Turbulências

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       O hospital do interior, embora tivesse prestado os primeiros socorros e mantido Pedro estável até então, era precário demais para lidar com a gravidade do estado dele. Cada minuto que passava aumentava o risco de que Pedro não sobrevivesse. Jão, desesperado, sabia que precisava agir rápido.

       Na manhã seguinte, o médico responsável pelo caso de Pedro chamou Jão para conversar. Com um olhar sério, ele não hesitou em expor a situação. 

       -Sr. João, precisamos ser francos... O estado do seu marido é crítico. Este hospital não possui os recursos necessários para tratá-lo adequadamente. Se ele não for transferido para uma unidade mais equipada em São Paulo, temo que ele não sobreviva mais uma noite.

       Jão sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Seus piores medos estavam se tornando realidade. Ele não podia, de maneira alguma, deixar Pedro morrer ali, naquele lugar desconhecido, longe de tudo e de todos. 

        -Não, doutor. Isso não pode acontecer. Eu não vou permitir que Pedro morra assim, sozinho, sem poder se despedir. Ele precisa de uma chance, de todos os recursos possíveis. Ele merece isso.

        - Então precisamos agir rápido - disse o médico -Recomendo que você providencie um transporte aéreo com UTI móvel. Isso será caro, mas é a única maneira de transferi-lo com segurança.

       Jão não hesitou. Dinheiro não era problema. Ele já estava pegando o celular para fazer as ligações necessárias. 

      - Eu farei isso agora mesmo. Não me importa quanto vai custar. Só preciso que Pedro chegue em segurança a São Paulo.

        As horas seguintes foram um turbilhão de ligações, arranjos e ansiedade. Jão contratou um helicóptero de emergência, equipado com tudo que Pedro precisaria para sobreviver à viagem. Era a única chance de salvá-lo. No entanto, enquanto esperavam o helicóptero chegar, a situação de Pedro continuava a se deteriorar.

        Jão segurava a mão de Pedro com força, a pele dele estava fria, e sua respiração era tão fraca que parecia inexistente. Jão podia sentir o peso do tempo passando, cada segundo mais agonizante que o anterior.

      -Pedro, você vai sobreviver a isso. Eu prometo... - Jão dizia, tentando esconder a própria angústia. - Você é forte, mais forte do que qualquer um que eu conheço. E nós vamos passar por isso juntos, como sempre fizemos.

      O céu começou a escurecer quando finalmente ouviram o som distante das hélices do helicóptero se aproximando. Mas junto com o helicóptero, veio uma forte tempestade. O vento soprava com violência, e a chuva batia nas janelas do hospital como se o próprio céu estivesse contra eles.

       -Não, não agora - Jão sussurrou para si mesmo, sentindo o medo apertar seu coração. - Por favor, que tudo dê certo.

       Quando o helicóptero pousou, uma equipe médica altamente treinada entrou rapidamente no hospital para preparar Pedro para a transferência. Jão observava cada movimento, cada tubo sendo ajustado, cada máquina sendo conectada. Tudo parecia acontecer em câmera lenta, e ele só conseguia pensar em quanto tempo Pedro ainda tinha.

        Com Pedro devidamente estabilizado e pronto para a viagem, a equipe o levou até o helicóptero. A chuva e o vento faziam o transporte parecer uma missão impossível, mas Jão seguiu firme, ao lado de Pedro. Ele entrou no helicóptero, recusando-se a deixar o lado do marido, mesmo com os médicos recomendando que ele ficasse em terra firme. 

       - Não vou deixá-lo. Ele precisa de mim.

         A decolagem foi um dos momentos mais tensos que Jão já havia vivido. O helicóptero balançava sob a força da tempestade, e a sensação de impotência era esmagadora. Jão segurava a mão de Pedro o tempo todo, murmurando palavras de conforto, mesmo sabendo que Pedro estava inconsciente.

        O voo foi turbulento, a cada rajada de vento o helicóptero sacudia, e Jão sentia seu coração saltar no peito. Ele olhava para Pedro, cujas pálpebras estavam fechadas, o rosto pálido e inerte. O som das máquinas monitorando seus sinais vitais era o único indicador de que ele ainda estava vivo. Cada bip do monitor era uma centelha de esperança, um lembrete de que Pedro ainda estava ali, lutando.

