14. Pode escolher

5 1 0
                                    

Não conseguia parar de me olhar no espelho após colocar o vestido, era como se fosse outra pessoa. Escuto Otto me chamar e quando escuto a sua voz se aproximando a minha respiração se acelera.

— Roxinha, está demorando... — a sua voz some no final e a passos lentos ele vem até o espelho ficando atrás de mim — Você está maravilhosa.

— Obrigada — a minha voz era baixa assim como a dele.

Os seus dedos tocaram a lateral do vestido que deixava a minha pele a mostra e pude perceber que a sua sobrancelha se ergueu, mas como ele não falou nada eu não insisti para saber.

Ele se afasta pegando uma caixa de veludo que estava na gaveta e quando abriu eu cheguei a dar alguns passos para trás, era um conjunto lindo de colar e brincos, não sei desde quando está ali, mas são maravilhosos e devem custar uma fortuna.

— Imaginei que iriam ficar lindo em você, mas espero que me perdoe — ele tirava o colar enquanto falava — Eu realizei modificações neles.

— Tem um rastreador? — pergunto revirando os meus olhos e a sua risada foi a minha confirmação.

— Também, mas principalmente uma câmera de vídeo e áudio.

— Isso não tem graça e quando eu for ao banheiro? — ele apenas deu de ombros — Idiota.

Puxo o meu cabelo para o lado suspirando enquanto ele colocava o colar, quando fui pegar os brincos ele deu um tapa na minha mão leve negando com a cabeça novamente revirei os olhos.

— Você revira demais os olhos.

— Melhor do que falar o que eu penso.

— Pode apostar, eu adoraria ouvir.

Apesar de ele ter mãos grandes, ele conseguia ser delicado e muito rápido, tanto que já tinha colocado os brincos e teve tempo de sussurrar no meu ouvido apenas para ver a minha pele se arrepiar.

Optei por falar mais nada, as coisas já estavam muito esquisitas ultimamente. Já havia escurecido completamente quando saímos e com isso o tempo mais fresquinho me fez tremer um pouco.

Otto não pensou duas vezes e tirou o seu smoking e colocou sobre os meus ombros. Já dentro do carro eu joguei ele por cima do meu corpo tampando o que a grande fenda deixava a mostra.

Mas quando fui descer entreguei primeiro o smoking e percebi a sua careta encarando a minha pele a mostra, mas ele rapidamente se recompôs não me dando tempo nem de tirar sarro dele.

— Não confie em ninguém — foi a última coisa que ele me falou antes de entrarmos no grande salão e todos os olhares se voltarem para mim.

Como ele havia me falado, algumas pessoas se aproximaram e sempre todas muitas sérias e formais. Isso me trazia péssimas lembranças, mas assim que vi a mimosa se aproximar fiquei extremamente grata.

— Olha o bichinho chegou — pelo jeito o seu comentário não agradou aos outros homens que estavam conversando com o Otto.

— Como vai mimosa? Já aprendeu que não deve empatar a foda de ninguém? — Otto chegou a se engasgar enquanto me puxava pela cintura.

— Mimosa? Então sou primorosa e perfeita aos seus olhos bichinho?

— Na verdade, é no sentido de vaca mesmo, mas tenho outros se preferir como mocreia, bruaca, trubufu, canhão, jaburu, ou seja, pode escolher — não deixei o meu tom de voz mudar em nenhum momento, mesmo quando percebi o sorriso dela sumir e os risos serem abafados.

— Querida... — Otto mantém a sua mão na minha cintura, então consigo sentir o seu corpo tenso.

— Não, a deixei terminar eu...

— Já chega Morrigan — um dos homens, a interrompe enquanto ela abaixa a cabeça, ele me olhava intensamente agora, mas eu não abaixei o meu o olhar e isso fez ele sorrir — Muito prazer, Iris, sou Shimazu.

— Olá, Shimazu.

— Devo dizer que está magnifica esta noite — apesar do tom malicioso, ele não tirou os seus olhos dos meus.

— Obrigada.

Me limitei a dizer o mínimo possível, pelos olhares que a mimosa dava para esse homem, esse deve ser o pai dela e pela sua voz é o mesmo que foi bater na nossa porta quando chegamos.

Ao todo eram cinco homens com uma idade um pouco mais avançada, somente Shimazu era oriental assim como o Otto, mas a postura deles eram iguais. Com apenas o olhar eles conseguiam afastar ou chamar qualquer pessoa.

Já estava ficando entediada com a conversa deles que por mais quebradas que sejam as informações não passavam de fofocas, o lado bom é que a Morrigan finalmente sumiu da minha vista.

Otto estava calado sempre com a mão na minha cintura, mas quando o assunto casamento foi mencionado eu precisei fazer alguma coisa, mesmo não sendo o que exigi logo de início eu não poderia fechar os meus olhos depois de tudo o que descobri.

— Estamos noivos ainda — a minha resposta chamou atenção de todos, mesmo que a minha voz baixa.

— Isso é muito interessante — a resposta de um dos homens que olhava diretamente para o Otto estava carregada de sarcasmo.

— Sim, mas é questão de tempo — me mantive firme por fora, mesmo que por dentro estivesse tremendo.

— Estamos cientes do seu passatempo — Shimazu me responde mais ácido do que o necessário, mas eu apenas sorri, ele não deve ter gostado nem um pouco do que falei para a filhinha mimosa dele.

— Mas com Otto é diferente — eles se olham e fiquei com receio por ter falado o seu nome, mas ele apenas sorriu para mim me dando um beijo na minha testa.

— Eu a acho e dependendo da situação até mesmo ajudo a fugir — não era a primeira vez que ele me defendia e até mesmo apoiava e naquele momento me senti culpada por não ser verdadeiro o nosso relacionamento.

Os meus pensamentos estavam me deixando zonza e não conseguia mais prestar atenção no que eles falavam, eu precisava de ar, não, eu precisava sair dali quanto antes.

Foi neste momento que pediram para falar em particular com Otto e um dos homens de confiança ficariam me fazendo companhia, Shimazu o apresentou como Uragiri.

Isso certamente não era a melhor saída, mas não tínhamos como negar. Otto apenas me olhou em pânico e como apenas fechei um pouco mais dos meus lábios para garantir que vou ficar de boca fechada.

— Me acompanhe por favor.

Fugindo DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora