The sheriff's desk

103 8 0
                                    


Faithy


Minhas conversas com Jake sobre seu dia a dia tiveram utilidade além da necessidade de saciar minha curiosidade, afinal. Eu sabia sobre os cronogramas comuns do departamento, como plantões, folgas, dias mais agitados ou dias monótonos. E aquela segunda-feira era o dia perfeito.

Entrei no impala 67 azul e disparei rancho a fora. O vento do meu rosto, eu sorria eufórica com a ideia do que ia fazer, a adrenalina correndo nas minhas veias como aquele carro corria na estrada escura sob a luz nas estrelas e da lua.

Era a minha primeira viagem habilitada. E eu queria que fosse para ir ao encontro dele. Porque foi ele fez querer aprender. E foi ele que me ensinou.

Enganar a recepcionista fingindo estar nervosa e pedindo água para deixar o caminho livre foi fácil. Então eu entrei furtivamente na área de trabalho. O cômodo pouco iluminado destacava a única sala acesa, a luz escapando entre as frestas das cortinas horizontais, e o xerife logo atrás de sua mesa. Sua posição era relaxada, o uniforme neutro contrastando com coldre de couro preto, os ombros largos, os braços fortes, ele parecia tão imponente ali, mas os olhos...eles estavam perdidos passeando monotamente pelo espaço até...até se fixarem na minha direção. Então eu vi sua postura mudar. A coluna se endireitou, os olhos se arregalaram, e os lábios sutilmente se afastaram, como se ele não acreditasse no que via.

Continuei caminhando indômita, sem pressa alguma, o fitando initerruptamente, filmando a gradação de sua postura. E o Jake que pareceu surpreso e apático, assim que cheguei à beira da sua porta, quando teve certeza de que era real, se ergueu em um rompante severo e duro.

— O que está fazendo aqui? — A voz soou gutural, e internamente eu estremeci, mas por fora...o canto da minha boca se curvou.

— Eu tirei minha carteira hoje — dei um passo adiante, me aproximando da mesa. A expressão de Jake pareceu querer suavizar. — Eu queria que minha primeira viagem fosse para vir te contar, afinal... — suspirei. —...foi você que me ensinou tudo.

Sua mandíbula, no entanto, se manteve rija e o olhar frio.

— Foi? — Ele replicou, os olhos semicerrando.

Sabia o que ele queria dizer. Então sorri e olhei para a sala. Pouca decoração, nenhum porta-retrato, apenas pilhas de papelada, computador, chaves de carro, nas paredes medalhas de mérito e honra, armários e um cabideiro com chapéus. Nada pessoal, nada que remetesse a família.

— É bom voltar aqui e conseguir observar os detalhes que não consegui da primeira vez.

De soslaio vejo Jacob inspirar fundo, parecia impaciente.

— O que você veio, de fato, fazer aqui Elizabeth?

Tento não demostrar o quanto me impacta o ouvir me chamar assim, então continuo observando o cômodo, que nessa altura já era apenas um artifício.

— Eu já disse... — comecei, mas ele me interrompeu com um fungar. Olhei para ele.

Jacob se afastou da mesa e deu a volta, se aproximando de mim. Me mantive firme, conforme ele diminuía a distância entre nós.

— Mentira — a voz soou rouca, a proximidade...seu corpo grande a meros centímetros, me fazia estremecer e esquecer até do que eu não deveria.

— Acha que eu viria aqui por quê? — Inclinei o rosto para cima. — Para ver você? — Funguei e o vi o canto da sua mandíbula oscilar. — Eu tenho namorado, esqueceu?

TENNESSEEOnde histórias criam vida. Descubra agora