       - Você vai aguentar, Pedro - Jão dizia, com os olhos marejados, tentando controlar o pânico que tomava conta de seu corpo. - Estamos quase lá. Só mais um pouco, e você estará em um lugar onde podem cuidar de você. Eu estou aqui. Sempre estarei aqui.

          A chuva parecia interminável, a escuridão do céu apenas aumentando a sensação de desespero. Mas Jão se mantinha firme, focado em Pedro. A cada solavanco, ele apertava mais a mão de Pedro, como se isso fosse suficiente para mantê-lo seguro.

        Finalmente, após o que pareceram horas de um voo interminável, o helicóptero começou a descer, as luzes de São Paulo surgindo através da tempestade. O hospital que Jão havia escolhido estava pronto para recebê-los, com uma equipe de médicos especialistas aguardando a chegada de Pedro.

       O pouso foi suave, apesar das condições climáticas adversas. Assim que o helicóptero tocou o solo, Pedro foi rapidamente transferido para uma ambulância que o levaria diretamente para a UTI do hospital. Jão seguiu ao lado dele, seu coração ainda batendo forte no peito, mas agora com uma leve sensação de alívio. Eles haviam chegado.

        No hospital, Pedro foi levado imediatamente para a UTI. Os médicos começaram a trabalhar rapidamente, conectando-o a equipamentos mais avançados, administrando medicamentos e realizando procedimentos para estabilizá-lo. Jão foi levado para uma sala de espera, onde a tensão era quase insuportável. Ele não conseguia parar de pensar em Pedro, em como tudo havia chegado a esse ponto.

       Horas se passaram, mas para Jão, pareciam dias. Finalmente, um médico saiu da UTI e se aproximou. Jão levantou-se rapidamente, seu coração batendo acelerado.

        - Seu marido está estável agora, - o médico disse, com um tom que misturava seriedade e compaixão. - Foi uma transferência arriscada, mas vocês chegaram a tempo. Vamos monitorá-lo de perto nas próximas 24 horas. Este é um momento crucial.

       Jão sentiu um peso ser removido de seus ombros, mas sabia que ainda não era hora de relaxar. Pedro estava longe de estar fora de perigo. Ele seguiu o médico até a UTI, onde pôde ver Pedro deitado na cama, cercado por máquinas e tubos, mas vivo.

         Ele se aproximou lentamente, sentindo a dor e a esperança misturadas dentro de si. - Você conseguiu, amor, - Jão sussurrou, enquanto se sentava ao lado de Pedro e segurava sua mão. - Estamos em São Paulo. Eles vão cuidar de você agora.

       Pedro ainda estava inconsciente, mas sua respiração era mais estável, e os monitores mostravam sinais vitais que, embora fracos, estavam constantes. Jão sentiu um misto de alívio e exaustão, sabendo que haviam superado mais um obstáculo, mas ciente de que a batalha ainda não havia terminado.

       Ele permaneceu ao lado de Pedro, segurando sua mão, enquanto o som das máquinas preenchia a sala. A chuva continuava a cair lá fora, mas dentro daquela sala, Jão se permitiu, por um breve momento, acreditar que havia esperança.

       - Eu não vou a lugar nenhum. - Jão disse, com a voz firme. -Você não está sozinho, Pedro. Nunca esteve, e nunca estará. Nós vamos passar por isso juntos, como sempre fizemos. Eu te amo, e vou estar aqui até o fim.

      Jão continuou a vigília, determinado a permanecer ao lado de Pedro, não importando quanto tempo levasse. Ele sabia que o caminho ainda seria longo e doloroso, mas estava pronto para enfrentá-lo, desde que tivesse a chance de continuar lutando ao lado do homem que amava.

       Aquela noite seria lembrada por Jão como uma das mais difíceis de sua vida, mas também como um testemunho do amor inabalável que ele e Pedro compartilhavam, um amor que continuava a resistir a todas as adversidades, mesmo quando tudo parecia perdido.

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