56. Um convite tentador

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Com muito cuidado e carinho Anton me ajuda a comer, sempre me lembrando do acordo, que não vou dar trabalho depois para comer ou repousar, cheguei a reclamar que não sou criança, mas assim que ele me entrou um doce acabei sorrindo.

— Já que não tive o prazer de te mimar quando criança, me deixa fazer isso agora.

— Era você na janela? — ele trava no meio do caminho e isso já foi a resposta que eu precisava — O que aconteceu?

— Eu...

— Por favor Anton, não me esconda nada.

— Promete que não vai surtar ou usar isso contra mim depois? — confirmo com a cabeça mesmo sabendo que dependo do que ele me fale vou usar sim contra ele, mas pelo seu sorriso ele também sabe.

Após suspirar algumas vezes ele finalmente cedeu e se sentou nos pés da cama, me explicando que apostou com o Alexei que eu ainda estaria ali para dar o último até logo, mas ao invés disso ele viu apenas a arma na minha cabeça.

Percebo que o seu tom de voz altera quando ele começou a contar que precisou usar a força para conseguir fazer o jato voltar e sinceramente não quero nunca conhecer o piloto, pois ele já deve ter raiva de mim.

Quando a última médica passou, ela retirou todos aqueles fios que me conectavam com as máquinas barulhentas e informou que a cadeira de rodas iria me machucar, mas Anton garantiu que daria um jeito, ela precisava apenas manter o corredor vazio por algumas horas.

Ao ver ela saindo precisei segurar a risada, já que Anton deu um tapa forte na sua bunda e agora entendi como ele conseguiu os meus passeios, mas quando ele se voltou para mim não me aguentei e explodi em gargalhadas.

Quando já passava das três da manhã escutamos três batidas na porta e de acordo com o meu irmão esse era o sinal, não me atrevi a tirar mais sarro dele, pois ele me ameaçou de não me levar para ver o Otto, então minha única saída era concordar.

Ele me pede para dizer se estiver doendo o que for e não esconder nem mesmo um incomodo se quer, assim que confirmei ele me pega no colo e me leva até o quarto do Otto onde a médica segurava a porta aberta.

Aquela imagem me quebrou, afinal ele além de estar sedado estava entubado também. Com carinho ele me coloca sentada na cama e quando consigo tocar na mão do Otto os aparelhos começam a apitar.

— Sou eu, meu amor, eu estou bem — a minha voz estava embargada enquanto algumas lágrimas escorriam sem permissão — Precisa se recuperar logo, eu preciso do meu marido de volta.

— Eu estou aqui — Anton reclama me fazendo rir e como se fosse um calmante os apitos diminuem, chamando atenção da médica que me pede para continuar conversando enquanto ela o examinava.

Continuei contando que sai fugida do meu quarto para conseguir ver ele, contei sobre o meu pai e até mesmo do doce, neste momento até a médica riu e logo em seguida me pediu desculpas.

Quando fiz uma careta de dor, ela me lembrou que já havia se passado quase duas horas e agora eu precisava descansar, mas o que me deixou tranquila foi saber que a minha visita melhorou o quadro clinico do Otto e que ela vai me ajudar a vir mais vezes e sem ser escondido.

Assim que entramos no quarto, demos de cara com o nosso pai, que só se acalmou quando me viu sorrindo e me acomodando novamente na cama. Ele deu uma bronca enorme em nós dois, como se fossemos crianças e tivéssemos saído escondido para brincar.

Pelo menos foi assim que sempre imaginei que seria, mas assim que pensamento passou ele acabou suspirando e aceitou o fato que Otto ter entrado na minha vida foi a melhor coisa para ele.

— Tem mais alguma coisa, não tem? — a minha voz já estava mais arrastada por conta do sono.

— Eu queria que viesse passar um tempo na Rússia — acabo me levantando com tudo isso causa algumas pontadas de dor — Não definitivo, nunca vou lhe prender, mas ficaria mais tranquilo sabendo que posso matar qualquer um que te olhe torto.

— Não vou tomar essa decisão sozinha, mas também não gostaria que fosse já que da última vez eu perdi até o meu irmão — a minha voz era apenas um fio, não consegui forçar que saísse mais alto ou iria começar a chorar novamente.

Anton percebendo isso confirma que eles não vão a lugar algum até que me convença a ir com eles, essa sua afirmação fez o nosso pai começar a rir e soltar a informação que o piloto pediu para sair já que Anton o ameaçou de jogar lá de cima.

Ele apenas desviava o olhar e isso me fez rir baixo, já que essa parte ele ocultou, mas isso foi ingenuidade minha acreditar que ele não iria fazer nada intenso para conseguir.

Os dois continuaram conversando assuntos aleatórios e até mesmo das empresas até que finalmente cai no sono. Quando acordei apenas o Itoko estava ali e pela claridade já era bem tarde.

Ele me avisou que a Morrigan está desaparecida, mas que a ameaça dela havia chegado "Ela vai terminar o que começou" que seria me matar, então estou de volta à bolha.

Com isso consegui entender o pedido do meu pai para ir com ele para a Rússia, lá ela não conseguiria chegar em mim tão facilmente, contei isso para o Itoko e ele concordou que seria uma ótima ideia.

Mas enquanto Otto não acordar para ir comigo, ele vai acionar as máfias e pedir para que elas fiquem atentas a qualquer presença da Morrigan. Isso me deixou mais tranquila, ainda mais quando ele me prometeu que se for para a Rússia ele vai junto.

Nunca que vou deixar ele aqui sozinho, quando ele reclamou que não iria ficar muito tempo eu acabei batendo nele ou tentando já que não consegui sair daquela cama ainda sozinha.

Para a minha surpresa os dias passaram muito mais rápido, durante o dia pelo menos uma hora e ficava no quarto com o Otto que mesmo com a recuperação mais lenta já não estava mais entubado e deveria acordar a qualquer momento.

Mas não o suficiente para ele estar ao meu lado na celebração do Druga, isso eu tive que fazer sozinha, ou quase já que até mesmo Itoko avisou que viria comigo. Isso abriu uma brecha enorme ali no hospital, a mesma que eu mais temia e cogitava tanto ir para Rússia.

A Morrigan conseguiu entrar e pretendia me aguardar o meu retorno no quarto do Otto, ela só não contava que eu não estou sozinha e neste caso não estava falando da Rússia e sim das máfias.

Fugindo DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora