2. Como se não houvesse amanhã

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Estava tudo indo conforme eu imaginei, ou pelo menos tudo já que o homem que representava o meu noivo não tirava os olhos de mim, então tive que improvisar e durante o jantar comecei a fazer algumas caretas e apenas sorria quando alguém falava comigo.

— Me perdoem, mas preciso me ausentar por alguns minutos — sorrio enquanto a minha mãe me olhava como se fosse me matar ali na frente de todos.

— Aconteceu alguma coisa? — como o esperado, ele me perguntou, abaixo a cabeça como se estivesse envergonhada.

— Infelizmente estou... Bem, estou com cólica, não queria trazer esse assunto, mas realmente preciso me ausentar.

— Iris — a minha mãe faz sinal para me sentar novamente, mas o homem se levanta vindo até a minha cadeira, não me lembro do nome dele já que se parece algo com toco, como não entendi acho melhor não arriscar dizer o seu nome.

— Ele nunca vai me perdoar se permitir que a sua noiva passou dor — a forma como ele se referia ao meu noivo parecia que ele tinha medo além do respeito, mas de qualquer forma ele puxou a minha cadeira me permitindo levantar.

Agradeço com um sorriso e saio para o meu quarto tentando ao máximo não correr, mas assim que fechei a porta já me livrei daqueles saltos e já fui puxando o vestido para colocar a roupa que havia preparado.

Assim que coloco o meu tênis escuto batidas na porta, era aquele homem, merda... pensa rápido... puxo toda a roupa para o banheiro e abro apenas uma parte da porta, mas o seu olhar percorreu o quanto pode do meu quarto.

— Desculpa, mas vou precisar trocar o vestido, pode me aguardar mais uns dez minutos?

— Claro, não demore — o seu olhar encontra com o meu e sinceramente não sei como os meus pais se envolveram com eles, a sua fama não era das melhores.

A fama do grupo Hensei era que eles tinham apoio da Yakuza, ou seja, não eram pessoas para se ter como inimigos. Era o que uma pessoa sensata e com juízo levaria em consideração, mas se tem uma coisa que eu não tenho é juízo.

Respiro fundo e abro a minha janela, me preparando para pular, era apenas o segundo andar, então não iria causar muitos danos, ou era assim que eu me lembrava...

Respiro fundo e pulo com os olhos fechados, mas me lembro de forçar o meu corpo para frente me fazendo rolar e não me espatifar no chão.

O meu pulo pelo jeito fez mais barulho do que eu planejei e logo começaram a gritar em um idioma que não faço ideia de qual seja, mas também não fiquei para entender e sai correndo como se não houvesse amanhã.

Com todo tumulto eles nem perceberam quando passei pelo portão, não me atrevi a parar de correr, muito menos de olhar para trás, mesmo que não estivesse mais os ouvindo tenho certeza que ainda estão atrás de mim.

— Shiiii... — sou puxada com tudo para dentro de uma porta, o lugar estava escuro e a pessoa pelo jeito era o dobro do meu tamanho, já que a sua mão não tampou somente a minha boca.

— Ar... — consigo falar abafado atrás da sua mão enquanto a minha respiração ainda estava acelerada.

— Eles ainda estão ali fora e qualquer barulho eles entram aqui e te levam — apenas confirmo com a cabeça e assim que dou um passo para frente a porta é aberta com tudo.

Ele me puxa de uma vez contra o seu corpo, mas desta vez não tampa a minha boca e eu como não sou burra prendi até a respiração para não correr o risco de fazer nenhum barulho.

Logo uma arma passou rente por onde eu estava, mas ele me mantinha imóvel o momento todo. Escuto ele falando alguma coisa e logo se afasta, sinto dois toques na minha barriga e volto a ficar imóvel.

Após alguns minutos ele me solta, quando vou sair por onde entrei, mas ele me puxou para irmos na direção contrária, tentei me soltar de todas as formas, mas o seu aperto era forte e consegui apenas o seguir.

— Se não percebeu, minhas pernas são curtas.

— O que fez para irritar eles?

— Não sei quem são el... — sou prensada contra a parede enquanto a sua mão me segurava pelo pescoço — Puta merda que susto seu idiota.

— Sem mentiras.

— Eu fugi dele e vou continuar fugindo.

— Boa sorte — ele começa a rir e sai andando, acabo indo atrás dele quando vejo um carro que pelo jeito é muito caro a nossa frente — Entra no carro.

— Nem pensar e se você me levar de volta?

— Então, por que te ajudei? Se fosse te fazer alguma coisa já teria feito.

— Não sei o seu nome.

— Isso realmente é importante? — ele respira fundo mordendo os lábios — Otto.

— Do quê?

— Você é chata para caralho, né? Otto Unmei, satisfeita? Agora entra no carro e vamos dar o fora daqui.

— O que vai cobrar em troca Otto? Por que está me ajudando?

— As pessoas que estão atrás de você não vão ser nada gentis quando colocar as mãos em você, vou te deixar num lugar que vai ficar segura.

Apenas confirmo com a cabeça entrando dentro do carro, ele parou em um posto de gasolina próximo a rodoviária e novamente vejo aqueles homens passar por ele, não era justo ele se machucar por minha causa.

Sem pensar muito saio correndo e entro no primeiro ônibus que vejo com a porta aberta, o motorista me olha assustado e quando ergue o olhar deve ter visto o Otto, pois fecha a porta e me manda entrar atrás do seu banco.

Alguns tiros fazem o motorista abrir a porta novamente, eles entram com tudo no ônibus, mas como não me encontram saem sem falar nada. Após bons minutos que o ônibus está em movimento que o motorista me manda ir para algum acento, mas me pediu para ficar próxima vai que preciso me esconder novamente.

Sinto alguém me cutucando e quando finalmente abro os olhos, percebo que já amanheceu, não faço a menor ideia de onde estamos, mas sei que está bem frio, agradeço e quando saio do ônibus começo a olhar ao redor, mas o motorista me informou que aqui não seria procurada.

— Onde estou?

— Londrina, se cuida garota — ele sorri fraco quando volta para o ônibus já saindo em seguida.

— Puta merda vim parar no sul do país, agora preciso comer alguma coisa e achar um lugar para ficar... e certamente um banho.

Fugindo DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora