Simples e Romântico

Rancor

         A recuperação de João Pedro foi um longo e árduo processo, marcado por dias de dor e frustração. A situação era ainda mais difícil porque Jão continuava isolado na fazenda da família, se recusando a sair de lá. Ele estava afundado em sua própria tristeza e não conseguia encontrar forças para enfrentar a realidade, deixando Anna como a única fonte de apoio e conforto para João Pedro.

No Hospital

         Anna passava seus dias ao lado de João Pedro, tentando ser a força que ele precisava para se recuperar. Ela conversava com ele, tentava distraí-lo e se esforçava para manter o ambiente o mais positivo possível, apesar das dificuldades.

       - Como você está se sentindo hoje? - Anna perguntou, enquanto ajustava o travesseiro de João Pedro. Sua voz estava carregada de preocupação, mas também de uma determinação gentil.

        - Melhor do que ontem, eu acho...  - João Pedro respondeu com um tom de voz cansado.        - Mas ainda não consigo acreditar que papai não veio me ver.

        Anna hesitou, mas sabia que precisava abordar o assunto. - João Pedro, ele está passando por um momento muito difícil. Ele se isolou na fazenda depois da morte de Pedro, e está lutando com sua própria dor.

         - Então ele prefere ficar lá, na fazenda, em vez de estar aqui comigo?  - João Pedro perguntou, sua voz embargada pela raiva e tristeza. - Ele não consegue enfrentar isso? Ele me abandonou!

         Anna suspirou, sabendo que era uma conversa difícil.  - Não é bem assim. Ele está sofrendo, e talvez ele esteja tentando se proteger da dor, de um jeito errado, mas ele ainda te ama. Ele só não sabe como lidar com a situação.

       - É fácil para ele se esconder lá e se esconder de mim - João Pedro retorquiu - Eu não tenho a escolha de fugir. Eu estou aqui, lutando para me recuperar, e ele está lá fora, fugindo da realidade.

         Anna se sentou na cadeira ao lado da cama, observando João Pedro com uma tristeza profunda. - Eu entendo o que você está sentindo, e eu gostaria que ele estivesse aqui para te apoiar. Mas também entendo que ele está lutando com a culpa e a dor de maneiras diferentes.

Na Fazenda

       Enquanto isso, na fazenda, Jão estava mergulhado em sua própria tristeza. A casa estava silenciosa e sombria, refletindo o estado emocional de Jão. Ele passava os dias vagando pela propriedade, tentando encontrar algum consolo em meio à solidão. Quando Anna ligava para atualizar sobre o estado de João Pedro, ele escutava em silêncio, absorvendo as palavras sem realmente processá-las.

      Uma noite, após uma longa conversa com João Pedro, Anna decidiu que precisava falar com Jão sobre a situação. Ela foi até a fazenda, determinada a confrontar Jão sobre sua ausência.

       - Jão, precisamos conversar - Anna disse ao chegar, encontrando Jão na cozinha, com um olhar distante e perdido.

        - Sobre o que? - Jão perguntou, tentando manter a voz neutra, mas claramente abalado.

        - Sobre João Pedro... - Anna respondeu, com uma firmeza que refletia sua frustração e preocupação. - Você não pode continuar se escondendo aqui. Ele está lutando para se recuperar, e você está se afastando dele.

         Jão baixou a cabeça, seu olhar fixo no chão. - Eu não sei o que fazer, Anna. Eu... não consigo lidar com a dor. A perda de Pedro foi demais para mim.

        - Eu entendo, Jão... - Anna disse, com um tom suave, mas resoluto. - Mas João Pedro também está sofrendo, e ele precisa de você. Ele sente a sua falta e está ressentido com você por não estar ao lado dele. Ele se sente abandonado.

       Jão respirou fundo, seu peito apertado com a angústia. -  Eu não sabia que ele se sentia assim. Eu pensei que... que se eu me isolasse, poderia encontrar alguma maneira de lidar com isso.

       - Mas você não está ajudando ninguém ao se isolar! - Anna respondeu. - Você está se afundando na sua própria dor e deixando seu filho sozinho em um momento em que ele mais precisa de você. A recuperação dele é difícil, e ele está frustrado com a situação, e com você. Ele precisa de seu apoio, não apenas das palavras de encorajamento.

        Jão olhou para Anna, com lágrimas nos olhos. - Eu não sei se sou forte o suficiente para enfrentar isso. A dor é tão grande...

        - Você precisa tentar, Jão...  Anna insistiu. - Você precisa ser forte por João Pedro. Ele está lutando, e você deve estar ao lado dele. A recuperação não é só sobre ele, é sobre todos nós superarmos isso juntos. Se você não estiver lá para ele, vai ser ainda mais difícil para ele enfrentar isso.

        Jão olhou para Anna, sentindo o peso das palavras dela. - Eu... eu vou tentar. Eu não quero que ele sinta que eu o abandonei. Vou pensar em uma maneira de ir vê-lo e estar ao lado dele.

No Hospital

       Anna voltou ao hospital com um novo sentido de esperança. Ela encontrou João Pedro acordado e esperando por notícias. - Eu falei com seu pai... - Anna disse, tentando trazer um pouco de conforto. - Ele está começando a perceber a importância de estar aqui com você. Ele quer tentar.

       João Pedro olhou para Anna com uma mistura de ceticismo e esperança. - Ele realmente vai vir? Ou é apenas mais uma promessa vazia?

       - Eu espero que ele venha... - Anna respondeu. - E espero que ele possa encontrar a força para estar com você. Você merece isso, e ele também.

        As semanas passaram, e Jão finalmente tomou coragem para ir ao hospital. Ele chegou com um coração pesado e um sentimento de culpa que parecia intransponível. Ao entrar no quarto de João Pedro, ele encontrou o filho com um olhar cansado, João Pedro estava sedado e entubado, pois havia sido uma noite difícil e ele teve complicações.

        - Oi, João Pedro... - Jão disse, com a voz tremendo. - Eu... eu vim para ficar com você. Desculpe por não ter estado aqui antes.

        João Pedro mexeu o olho e fez uma expressão de felicidade por seu pai ter ido lhe visitar, Jão não conseguia ficar por muito tempo naquele ambiente vendo seu filho naquela situação... ele deixou um buque de margaridas brancas em um vaso ao lado da cama de João Pedro e um cartão escrito em um guardanapo de papel desejando melhoras.

         -  Me desculpa filho, eu não posso ficar aqui vendo você dessa maneira. - Jão disse saindo do quarto.