59. Ele foi

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O meu corpo estava todo dolorido e o sorriso que se formou no meu rosto desapareceu quando a minha mão passou pela cama vazia. Então tudo aquilo realmente foi uma despedida.

Quando me sentei na cama, havia uma rosa e um bilhete, mas a minha raiva não me deixou chegar perto dos dois, apenas me levanto e vou tomar um banho para ver se consigo limpar os meus pensamentos.

Antes de me sentar a mesa peço para tocarem tudo do quarto e jogar fora o que estiver em cima da cama, não me importei com os olhares dos meus irmãos, apenas percebi que meu pai e Itoko mantinham a cabeça abaixada.

Se antes eu estava focada nas empresas, agora eu respirava elas, o lado bom é que agora eu realmente decidia as coisas, mas consegui sair de casa apenas na oura semana.

Não pela falta de apoio deles, mas porque eu não conseguia antes, o medo me parava na porta. Minha primeira aparição na empresa Hensei foi caótica já que eles resolveram testar a paciência que não tenho.

Itoko se manteve o meu lado assim como havia me garantido anteriormente, mas bastou apenas duas reuniões e parece que todos entenderam que não estou brincando de casinha como fui acusada.

Como o meu humor começou a mudar muito, os gêmeos deram a ideia de aumentar os treinos, mas como fiquei indisposta alguns dias com muito sono e fome, o meu pai barrou mantendo apenas o alongamento e acrescentou o Ioga como forma de me manter calma.

Para ocupar mais a minha mente comecei a aprender russo, o que me rendeu muitas gargalhadas, afinal eu falei muito errado no começo graças aos gêmeos. Para a minha surpresa, o conselho russo me pediu uma reunião presencial, mas não exigiram que eu fosse até eles.

A reunião foi marcada para daqui a dois meses, pois de acordo com eles não era importe o suficiente para saírem correndo e também não queriam me forçar a ir até a Rússia.

Hoje estou mais agitada que o normal, não sei se é pelo fato da reunião ser daqui a alguns minutos ou pelo fato de ter passado três meses sem nenhum contato com o Otto.

— Ele está bem...

— Não quero falar sobre isso — acabo cortando o meu pai e quando percebo que fui mais grossa do que deveria começo a respirar fundo me viro novamente para ele — Estou com medo, mas não quero pensar nisso, então me ajude a não pensar, por favor.

— Eu te amo Yad — meu pai dá um beijo na minha cabeça enquanto me aperta nos seus braços.

O apelido Yad permaneceu assim que o conselho descobriu que era assim que Druga me chamava, era como uma espécie de homenagem a ele e também para lembrar que sou mortal como um veneno.

Na reunião apenas o meu pai participou ao meu lado, ele foi respondendo e traduzindo tudo o que eu não entendia e consegui perceber que todos estavam se esforçando para me inteirar de todos os assuntos sem precisar de terceiros.

A minha performance nas empresas Hensei e Partner me ajudou nessa hora, já que eles comprovaram que eu tinha pulso firme mesmo não colocando as mãos nos assuntos da máfia, não diretamente pelo menos.

Pedi uma pausa na reunião já que aquele mal-estar estava ali presente novamente, uma náusea que não passava de forma alguma com remédios, mas como me recuso a ir ao médico eles também não me deixam tomar remédio.

— Yad, o que você encomendou? — a voz do Alexei não chamou somente a minha atenção, mas também do Itoko — Está direcionado ao Otto ou a você.

Ele coloca a caixa em cima da mesa de centro do escritório e a minha falta de paciência já fui abrindo, afinal são três meses sem saber do Otto e agora chega essa caixa.

— O troféu que você me pediu — olho para o Itoko e acabo engolindo seco com medo do que vou encontrar lá dentro, mas nada no mundo me preparou.

Assim que abri a caixa senti a minha alma sair do corpo junto com o meu grito, ali dentro tinha uma cabeça, mas era uma cabeça oriental. Não consegui confirmar quem era, pois tudo escureceu.

Os meus olhos estavam ardendo e os gritos me fez me encolher, mas a dor foi enorme me fazendo gemer e logo o rosto do meu pai me pedindo para não se mexer me deixo mais assustada ainda, afinal ele estava em pânico enquanto enforcava o médico mandando ele nos salvar.

Já não aguentava mais e tudo voltou a escurecer, tanto que das últimas vezes nem fiz força para abrir os meus olhos, mas a conversa baixa, entre meu pai e Itoko me assustou.

— Não podem mandar em mim, por lei eu mando no meu nariz — a minha, a voz era fraca e logo uma tosse me lembrou que não devo tomar água há muito tempo.

— Yad... — Itoko estava choroso e completamente tremulo — Não se mexe eu vou pegar a água.

— O que está acontecendo? De quem é aquela cabeça? Por que o meu corpo todo dói?

— Você quase sofreu um aborto — as palavras do meu pai me tirou do chão, como assim aborto, mas eu nem estava grávida? A minha expressão de dúvidas o fez sorrir — Meu amor, você está grávida e não pode se mexer para não causar um aborto, lembra que o veneno...

— Mas eu nem sabia... — coloco as mãos na minha barriga e algumas lágrimas começam a escorrer.

— Assim que tiver alta estávamos voltando para a Rússia e isso não está em negociação, a saúde de vocês é a minha prioridade e nada mais sobre aquele dia será dito.

— Quantos dias estou aqui? — não teimei em perguntar nada para o meu pai, ele já estava nervoso o suficiente.

— Duas semanas, o médico me disse que assim que acordasse ele já iria te liberar, desde que o repouso absoluto permaneça depois.

— Só vou se Itoko for junto — meu pai me olhou com uma cara tão feia que cheguei a me encolher na cama.

— Eu disse que não está em discussão — os meus olhos procuram o Itoko, mas ele sorri para mim em forma de consolo — Isso vale para ele também, achou mesmo que vou te aguentar em repouso absoluto sozinho?

— Pai... — por mais indignada que eu estivesse, eu estava feliz por saber que ele estaria comigo.

Eu estava inquieta esperando apenas a oportunidade de pressionar o Itoko e ele percebeu isso, já que deu um jeito de colocar o meu pai atrás dos médicos nos deixando sozinhos.

— Itoko, por favor me diz quem era aquela pessoa, no susto eu consegui ver apenas que era um homem oriental — os apitos dos aparelhos comeram a aumentar me denunciando e Itoko apenas me abraçou.

— Vamos conversar quando vocês não estiverem mais em risco — acabei respirando fundo, afinal confio nele e sei que ele vai me contar, a sua mão toca na minha barriga e o seu sorriso só aumenta assim como o meu.

— Vamos hoje à noite — o meu pai entra puxando o médico pelo pescoço, enquanto sorria, fazendo o Itoko segurar a risada, enquanto eu sabia apenas pedir para ele soltar o médico.

Fugindo DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora