Milagre

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       Jão estava sentado ao lado da cama de Pedro, o coração apertado ao observar o marido entubado, rodeado de máquinas que monitoravam seus batimentos cardíacos. Ele segurava a mão de Pedro, sentindo a pele fria e pálida, e o silêncio da sala era cortado apenas pelo som dos monitores. As últimas horas tinham sido um pesadelo interminável, e cada minuto que passava aumentava a angústia de Jão. Ele mal conseguia pensar em outra coisa além da possibilidade de perder Pedro.

       Então, o médico entrou na sala, com uma expressão que misturava seriedade e algo mais, uma pequena chama de esperança, talvez? Jão imediatamente se levantou, o coração batendo mais rápido. - Doutor, como ele está? Alguma notícia?

      O médico respirou fundo antes de responder. - Sr. João, eu sei que a situação parece terrível agora, e de fato, é muito grave. Mas há algo que preciso compartilhar com você. Recentemente, uma equipe de pesquisadores começou a desenvolver um novo tratamento para Esclerose Lateral Amiotrófica, a condição que o Pedro tem. Eles estão nos estágios finais dos testes, e os resultados preliminares são incrivelmente promissores.

        Jão piscou, tentando processar a informação. - Uma cura... Você está dizendo que existe uma chance de cura para o Pedro?

      O médico assentiu. - Ainda não é uma cura completa, mas é um tratamento que pode interromper o avanço da doença e, em alguns casos, até reverter parte dos danos causados. Se Pedro conseguir resistir mais algum tempo, há uma chance real de que ele possa se beneficiar desse tratamento.

        Jão sentiu uma onda de emoções varrer seu corpo. Alegria, esperança, e ao mesmo tempo, medo. Ele olhou para Pedro, ainda entubado, os batimentos cardíacos fracos. - Mas... e se ele não resistir até lá? Ele está tão frágil, doutor. Olha para ele.

        O médico colocou uma mão no ombro de Jão. - Eu sei que é difícil, mas temos que acreditar que ele pode conseguir. No entanto, também precisamos ser realistas. Pedro está em um estado muito crítico. É um milagre que ele tenha sobrevivido até agora.

        Jão sentiu uma mistura de esperança e desespero. Por um lado, a notícia de um possível tratamento enchia seu coração de esperança, mas por outro, a realidade diante de seus olhos era devastadora. Pedro estava tão debilitado que parecia uma questão de tempo até que seu corpo não aguentasse mais.

     As noites seguintes foram intermináveis. Jão não saiu do lado de Pedro por um segundo. Ele segurava a mão dele, sussurrava palavras de encorajamento, prometia que tudo ficaria bem. Anna e João Pedro revezavam entre a sala de espera e o quarto de Pedro, oferecendo apoio a Jão e tentando manter alguma aparência de normalidade, embora todos estivessem apavorados.

        Foi em uma dessas noites, enquanto Jão cochilava na cadeira ao lado de Pedro, que algo inesperado aconteceu. Ele foi acordado pelo som dos monitores. Os batimentos cardíacos de Pedro, que antes estavam tão fracos, começaram a subir. Jão abriu os olhos, confuso no início, mas logo percebeu que algo estava mudando.

       - Pedro? - ele se inclinou mais perto, observando com os olhos arregalados enquanto a cor começava a voltar ao rosto de Pedro. Era uma mudança sutil, mas real. A pele pálida ganhava um tom rosado, e os batimentos, antes fracos, agora eram mais fortes e constantes.

         - Pedro! - Jão gritou, incapaz de conter a emoção que subia em sua garganta. - Doutor! Enfermeira! Alguém, por favor!

         O som de seus gritos ecoou pelo corredor, e em questão de segundos, a equipe médica invadiu o quarto, acompanhada por Anna e João Pedro que estavam no corredor. Todos estavam em choque. O médico, incrédulo, checou os monitores e os sinais vitais de Pedro.

          - Isso é... um milagre - disse o médico, sem esconder a surpresa em sua voz. - Pedro não deveria estar melhorando assim. Na verdade, ele deveria ter sucumbido, não há outra explicação.

            Pedro começou a abrir os olhos lentamente, piscando como se estivesse acordando de um longo sonho. Jão, com lágrimas nos olhos, se inclinou mais perto, segurando o rosto de Pedro com as mãos.  - Pedro, você está me ouvindo? Você está acordado?

          Pedro, ainda grogue, olhou ao redor da sala, seu olhar finalmente se fixando em Jão. Um pequeno sorriso, fraco, mas cheio de vida, apareceu em seu rosto. - Jão... - ele sussurrou, com a voz rouca e fraca, mas clara o suficiente para ser entendida. - Eu estou aqui.

           Jão soluçou de alegria, sem conseguir segurar as lágrimas que agora corriam livremente por seu rosto. - Você conseguiu, amor. Você conseguiu!

            Os médicos e enfermeiros se moveram rapidamente, checando Pedro de cima a baixo, tentando entender o que havia acontecido. Era uma recuperação que desafiava toda a lógica médica.  - Vamos mantê-lo em observação por mais alguns dias - disse o médico, ainda incrédulo. - Mas... com base nos sinais vitais e na resposta do corpo, posso dizer que Pedro está se estabilizando.

         As palavras do médico trouxeram uma onda de alívio para todos na sala. Jão olhou para Pedro, que agora estava mais alerta, e sorriu, sentindo como se um enorme peso tivesse sido retirado de seus ombros.

      - Eu te amo tanto, Pedro. Não sabe o medo que eu senti... Mas agora tudo vai ficar bem....- Jão sussurrou, ainda segurando a mão de Pedro.

         Pedro, ainda muito debilitado, mas claramente mais consciente, tentou rir, embora fosse mais um som rouco e fraco. - Eu... eu ainda estou aqui, Jão. Não vou a lugar nenhum.

          Nos dias seguintes, Pedro continuou a melhorar. Ele estava fraco, mas estava estável e, surpreendentemente, conseguia conversar e até sorrir, mesmo que fosse apenas por curtos períodos. Finalmente, os médicos tomaram a decisão de lhe dar alta, embora com o aviso de que qualquer sinal de piora deveria ser tratado imediatamente.

            Enquanto saíam do hospital, Jão empurrava a cadeira de rodas de Pedro, sentindo um misto de esperança e ansiedade. - Nós vamos enfrentar isso juntos, Pedro. E com essa notícia sobre o novo tratamento, eu sei que temos uma chance real.

           Pedro, apesar da fragilidade, sorriu.  - Sim, Jão. E eu prometo... vou lutar com todas as minhas forças. Vamos sair dessa, juntos.

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