4. Roxinha

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Saí andando da rodoviária e percebi que já tinha algumas pessoas me seguindo com o olhar, mas tento evitar ao máximo que estou com a bolsa cheia de dinheiro, esse mesmo dinheiro que roubei do cofre dos meus pais.

Sempre tem dinheiro no cofre das propinas que eles recebem ou tem que pagar, isso quer dizer que alguém vai ficar sem pagamento, que dózinha deles... Mentira não sinto nada e se tiver consequências eles que lutem, quem mandou querer me vender para um maníaco.

O cheiro de lanche invade o meu cérebro e até esqueço da minha situação, isso é divino, nunca vou me cansar de comer esses lanches que são feitos assim nos calçadões, se bem que cidade grande quase não encontra.

Isso me lembra que preciso arrumar um lugar para ficar, porém, estou sem documentos e não tenho nenhum conhecido, mesmo que tivesse não posso pedir ajuda, eles serão os primeiros que os meus pais devem procurar para saber onde estou.

Quando já estou quase terminando o meu lanche, os meus olhos avistam quatro homens me olhando a distância, merda... Para onde eu vou agora? Se entrar em alguma loja eles vão chamar a polícia e ela me leva de volta.

Levanto e começo a andar rápido entrando em um shopping que tem aqui no centro, quanto mais rápido eu vou, menor é a nossa distância, eu esperava que o shopping fosse cheio de gente e de lojas, onde eu pudesse me misturar e sair pela outra porta.

Porém, encontrei o último andar quase vazio e quando percebi eles já estavam me empurrando para as docas, eu precisava pensar rápido ou seria morta por eles, pois aguentar calada o que seja que eles querem fazer eu não ia.

Eles começam a falar muitas imundices para mim, ou melhor, de mim, do meu corpo enquanto tentavam tirar a minha mochila, mas eu segurava firmes as alças, mas quando eles pegaram umas facas, canivetes, eu sei lá o que era aquilo, só sei que se me acertarem eu vou sangrar e vai doer muito, me vi em completo pânico.

Um deles tenta puxar a alça enquanto o outro puxava a minha blusa, eu não conseguiria proteger os dois, então segurei a alça já que ainda ficaria com o sutiã, assim que a minha blusa rasgou a porta foi aberta com tudo.

Fui empurrada para o canto mais fundo daquela doca enquanto os quatro foram para acima daquele homem, ele se livrava dos golpes como se não fossem nada e não durou nem cinco minutos a tentativa de pancadaria já que eles só apanharam.

— Está ferida roxinha? — ele se aproxima me fazendo me encolher enquanto seguro a bolsa mais forte — Ei... Sou eu...

— Otto? — no momento que ele tira o boné que percebo que ele é asiático, como não havia reparado ontem? Ahhh me lembrei, eu estava ocupada enquanto fugia.

— Sim, vem vou te levar para um lugar seguro e por favor não fuja desta vez... — dois dos homens se levantam me ofendendo, ele apenas nega com a cabeça e logo retira uma arma e atira nos quatro, mas o único barulho que escutei foi dos corpos caindo no chão — Vem comigo.

Ele nem precisou terminar de falar que eu já me levantei e fui até ele, mancando já que havia torcido o pé, mas fui enquanto ele me olhava de cima a baixo, logo retirou o seu moletom e a camiseta, o seu peito e braços tinham várias tatuagens que eu não seu decifrar o que era, mas estava levando a mão para tocar quando ele me dá coloca a camisa na minha mão.

— Desculpa.

— Não as toque, vista logo a camiseta, pois temos que sair daqui e andar, se conseguir.

— Consigo andar — coloco a sua camiseta e o perfume invade os meus sentidos, me forçando a não fechar os olhos.

— Tem certeza?

— Não vou ficar aqui, então tenho sim.

— Suba nas minhas costas — ele se abaixa na minha frente e como eu não mexo ele acaba sorrindo — Roxinha...

— Iris, não sou roxinha.

— Mas até onde eu lembro a flor íris é roxa, agora roxinha ou você sobe nas minhas costas, ou vou te jogar nos meus ombros como se fosse um saco.

Dei alguns passos respirando fundo e subi nas suas costas, ele saiu andando como se ninguém tivesse olhando, enquanto eu escondia o meu rosto contra o seu corpo.

Não demora muito ele entra em um estacionamento escuro e isso me fez me encolher mais ainda, pelo menos serviu para o distrair já que ele estava rindo do meu medo.

De qualquer forma, quando ele me colocou no chão e me manda entrar no carro, claro que não neguei, mas dentro do carro questionei sobre a forma como ele derrubou todos sem nem fazer esforço, estava tão concentrada elogiando os seus movimentos que não percebi que ele ficou tenso.

— Pode me ensinar Otto?

— Não ficou com medo?

— Medo eu fiquei antes de você chegar, agora pode me responder?

Ele não me respondeu verbalmente, mas enquanto me olhava durante um sinal vermelho acabou confirmando com a cabeça. Eu devo ser muito louca ou completamente sem juízo, o cara acabou de matar quatro na minha frente.

Tudo bem que eles iam fazer muito pior comigo, mas quem garante que ele não vai fazer nada comigo? Mesmo elogiando o ego dele, a sua concentração não baixa nenhum segundo.

Ele deu tanta volta com esse carro que eu já não sei nem mais onde estou, muito menos como posso sair daqui. Seu carro entra de uma vez dentro de uns prédios espelhados e quando entramos no elevador ele foi para o vigésimo oitavo andar.

— Caramba, é alto.

— Para você não ter para onde fugir — travo com o seu comentário e isso o fez rir nasalado — Não pode negar roxinha que sua fama de fujona a procede.

— Como sabe disso? — quando percebo estou o empurrando com as mãos, ele também ficou surpreso, mas ainda sentia a raiva percorrer o meu corpo.

— Te encontrei fugindo, depois você fugiu de mim, tentou fugir dos quatro e tenho certeza que já está pensando na sua próxima fuga — tentei me afastar, mas ele me segurou a minha mão me mantendo próximo a ele ao ponto de conseguir sentir que tanto eu como ele estávamos com a respiração alterada.

Fugindo DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora