Rancor

12 5 29
                                    

       O dia começou cedo para Jão e Pedro, que estavam ansiosos para conhecer João Pedro, o filho de Iza. A revelação de que Iza estava viva trouxe uma montanha-russa de emoções, e agora eles estavam prestes a conhecer o pequeno milagre que havia sobrevivido ao acidente junto com sua mãe.

       No hospital, ao entrarem na sala de recreação infantil, foram recebidos pela visão de um garotinho brincando com blocos coloridos. Mariana estava ao lado, observando-o com um sorriso amoroso.

       — João Pedro, esses são seus tios — disse ela, apontando para Jão e Pedro.

       Pedro, com os olhos marejados de emoção, ajoelhou-se ao nível de João Pedro e estendeu a mão.

       — Oi, João Pedro. Eu sou seu tio Pedro — disse ele, a voz trêmula.

       O garoto olhou para Pedro com curiosidade, então sorriu e apertou a mão dele.

       — Oi, tio Pedro! — respondeu ele alegremente.

       Jão observava a cena com um misto de emoções. Ele ainda estava processando toda a situação, e o ressentimento que sentia por Iza ainda estava latente. Mas ver Pedro tão emocionado ao conhecer seu irmãozinho tocou algo dentro dele.

       Pedro começou a chorar de emoção, abraçando o garoto.

       — Você é tão lindo, João Pedro. Estou tão feliz que você está aqui conosco — disse Pedro, a voz embargada.

       Jão, por sua vez, manteve-se mais distante, observando a interação com um olhar pensativo.

      Algumas noites depois, Jão voltou ao hospital sozinho. Ele estava lutando contra os sentimentos conflitantes em relação a Iza. Ela estava viva, mas a dor e o rancor por tudo que aconteceu ainda o atormentavam.

        Entrando silenciosamente no quarto de Iza, ele a viu dormindo tranquilamente. Seus pensamentos estavam sombrios, e ele sentia uma raiva crescente.

       — Você estragou minha vida uma vez, mana. Não vou deixar você fazer isso novamente... — murmurou ele, os olhos brilhando com uma mistura de dor e fúria.

       Ele se aproximou do armário de medicamentos, pegou uma seringa e, com mãos trêmulas, ejeta o ar na sonda do soro de Iza. O monitor de sinais vitais começou a emitir alertas, e o coração de Iza deu uma última batida antes de parar.

      Jão, fingindo desespero, chamou os médicos.

      — Tem algo errado com a minha irmã! Ajudem, por favor! — gritou ele.

        Os médicos correram para o quarto, tentando reanimar Iza, mas era tarde demais. O coração dela havia parado de bater.

       Na sala de espera, Pedro estava em choque, incapaz de acreditar no que estava acontecendo. Jão se aproximou, tentando manter a compostura.

       — Pedro, Iza... ela se foi — disse Jão, a voz cheia de falsa tristeza.

       Pedro desabou em lágrimas, abraçando Jão.

       — Não pode ser... nós acabamos de reencontrá-la. Não é justo! — soluçou Pedro.

         Jão manteve o abraço, seus próprios sentimentos um turbilhão de culpa e alívio.

        Mais tarde, no hotel, Pedro estava inconsolável. Jão sentia um peso esmagador em seu coração, mas sabia que agora precisava manter a fachada.

       — Pedro, vamos superar isso juntos. Eu prometo — disse ele, tentando confortar Pedro.

       Pedro assentiu, ainda chorando.

       — Eu só queria que ela tivesse mais tempo... para se lembrar de tudo, para conhecer João Pedro melhor... — disse Pedro, a voz quebrada.

       Jão segurou a mão de Pedro com firmeza.

        — Ela está em paz agora, Pedro. E nós vamos honrar a memória dela, cuidando de João Pedro e seguindo em frente — disse ele, tentando soar convincente.

        Pedro assentiu, ainda em lágrimas, mas determinado a seguir em frente com Jão.

       Nos dias seguintes, Jão e Pedro começaram a planejar o futuro. Jão estava determinado a proteger Pedro e João Pedro, enquanto Pedro tentava lidar com a perda de Iza e encontrar uma nova normalidade.

       Apesar da dor e do luto, eles sabiam que precisavam seguir em frente, mantendo viva a memória de Iza e garantindo um futuro brilhante para João Pedro.

Simples e RomânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora