6. Tatuagens

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Ele poderia estar com sono, mas eu já tinha dormido tudo e mais um pouco, mas de qualquer forma não me atrevi a fazer barulho. Os meus olhos percorreram por todo o quarto até chegar nele.

Suas costas estavam quase toda tatuada, mas olhando melhor elas escondem ondulações. Os meus dedos acabam indo de encontro a elas e tenho a confirmação que são cicatrizes.

— Desculpa, não queria te acordar — já comecei a me defender assim que escutei o seu suspiro.

— Mentirosa — eu havia afastado a minha mão, mas já que ele está sendo chato, eu vou ser pior que ele.

— Não menti, mas já que já acordou me explica — giro o meu corpo sobre o dele e fico sentada em cima a sua bunda, já que ele continua deitado.

— Você não tem medo?

— De você não, se fosse me matar não teria cuidado de mim, agora me explica o que são e o que significa.

Ele apenas suspirou novamente e ficou em silêncio, mas não me tirou de cima dele. Ainda curiosa comecei a percorrer com os dedos as tatuagens. No alto das suas costas estava escrito uma frase que ele me explicou que estava em latim.

Claro que insisti até me contar o significado "A sorte favorece os corajosos" nas pontas estavam as chamas e do outro lado uma cabeça de lobo, como ele se manteve em silêncio eu não insisti.

Nem precisaria, essas eu lembro o significado, afinal foram eles que trouxeram o corpo da minha irmã, devo ter ficado presa nos meus pensamentos por tempo demais já que ele estava me chamando.

— Ei, roxinha, está a salvo agora — apenas me encolhi saindo de cima dele — Você já sabia os significados e mesmo assim perguntou, por quê?

— Não sei, apenas reconheci o fogo e lobo — agora foi a vez dele me puxar até que eu finalmente olhasse em seus olhos — As pessoas que trouxeram o corpo da minha irmã tinha esses dois.

— O fogo é purgatório, lembrando que nada fica impune e o lobo é...

— São os mais perigosos, são os que devemos nos manter longe, mas mesmo assim é um deles que me ajudou.

O momento drama não dura muito já que agora tenho a visão da frente e esses, sim, me empolgou mais ainda. No seu peito estava tatuado os portões do inferno e cerberus o cachorro de três cabeças que guarda o portão.

Dessa vez ele não esperou que eu perguntasse e foi me falando que nas costas ainda tem uma caveira, uma cobra e um ceifador com a foice. Eles estavam todos misturados como se fosse um só.

A minha curiosidade foi maior e tento o virar para ver, mas desta vez ele não virou e segurou as minhas mãos. Comecei a rir, pois de todas as formas que tentava me soltar, ele ainda, sim, me segurava.

Até poderia ter me irritado, mas ele estava rindo também e isso me desmontou. Faz tempo que não sorria desta forma e não quero que este sentimento se vá.

Mas ele se foi, já que o telefone do Otto começou a vibrar, seu sorriso se desfez no mesmo instante assim que leu alguma coisa, fiquei quieta para não sobrar para mim.

— Preciso de você.

— Eu deveria correr agora, mas não consigo.

— Eu te salvei e agora você me salva.

Apenas concordei com a cabeça, já que não teria como negar, muito menos questionar. Otto estava furioso e sua mandíbula estava tão marcada que pela primeira vez senti medo.

Não quero parecer a fraca, então engulo o medo e me arrumo na cama, espero que ele não tenha percebido, se bem que ele está nervoso demais para ter reparado em mim.

Espera... por que ele repararia em mim? Preciso realmente de algo para fazer e deixar de pensar nessas coisas. Escuto apenas a porta se fechar, indicando que estou sozinha no quarto novamente.

Isso me deu tempo para voltar nas tatuagens, ele tem o significado de cada uma delas na ponta da língua. O que ele deixou de fora é que de onde elas vieram, posso parecer inocente, mas quando vi aqueles homens eu pesquisei.

O fogo é da Tríade e o lobo é da Rússia, a cobra e caveira é da Yakuza, pelo menos é o que dizem. O que não consigo entender é como ele tem acesso a essas três ao mesmo tempo.

Mas tem mais, a frase em latim, os portões e o ceifador. Isso explica como ele foi tão rápido em matar aqueles homens. O que não consigo entender é o motivo dele me ajudar.

O meu suposto noivo não veio me procurar ainda, isso quer dizer que ele cancelou o contrato ou colocou a minha cabeça a prêmio? A segunda opção pode ter certeza, pois eu colocaria a cabeça dele a prêmio.

Como ele não retornou, me forcei a sair da cama, estava com fome e dor de cabeça. Andar ainda não estava nada fácil, mesmo que já tenha melhorado muito, então me forço a ir segurando nas paredes enquanto vou dando pulinhos até chegar na cozinha.

Otto havia saído, ele me deixou sozinha aqui dentro e nem me contou onde iria. Balanço a minha cabeça para limpar esses pensamentos, não me importa onde ele foi e muito menos o que ele foi fazer.

Me envolvo em preparar alguma coisa para comer já que não sei onde está nada, a minha barriga apenas me avisa desesperada que preciso comer rápido e o pior é que não sei receita de nada, sempre usei o celular ou para pedir comida.

Mas até que consigo me virar, mentira eu encontrei bolacha no armário e pão no congelador, nem me atrevi a olhar a data de validade já que ele comentou que faz tempo que não vem aqui.

— O que os olhos não veem o...

— O cheiro está ótimo e não se preocupe a comida é nova, comprei ontem enquanto você dormia — a voz de Otto me assustou e acabei forçando o pé no chão me fazendo choramingar de dor.

Fugindo DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora