Fugindo Dele

47. Me assumir

Eu precisava de um tempo para digerir tudo e tive esse tempo, o quarteto formado pelo Wenyi, Druga, Itoko e Otto não permitiu que ninguém chegasse até a mim.

Por cinco dias eu fiquei revendo todas aquelas informações, mas no final o painel estava completamente diferente. Exclui, acrescentei e até mesmo organizei tudo conforme eu conseguia compreender melhor a situação toda.

Não precisei nem pedir para que ninguém entrasse naquele escritório já que eles mesmos já entenderam que não estava com tempo e disposição para explicações, no entanto, eu não consigo fazer nada sozinha, então os chamei e em silêncio cada um foi lendo e interpretando o novo painel.

— Não sei qual é plano, mas eu estou dentro — Wenyi foi o primeiro a falar enquanto sorria.

— Você sempre está dentro — Druga o empurra sentado no sofá também rindo baixo, a parte boa desses dias que fiquei aqui praticamente confinada é que eles finalmente se tornaram amigos, ou pelo menos conseguem conviver agora sem querer se matar.

— Claro, a chefa sempre me deixa me divertir — o seu sorriso psicopata do Wenyi apenas crescia com as suas palavras — Sendo da Rússia ou não, saiba que a Tríade está ao seu lado — ele pisca para mim, fazendo Otto chutar o seu pé em forma de advertência, o que parece dar certo já que ele se calou depois disso.

Itoko foi o único que não ficou olhando o painel e sim a mim, ele sabe muito bem como a minha mente funciona, então já está ciente que vou revidar tudo o que já me foi feito.

— Antes de me lançar completamente nessa missão, preciso me assumir para o mundo...

— Finalmente vai assinar Partner — Druga se levanta sorrindo, mas Otto o empurra de volta para o sofá me fazendo sorrir.

— Também, porém, estava me referindo ao casamento com Otto.

— Estava apenas esperando você comentar, o casamento na nossa tradição já estava completamente pronto, mas devido às informações recentes já tomei a liberdade em acrescentar alguns ritos da cultura da sua família biológica — Itoko simplesmente muda a tela do painel mostrando toda a decoração, disposição dos convidados e até mesmo os ritos que são dispensáveis e os que ele considera ser importante.

Sinceramente eu não esperava que ele tivesse tudo isso pronto, mas acabei o abraçando enquanto agradecia, ele de início ficou todo envergonhado, mas não se deixou levar pelas implicâncias do Druga.

Pedi apenas para ele considerar os convidados, já que não tenho ninguém para chamar, porém, ele me garantiu que isso não é o problema, já que os convidados que foram selecionados são intencionais.

Ali ele deixaria as claras para mim apenas quem é leal, que posso contar em uma eventual necessidade, claro, cada um em seu setor, mas ainda, sim, ficaria mais fácil de identificar assim como eu havia elaborado no painel.

Para a minha surpresa o Druga deixou a minha escolha se chamaria a minha família e os conselheiros, afinal a partir deste momento eu assumo também a máfia russa e os negócios da família, deixando Druga apenas como o meu consigliere.

Não estava esperando que um simples casamento fosse me causar tudo isso, mas Otto apenas me abraçou sem falar nada, nem precisava de palavras, sei que posso contar com ele.

Druga me pediu permissão para chamar todos, isso apenas me confirmou o que o Otto me disse no quarto, a família realmente me apoia, mas e se quando me conhecerem pessoalmente, não for tudo o que imaginaram?

E se eles me obriguem a voltar com eles? Os meus olhos vão para o Itoko e o Otto que parecem entender as minhas perguntas e já se adiantam que nada nem ninguém vai me forçar a nada.

— Yad, por favor, nunca pense que vamos impor nada a você — Druga me puxa dos braços do Otto enquanto segura as minhas mãos — Você é a nossa princesa, a nossa menina, a nossa irmãzinha e se esse imbecil te fazer chorar vamos picar ele — isso me fez rir baixo.

— E onde está aquele papo de irmão de consideração?

— Sumiu desde o momento que descobri que você é a minha irmã, sabe como é... Prioridades — agora éramos nós dois que estávamos rindo.

Druga aproveitou para ligar para eles na minha frente e quando mandou todos falarem o meu idioma a ligação ficou em silêncio e logo uma voz masculina mais velha fez algumas lágrimas caírem sem permissão.

O vocabulário deles eram bem limitados, mas mesmo assim ficou claro que eles estavam se esforçando. Nessa ligação também fiquei sabendo que eles são mais sensatos e preocupados comigo do que eu imaginava.

Já que eles levantaram a possibilidade de descobrirem a minha verdadeira identidade, a preocupação era a minha segurança, mas se for para fazer que seja bem feito.

— Não vou ter convidados, mas se acharem que é inconveniente...

— Meu amor, não termina essa frase, vamos estar aí amanhã assim que você acordar — em seguida escutei uma gritaria que fez Druga sorrir muito mais e Itoko se jogou na cadeira.

— Eles estão comemorando que encontraram a princesa perdida — Otto me abraçava e quando ele ergueu a minha mão que percebi que estava tremendo — Vamos nos desligar de tudo por enquanto.

— Eu cuido de tudo roxinha — Itoko pisca para mim enquanto o seu sorriso me passou confiança.

Uma movimentação já começou, assim como alguns jornalistas começaram a aparecer no portão. Morrigan e Uragiri simplesmente desapareceram e sinceramente espero que se mantenha assim.

Já no jantar Itoko me avisou que amanhã após o almoço será a degustação, mas apenas a menção de toda a comida fez o meu estomago revirar, aquela proteção e apoio que Druga comentou, consegui ver ele demonstrar na prática.

Ele assumiu a conversa afirmando que nem vai tomar café da manhã para ter certeza que vai comer bastante, era estranho ainda mais pelo tempo que o conheço, mas eu conseguia me sentir a vontade com ele.

Não fiquei muito ali com eles, na verdade, não consegui ficar em canto algum. A minha mente ainda vagava por caminhos de rejeição, eu nunca fui acolhida como estou sendo agora, então o meu receio é ser jogada fora assim que me acostumar.

— Eles te amam — a voz do Wenyi era baixa, como uma forma de não me assustar, já que estava sentada sozinha em umas das cadeiras que ficava na varanda lateral.

— Eu...

— Não está acostumada? — confirmo com a cabeça, mas ele apenas sorri e se senta ao meu lado enquanto respira fundo — Eu consigo te entender, sou o mais novo e sempre fui cobrado para ser o melhor já que o meu irmão mais velho começou a se parecer muito com o Furui.

— O que aconteceu?

— Coube a mim eliminar essa ameaça — ele não me olhava, mas pela sua voz consegui perceber que não foi fácil — O que me apeguei é que ele nunca seria um escroto como o Furui foi e agora descubro que ele conseguiu fazer algo que presta, mas o assunto não é a minha família e sim você, quero dizer que a lenda da princesa perdida é mais antiga do que pode imaginar e acredito que vão te proteger, mas sem te machucar.

— O meu medo é não ser suficiente — Wenyi explode em uma gargalhada e isso me fez sorrir.

— Olha Iris, você é muitas coisas, mais insuficiente eu tenho certeza que não é, agora respira fundo e curte o seu casamento e a nova vida, Shimazu vai se enforcar sozinho, você só precisa ser paciente — Wenyi não falou mais nada, mas também não saiu do meu lado, não sei quanto tempo ficamos ali, mas me levantei apenas quando senti o sono chegar.