60. E agora?

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A minha vinda até a Rússia não foi calma e tranquila como deveria ser, já que meu pai estava em pânico com medo de algo que não quis me contar, mas acabou relaxando quando o médico que nos acompanhou parou para escutar o coração que batia forte na minha barriga.

O olhar dele não estava confiante e assim que chegamos na Rússia eu pedi por consultas, como odeio médicos o pedido foi atendido no mesmo instante e ali entendi o olhar receoso do médico que nos acompanhou.

— Parabéns, o casal está forte e se desenvolvendo muito bem — a nossa cara de espanto fez os dois médicos paralisarem — Eu disse algo que não devia?

— Primeiro que eu nem sabia que estava grávida há dias atrás e agora acabei de descobrir que são gêmeos e que é um casal — a minha voz calma e o meu sorriso o acalmou.

Ele me passou mais informações da gestação que era de alto risco, então o repouso era essencial, afinal o quanto mais eles ficassem dentro da minha barriga menos eles teriam que ficar internados.

A ordem era clara, ninguém entrava no complexo onde agora estou morando, tentei conversar sobre aquele dia tanto com os gêmeos como o Itoko, mas acabei passando mal.

O acompanhamento médico era feito a cada dois dias e Itoko ou o meu pai estava sempre comigo a noite, pois pesadelos com aquela caixa ainda me atormentavam.

— Itoko...

— Tudo bem, mas respira fundo ou nunca mais te conto nada — apenas obedeci e controlando a minha respiração me mantive calma — Não acredito que seja o Otto, mas também não consegui falar com ele, mas os seus irmãos queimaram a caixa junto com a cabeça decretando que você ficou viúva.

— Acredita que ele morreu sem saber que seria pai?

— Não, para mim ele ainda está vivo, já passei anos sem contato com ele, então sete meses não são nada — apenas confirmo com a cabeça — Como a Anne e o Viktor estão?

— Agitados, não estou conseguindo dormir.

— Vem, vamos gelar a barriga, quem sabe assim eles se aquietam — ele abre a sacada onde sempre escondidos damos algumas voltas.

Não muito, mas o suficiente para que eu sinta frio, o que não demora muito, então voltamos logo para o quarto. A minha agitação ainda está aqui, então para não preocupar eles eu peço para dormir sozinha hoje.

A minha interpretação pelo jeito foi muito boa já que o Itoko não argumentou, mas avisou que estaria no quarto ao lado se precisar. Dormir deitada eu nem me lembro mais como é então, apenas me acomodo no meio daqueles vários travesseiros para pelo menos repousar.

Começo a sentir o vento gelado na minha pele, mas me lembro do Itoko ter fechado a porta da sacada, mas assim que abro os olhos vejo um homem na minha frente tocando o meu rosto.

O meu grito foi tão imediato e assustado que em questão de segundos estavam todos no meu quarto, mas aquele homem não se importou com as armas e pulou na minha direção segurando o meu rosto.

— Meu amor, sou eu, apenas respira — lentamente fui entendendo que aquela voz conseguiu me acalmar já que era a mesma voz do Otto.

— Você... morto... — começo a ficar mole, mas aquela mão gelada na minha nuca me trouxe de volta.

— Não, só demorei um pouco mais para retornar, pois todos me consideraram morto — os seus olhos descem para a minha barriga — É o que eu estou pensando?

— Não idiota, eu comi um rinoceronte — começo a dar tapas no Otto sem me importar estava acertando, até que meu pai o ajuda a me segurar.

— Lembra que eles ainda precisam de tempo — a voz preocupada do meu pai me trouxe de volta a realidade e com isso voltei a controlar a minha respiração.

— Não vai adiantar, leva ela para dar uma volta lá fora — Itoko me ajuda a levantar, mas não tentou me separar do Otto.

Quando saímos ainda escutei ele se explicando que o vento gelado nos acalma, mas os três protetores estavam surtando ainda lá dentro e isso me fez rir. Otto não sabia se olhava onde estava me levando, ou a barriga que estava enorme ou o meu rosto.

— Descobri que estava grávida quando recebi uma caixa com um troféu.

— Vou matar a Zuri, não era para você receber aquela cabeça, é a pessoa que estava auxiliando a Morrigan.

— Acabou Otto? Ou vai se aventurar...

— A minha única aventura agora é vocês, todos que estavam atrás de nós, estão mortos e só não cheguei antes por que o Wenyi me segurou no meio do caminho querendo explicações, pois de acordo com ele não foi convidado para festa.

— Sete meses...

— Eles transformaram esse complexo em uma fortaleza, eu demorei para conseguir entrar sem matar ninguém — ele toca no meu rosto enxugando algumas lágrimas que escorriam — Me perdoa não estar do seu lado esse tempo todo, mas agora eu estou aqui, me deixa ficar.

— Chega de gelar a barriga e a bunda, para dentro já — Itoko nos chama da porta como se fossemos crianças e isso me fez rir baixo.

— Para de ser chato.

— O seu nariz já está vermelho, depois quem fica te aguentando fungando sou eu — Otto não se aguenta e começa a rir baixo — Bem lembrado agora é ele...

Assim que entramos no quarto os três me olhavam apreensivos e quando eu perguntei como eles identificaram que era o Otto, Anton apenas disse que viu um homem oriental, como ele ia saber que era outra pessoa, de acordo com ele os orientais são todos iguais.

Isso me fez cair na gargalhada, afinal eu chamei o Uragiri de xinguilingue justamente por pensar isso. Otto explicou por cima quem era aquele homem, mas pulou muitas partes e deixou claro que Zuri estava o tempo todo o irritando perguntando se ele já havia morrido para ela vir ao meu encontro.

Mas quando ele se feriu foi ela que o socorreu e ajudou a cuidar dele, no fim os dois agora são amigos, desde que eu não esteja nos braços dela e sim nos dele, enfatizou também que a Morrigan e todos que estavam a apoiando estão mortos.

Quando o meu pai perguntou sobre a organização, eu senti o meu coração gelar, mas Otto me garantiu que não está mais envolvido e deixou claro que ela está à minha disposição se caso precisar.

— Estou bem... — prendo a respiração sentindo as minhas pernas se molharem — Ocupada.

— Iris — Otto olha para mim preocupado e quando o seu olhar desceu junto ao meu o caos reinou ali no quarto novamente.

— PAREM — solto um grito paralisando todos pelo susto — Anne e Viktor estão nascendo, então vocês não vão entrar em pânico, não vão ameaçar nenhum médico de morte, não vão gritar ou me irritar, eu fui clara?

Os quatro apenas confirma com cabeça enquanto Otto ainda me olhava espantando, afinal eu falei com mais calma do que eu já tive em toda a minha vida. O que o Otto não sabe ainda é que já me fizeram trocar de médicos várias vezes por conta de ameaças.

— E agora? — Otto me pergunta respirando fundo.

— Vamos viver, vamos nos dedicar a nossa família — um sorriso cresce no seu rosto e isso me fez sorrir também.

Fugindo DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora