Cavalgada

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      O vínculo entre Jão e Pedro se fortalecia a cada dia. Desde a confissão no celeiro, os dois jovens tornaram-se inseparáveis, compartilhando momentos intensos e alegres, seja nadando na represa, andando a cavalo ou simplesmente passando horas conversando à beira da fogueira.

      Certa tarde, enquanto passeavam pela fazenda, Pedro sugeriu — Jão, o que acha de darmos uma volta a cavalo? O tempo está perfeito.

      — Ótima ideia! — respondeu Jão, com um sorriso contagiante. — Vou preparar as selas.

      Enquanto Jão se dirigia ao estábulo, Pedro foi atrás dele. Ao chegarem, Iza os observava de longe, os olhos cheios de ciúmes e ressentimento. Sentia-se cada vez mais deixada de lado, e isso a corroía por dentro. Tomada pela raiva, decidiu que precisava fazer algo para separar os dois.

      Enquanto os meninos conversavam e se preparavam, Iza encontrou uma oportunidade. Disfarçadamente, aproximou-se da cela de Pedro e afrouxou algumas fivelas, de forma que parecesse um acidente.

      — Pronto! — disse Jão, orgulhoso. — Estamos prontos para cavalgar!

     — Vamos lá, então! — Pedro respondeu, montando em seu cavalo.

      Os dois saíram em disparada pelos campos, rindo e gritando de felicidade. A brisa fresca e o cheiro da grama recém-cortada tornavam o momento perfeito.

      — Ei, Jão! — gritou Pedro, olhando para trás. — Aposto que não me pega!

      — Ah, é? — Jão sorriu. — Vamos ver!

      Eles aceleraram, sentindo a adrenalina pulsar. No entanto, de repente, o cavalo de Pedro tropeçou e a cela se soltou. Pedro perdeu o equilíbrio e caiu pesadamente no chão, gemendo de dor.

      — Pedro! — gritou Jão, desesperado, descendo rapidamente do cavalo e correndo até o amigo. — Você está bem?

      Pedro tentava se levantar, mas seu tornozelo estava visivelmente torcido. — Acho que torci o tornozelo, Jão. Mas estou bem.

       Jão ajudou Pedro a se levantar, apoiando-o cuidadosamente. — Vamos devagar. Preciso te levar de volta.

      Com dificuldade, conseguiram retornar à fazenda. Iza os observava de longe, fingindo preocupação, mas por dentro se sentia vitoriosa. Seu plano estava dando certo.

      — O que aconteceu? — perguntou Iza, correndo até eles.

      — A cela do cavalo de Pedro se soltou. Ele caiu e machucou o tornozelo — explicou Jão, preocupado.

      — Nossa, que azar! — exclamou Iza, tentando esconder seu sorriso. — Precisamos levá-lo para dentro e cuidar desse machucado.

      Com cuidado, Jão e Iza ajudaram Pedro a se sentar na sala, onde a mãe de Jão trouxe gelo e ataduras para o tornozelo inchado.

      — Obrigado, dona Mariana — agradeceu Pedro, tentando sorrir apesar da dor.

      — De nada, meu querido — respondeu ela, carinhosa. — Precisamos garantir que você fique bem.

       Nos dias que se seguiram, Jão ficou ainda mais próximo de Pedro, cuidando dele e garantindo que se recuperasse. No entanto, uma sombra de desconfiança começou a se formar na mente de Pedro. Ele não conseguia entender como a cela havia se soltado. Por mais que tentasse afastar o pensamento, uma parte dele começou a suspeitar que Jão pudesse ter sido descuidado.

      Certa noite, enquanto os dois estavam na varanda, Pedro decidiu falar sobre o assunto — Jão, você acha que a cela pode ter se soltado por descuido? — perguntou Pedro, hesitante.

      Jão olhou para Pedro, surpreso — Não, eu tenho certeza que a chequei direitinho. Deve ter sido só azar mesmo.

      — É, deve ser isso — Pedro respondeu, tentando sorrir, mas a dúvida persistia em sua mente.

      Iza observava de longe, satisfeita com a semente de desconfiança que havia plantado entre os dois amigos. Sabia que, se continuasse agindo com cuidado, poderia separar Jão e Pedro de uma vez por todas.

      Os dias se passavam, e a recuperação de Pedro avançava lentamente. Mesmo com a sombra da desconfiança, ele não conseguia afastar-se de Jão. A amizade e o amor entre eles eram fortes demais para serem quebrados facilmente.

      — Vamos continuar juntos, não importa o que aconteça — disse Jão, segurando a mão de Pedro com firmeza.

      — Sempre — respondeu Pedro, apertando a mão de Jão com um sorriso determinado. 

       Mas Iza não desistiria tão facilmente. Sabia que precisaria de mais do que apenas um acidente para separar os dois. E estava disposta a fazer qualquer coisa para conseguir o que queria.

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