42. Caçula

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Otto tentava de todas as formas esconder a sua raiva com o comportamento do Wenyi, mas falhava completamente e isso me causou uma crise de riso. Assim que chegamos eu ainda estava rindo e ele cada vez mais bicudo.

A sua raiva foi tanta que ele nem entrou no escritório, já eu não consegui chegar mesmo e me sentei no sofá ainda tentando recuperar o fôlego por conta das gargalhadas.

— Não deveria chorar? — Itoko me questiona com receio se deveria ou não se aproximar.

— Eu só queria respostas, mas imbecil do Furui chegou primeiro — Itoko me entrega um copo com água e percebo os olhares do Druga e da Morrigan nas minhas ações tentando me ler — Wenyi apareceu e foi ele mesmo antes de me pedir permissão para caçar Furui.

— Agora está explicado — Druga segurava a risada, mas quando os nossos olhos se encontraram não consegui segurar e voltei a gargalhar.

A Morrigan desviava do meu olhar, mas também não fugia. Mesmo sem me contar nada, eu sei que ela está em uma luta interna se me conta tudo ou não.

Os chamo até o escritório pronta para tirar a força as respostas dela, ou pelo menos tentar entender o rolo todo até Wenyi terminar de brincar. Nunca pensei que fosse pensar com frieza toda, mas dada as circunstâncias, acredito que não tenho outra escolha.

Por mais que eu olhasse tudo, não conseguia encontrar onde eu me encaixava nessa trama toda, estava tão concentrada ali olhando que não percebi que a Morrigan estava ao meu lado.

— Eu... Não sei por onde começar.

— Porque não vamos partes... — aponto para Shimazu, Furui e meus pais que tem ali no canto e escuto o seu suspiro.

— É melhor se sentar — ela aponta para um dos sofás e agora que percebo que estamos sozinhas aqui dentro.

Pelo jeito o assunto é bem delicado, já que ela abre e fecha a boca diversas vezes e no final decide me entregar uma pasta grossa cheia de fotos e relatórios, a cada página lida ela se encolhia mais no sofá.

Ali tinha estava contando sobre o Shimazu, seu casamento com a mãe da Morrigan que foi executada quando a Morrigan tinha apenas doze anos de idade. Foi impossível não olhar com empatia, já que foi ela que encontrou o corpo da mãe e com o recado que me fez tremer.

"Essa, sua filha, posso não tocar, mas vou me divertir com a sua caçula"

Um frio percorreu a minha espinha, afinal quem assinou o bilhete foi o próprio Furui. Antes mesmo que eu perguntasse alguma coisa, ela apenas me mandou continuar a ler.

Shimazu teve um caso com uma ceifadora, pelo que entendi ela estava hierarquicamente entre o Otto e o Uragiri, ela era russa e infelizmente acabou engravidando.

Essa gestação foi escondida de todos e até hoje é um assunto proibido, a cada letra que eu lia minhas mãos tremiam mais, mas quando peguei a foto da mulher meu mundo desabou.

Eu não estava conseguindo respirar quando a minha mente só rodava, perdi as forças das minhas pernas e por mais que eu tentasse ficar firme tudo estava rodando. Consigo ainda ver a Morrigan me segurar e mexer a boca, porém eu não consegui escutar nada.

— Meu amor respira — Otto segura o me rosto enquanto coloca a sua testa colada a minha — Não está sozinha, estou aqui com você... — nessa hora eu queria gritar, pois o ar não entrava e meu corpo estava mole — Respira comigo.

As suas mãos seguram as minhas contra o seu peito e aos poucos consigo voltar a respirar assim como percebo que as mãos do Otto estão bem quentes, mas tenho consciência que eu que devo estar suando frio.

A minha cabeça começa a rodar novamente, mas agora eu o abraço com força não querendo me deixar levar pela sensação novamente, mas a imagem daquela mulher ainda estava bem nítida na minha frente.

— O que aconteceu aqui? O que fez com ela? — ele tentava controlar o tom de voz, porém sei que se não estivesse abraçada ele teria certamente se levantando contra a Morrigan.

— Não tive coragem de contar ta legal — ela estava andando de um lado para o outro e percebi que ela não conseguia nem chegar perto da pasta.

— Pega — mesmo tremula e ofegante eu preciso terminar de descobrir de uma vez.

Otto relutou e falando alguma coisa em outro idioma a Morrigan pega e me entrega a pasta, a careta que o Otto fez enquanto a Morrigan ainda resmungava acabou me tirando um riso fraco, pois tenho certeza agora que é um xingamento.

Entrego a foto ao Otto que agora me olhava espantado e pelo jeito ele deve saber de alguma coisa, mas não presto atenção nele e sim na pasta nem estava pela metade.

Shimazu tentou de todas as formas proteger a mulher e a criança, mas quando a sua esposa descobriu planejou a morte das duas tanto da mulher como da criança e sinceramente tive que me segurar novamente.

— Está querendo me contar que a sua mãe matou a minha? — não conseguia olhar para a Morrigan, mas pelo barulho dela caindo no sofá eu estava certa — Durante todo esse tempo os meus pais que tentaram me vender a todo custo eram apenas aleatórias?

— Não, bichinho, eles deviam ao meu pai e ele acreditou que você estaria segura — amasso os papeis com raiva, afinal segura foi a única coisa que nunca estive — Não começa, eu só descobri tudo isso por conta da sua ligação.

— MENTIROSA — me levanto pronta para pular contra ela, mas Otto me segura — Você sempre soube de tudo, pode não ter certeza que era eu, mas sempre soube que a sua mãe tentou nos matar.

— E COMO PREÇO ELA MORREU SUFOCANDO NA MINHA FRENTE, POIS O NOSSO PAI SEMPRE PREFERIU VOCÊS DO QUE EU — apesar de estar gritando as lágrimas escorriam dos seus olhos e em desespero me solto do Otto abraçando a Morrigan.

Ali ela chorou tão forte que agora eu que estava a acalmando, não posso negar que o sentimento de querer aparar ela estava bem forte em mim e sinceramente agora entendo o motivo de implicarmos uma com a outra.

— Ainda vou te chamar de mimosa.

— Cala a boca bichinho.

— Muito lindo descobrir que o meu noivo já comeu a minha meia irmã, mas onde tudo isso se encaixa nessa bagunça? — Otto acaba engasgando com o ar assim que termino de falar, mas os meus olhos estavam fixos na Morrigan que também não desviou em nenhum momento.

Fugindo DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora