é honrar a memória dela e tentar viver com nossas escolhas — disse Lucas, tentando oferecer algum conforto.

        Jão assentiu, mas a dor em seus olhos era evidente. Ele sabia que, de alguma forma, precisaria encontrar um caminho para perdoar a si mesmo e aos outros. Pedro, por outro lado, estava consumido pela dor e pela traição, sentindo-se perdido e sem rumo.

     Lucas continuou, tentando elaborar mais sobre a situação — Iza me procurou antes de... de tudo isso. Ela estava desesperada, não sabia o que fazer. Eu disse para ela falar com vocês, mas ela estava com muito medo.

      Jão apertou os punhos, a raiva misturando-se à tristeza. — E agora? Como vamos seguir em frente sabendo disso?

      Pedro olhou para o chão, as lágrimas começando a cair novamente. — Eu não sei. Só sei que... tudo parece tão errado agora.

      Lucas colocou a mão no ombro de Pedro, tentando oferecer algum consolo. — Vamos passar por isso juntos. Não estamos sozinhos.

      Enquanto os três permaneciam em silêncio, dona Mariana se aproximou, o rosto marcado pela dor. Ela olhou para os garotos e perguntou, a voz embargada — O que vocês estavam conversando?

       Lucas olhou para ela, hesitando por um momento, antes de responder — Estamos tentando entender tudo isso. Tem muitas coisas que não fazem sentido.

       Ela suspirou, visivelmente exausta pela dor da perda. — Nada disso faz sentido. Minha filha se foi, e nós temos que encontrar uma maneira de viver com isso.

       Pedro levantou a cabeça, olhando diretamente para a mãe de Jão. — Eu... eu sinto muito. Não queria que terminasse assim.

        Ela assentiu, lágrimas escorrendo pelo rosto. — Todos nós sentimos. Mas temos que nos unir e tentar seguir em frente.

        O velório continuou, cada um dos presentes perdido em seus próprios pensamentos e sentimentos de culpa. O peso da perda de Iza parecia quase insuportável, e a revelação da gravidez só aumentava a dor.

        Lucas, sentindo a necessidade de desabafar, se afastou um pouco do grupo e encontrou um lugar mais isolado no cemitério. Geovana, que estava observando de longe, percebeu e se aproximou.

         — Lucas, o que você está fazendo aqui sozinho? — perguntou ela, tentando parecer preocupada.

      Lucas olhou para ela, a raiva borbulhando por dentro. — Geovana, você foi longe demais. Olhe o que aconteceu por causa da sua vingança.

      Ela ficou pálida, tentando manter a compostura. — Eu... eu não queria que terminasse assim. Só queria que ela pagasse pelo que fez.

      — E agora ela está morta! E o bebê dela também. Você conseguiu o que queria? — Lucas gritou, a voz carregada de dor.

      Geovana olhou para ele, lágrimas escorrendo pelo rosto. — Eu não sabia... não sabia que isso ia acontecer.

      — Você nunca deveria ter se envolvido nisso. Agora todos nós temos que viver com as consequências das suas ações — disse Lucas, virando as costas para ela.

      Geovana ficou parada ali, observando enquanto Lucas se afastava. Ela sabia que nunca poderia desfazer o que havia feito, e a culpa a consumia.

      Enquanto isso, Jão e Pedro se afastaram um pouco do velório, tentando encontrar algum consolo na companhia um do outro.

      — Pedro, eu sei que as coisas estão difíceis agora, mas vamos encontrar uma maneira de passar por isso juntos — disse Jão, sua voz cheia de determinação.

        Pedro olhou para Jão, os olhos ainda cheios de lágrimas. — Eu quero acreditar nisso, Jão. Só preciso de tempo para processar tudo.

        — Eu estarei aqui para você, sempre. Vamos honrar a memória de Iza e encontrar uma maneira de seguir em frente — disse Jão, abraçando Pedro.

        E assim, com o peso da culpa e a dor da perda ainda frescos em seus corações, eles se prepararam para enfrentar o futuro incerto que os aguardava. Sabiam que a vida nunca mais seria a mesma, mas também sabiam que precisariam encontrar uma maneira de seguir em frente, honrando a memória de Iza e enfrentando as consequências de suas ações.

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