Fugindo Dele

55. Seja Feliz

A imagem do Druga me falando que me ama e depois o sangue e seu corpo caindo sobre o meu me fez acordar gritando, mas se não bastasse todo o meu escândalo aqueles apitos de máquinas hospitalares quase me deixou surda.

Assim que senti duas mãos nos meus ombros, outro grito saiu da minha boca, eu sentia o meu corpo tremer e doer em uma intensidade que nunca senti na minha vida.

— Minha menina está a salvo, agora olhe para mim — a voz baixa do meu pai chamou a minha atenção e quando nossos olhares se encontraram eu comecei a chorar.

— O que aconteceu? — a voz do Itoko apenas intensificou o meu choro, ao ponto de não conseguir falar nenhuma palavra — Ela está em choque.

— Não vai deixar ela sedada — o tom mais firme some completamente quando ele se vira para mim novamente — Ficar dormindo não vai fazer bem a sua mente, mas preciso que se acalme para que o seu corpo se recupere, por favor Iris.

Forço a respiração algumas vezes enquanto confirmo com a cabeça, o choro ainda é intenso, mas logo vai se acalmando e quando dois médicos entram no quarto eu acabo me agitando novamente enquanto nego com a cabeça.

— Ninguém toca nela — a voz do Itoko foi como um calmante para mim, afinal não tinha apenas o meu pai ali me protegendo e sim a minha família, afinal eu já considero o Itoko como um irmão para mim.

Com a saída dos médicos eu consegui controlar a minha respiração e fui começando a sentir a dor que era pior que o pânico. Quando fui levar a mão, meu pai as segurou sorrindo fraco.

— O que aconteceu? Cadê o Otto e o Druga? — vejo o meu pai abaixar a cabeça e novamente aqueles apitos começaram.

— Se não a deixarem descansar...

— CALA A POHA DA BOCA E SAIA DAQUI — a minha respiração estava acelerada enquanto olhava mortalmente para os médicos que saíram imediatamente.

— Uma verdadeira Partner — a voz de Anton puxou a minha atenção e logo Alexei entrou atrás segurando a risada.

— Essa não nega o gênio da família, mas vamos ser sinceros, irmãzinha você foi maravilhosa e continua sendo, porém, precisamos de você bem para o enterro — aquela merda começa apitar novamente e isso fez Alexei parar de falar, então saí arrancando todos os fios que eu via, mas agora ele mesmo segurou as minhas mãos — Eu termino de falar, agora para.

— Tem cinco segundos, TIC TAC.

— Druga faleceu, Otto está sedado em outro quarto, mas seu quadro é estável — ele solta tudo de uma vez e em resposta leva um tapa na nuca no nosso pai — Isso dói e ela queria saber.

— Pai, o Alexei tem razão — um sorriso cresce no rosto do mesmo e isso me fez sorrir também — Não vou repetir, mas a Iris não iria permanecer quieta sem informações.

— A última coisa que me lembro foi...

A minha voz some no final, pois foi como se eu tivesse lá novamente, consigo ver o Otto se forçando a levantar, a troca de olhares dos dois e o Druga pulando em cima de mim.

Estava pronta para reclamar, pois ele é pesado para caramba, mas quando vejo o sangue escorrer pelos cantos da sua boca eu paraliso, levo as minhas mãos no meu rosto e volto para a realidade.

— Aposto que aquele idiota deixou para o último momento — Anton se senta na cama enquanto as suas mãos começam uma massagem suave no meu pé — Se conheço bem o meu irmão ele disse que te ama muito e...

— Seja feliz — a minha voz embargada fez o meu pai me abraçar, desta vez o choro veio com mais calma.

Quando abri os meus olhos já estava escuro e no canto do quarto estava o Itoko dormindo e na janela o meu pai, me mexi na cama e isso chamou a atenção dos dois que logo se aproximaram.

— Como ele está?

— Vivo, mas delirando ainda — Itoko me responde e antes que eu possa pedir ele já se antecipa — Ainda não, os dois tiveram lesões gravíssimas, mas o Otto...

— Quase morreu, eu vi — completo a sua frase respirado fundo depois — Já aconteceu o enterro pai?

— Não, estávamos esperando por você, mas como o tempo estava passando optei por cremar o seu corpo, com isso você continua descansando para comparecer à cerimônia.

Mesmo não sendo uma pergunta, eu confirmei com a cabeça, respiro fundo novamente enquanto a minha mente trazia aquelas imagens todas de uma vez, Shimazu, Morrigan e até mesmo do Druga morrendo enquanto segurava o meu rosto.

— Aquele idiota poderia ter me falado aquilo antes.

— O que teria feito? — meu pai pela primeira vez sorria desde que acordei.

— Teria batido nele para parar com essa cena toda — a minha fala causou um riso baixo dos dois, mas quando perguntei o que aconteceu comigo, Itoko me deixou sozinha com o meu pai.

Aquelas adagas estavam banhadas em venenos e por pouco o meu corpo não entrou em colapso, porém as cicatrizes vão permanecer, agora entendi o motivo do meu corpo estar enfaixado.

Mas logo um sorriso cresce no meu rosto, pois agora também tenho cicatrizes assim como o Otto. Levo as minhas mãos até as faixas, mas desta vez o meu pai não me segurou, ao invés disso ele as conduziu até a minha barriga.

— Por mais que tenha sido apenas um corte superficial o veneno entrou e pode ser que não consiga engravidar ou manter a gestação.

— Posso lidar com isso, pai — o seu olhar mudou de preocupado para curioso em questão de segundos — Adoção, mesmo que os meus planos não seja de ser mãe no momento eu não me prendo se serei eu a gerar ou não.

— Fico mais tranquilo, agora precisa descansar — seguro a sua mão em um pedido mudo e pelo jeito deu certo — Não me olha assim, ele está sedado e você precisa se recuperar.

— Por favor, pai...

— Ihhhhh pronto, nem acordou e acha mesmo que pode nos dobrar? — Alexei entra no quarto com uma bandeja de comida.

— Ele está falando isso, mas nós três aqui sabemos que sim, você vai conseguir tudo o quer inclusive ver aquele que ainda está delirando e chamando por você — Anton completa a frase do Alexei fazendo nosso pai o olhar feio, mas quando puxei a sua mão a sua expressão suavizou.

— Se alimente e durma — ele respira fundo e depois dá um beijo na minha mão — Daí eu levo você até onde está o Otto.

Anton pisca para mim de forma mais discreta e avisa que o turno é dele, já que estou bem e não corro o risco de morrer na sua responsabilidade, acabo rindo e entrando na sua fazendo que o meu pai concordasse.

— Não a machuque — Alexei sussurra antes de fechar a porta, apenas confirmando que ele já havia pego no ar que vou dar umas voltas durante a madrugada.