Candyshop

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Conseguir o dinheiro foi a parte fácil, libertar Hart que estava sendo complicado. A situação do loiro era difícil porque ele já tinha sido pego em flagrante antes, mas Handerson me garantiu que conseguiria libertá-lo, nem que fosse para responder as acusações em liberdade. Quanto a meus meus avós, eles não souberam de nada. Disse-lhes que precisava tirar o dinheiro da minha poupança para ajudar uma amiga a ir para uma viagem acadêmica que seus pais não podiam pagar, e depois de passar por um questionário, ao qual respondi com minhas melhores mentiras, recebi o dinheiro.

Os dias foram passando, a escola era chata, o rancho monótono, e eu raramente falava com alguém de New York, Marly nas poucas vezes que fez contato foi um pouco monossilábica e...Toddy, eu esperei que ele tentasse falar comigo, afinal nós meio que namorávamos. No fim das contas até entendo seu sumiço, depois de tudo era o mais certo a se fazer, mas Toddy nunca foi se fazer o certo. Bom, de qualquer forma, eu tenho suportado como consigo. Matar aula no banheiro da ala leste, passar o intervalo conversando com Emily e Caroline e sair com aquele grupo de deslocados eram de longe meus melhores momentos. Afinal, as festas estavam interditadas por um tempo, porque a polícia estava de olho em todos. Mas, isso não quer dizer que não podíamos fazer nada.

O céu se abria azul sem nenhuma nuvem, o vento fazia meus cabelos flutuarem atrás de mim e o clima era mais ameno, já que o outono se aproximava. Inspirei olhando para o telhado reto dos prédios na cidade, estávamos sobre a laje do sobrado da bomboniere em que Sugar trabalhava. Era domingo, e como os comércios haviam fechado desde cedo e ele era funcionário, ficava com as chaves. Então foi só Joker e Coby trazerem as bebidas.

Sentados em cadeiras de armar, com garrafas de vodka, rum e gim embaladas em sacos de papel, latas de refrigerante e energético e alguns maços de cigarro, olhamos o dia passar dali de cima, conversamos e rimos de coisas idiotas.

— Eu quero que essa cidade se exploda — Joker soprou.

— Eu só quero sair daqui, é difícil ser gay nessa cidade — Sugar rebateu e Rocky riu sarcástica ao seu lado e confirmou com a cabeça enquanto soltava a fumaça devagar.

— Posso apontar para você vários gays dentro daquela escola e não só nela — falei.

— Ah, tem vários, nenhum assumido — Bender disse.

— As pessoas aqui se escondem Sandy, todos tem seus demônios, suas sujeiras, seu passado podre, segredos.

— E os que não parecem são os piores — Rocky adicionou ao pensamento de Coby, que anuiu e deu um gole no gargalo da garrafa.

— É! Um brinde a hipocrisia americana — Bender ergueu sua garrafa e quem não tinha uma fez o mesmo gesto com o cigarro. Não deixei de notar que seus olhos fixaram em mim por um instante durante o brinde.

— Eu só sei podia passar o dia aqui, longe de todos, inalcançável — Rocky falou, a cabeça jogada para trás, os olhos castanhos para o céu.

— Mas a qualquer momento alguém pode entrar por aquela porta — Joker apontou para a porta de acesso, apenas uma aplicação física para a metáfora.

— Nenhum lugar te deixa inalcançável — conclui.

A morena suspirou, pude ver em cada rosto a expressão de infelicidade e lamento com a realidade.

Era isso que nos ligava afinal, a insatisfação.

— Mas a sensação é boa, não é? — Morgana inspirou com um sorriso débil, seus olhos para o horizonte, a perna apoiada sobre a cadeira.

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